Coluna

Bancos e empresas podem gastar quase R$ 21,4 bilhões a mais com dívida externa

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 27 de novembro de 2019

O
impacto da desvalorização recente do real frente ao dólar tende a ampliar os
desembolsos de bancos e empresas no próximo ano para amortizar a dívida externa
a vencer no período. Ao longo de 2020, aqueles setores da economia terão que
amortizar alguma coisa ao redor de US$ 72,154 bilhões, de acordo com previsões
do Banco Central (BC), dos quais US$ 13,050 bilhões devidos pelos bancos, mais
US$ 24,106 bilhões na conta das empresas (privadas e públicas) e outros US$
34,998 bilhões relativos a operações realizadas entre empresas (geralmente de
um mesmo grupo econômico).

Considerando
uma taxa de câmbio média na faixa de R$ 4,14 nos primeiros 26 dias deste mês,
com base no acompanhamento diário feito pelo BC, as amortizações poderão
consumir qualquer coisa em torno de R$ 298,67 bilhões do caixa disponível de
bancos e empresas. Na média dos cinco primeiros meses deste ano, quando a cotação
do dólar girou ao redor de R$ 3,84, o desembolso poderia ter sido praticamente
R$ 21,4 bilhões mais baixo. Dito de outra forma, o gasto em reais com as
amortizações da dívida em dólar tende a ser 7,7% mais elevado, se mantida a
cotação média do dólar observada até aqui.

Obviamente,
parte dessas operações poderá ser “rolada”, quer dizer, “adiada” mais para
frente, por meio da troca de dívida “velha” por outra mais nova e de maior
prazo. Isso com certeza aliviaria as pressões sobre o caixa de bancos e
empresas. Como exercício matemático, no entanto, aquele tenderia a ser o
impacto sobre o caixa nos 12 meses do próximo ano. Além disso, a boa gestão
financeira recomenda que operações contratadas em moeda estrangeira estejam
devidamente cobertas pela contratação de “hedge” (proteção, literalmente). Mas,
em tempos de dinheiro muito barato no exterior e possibilidades de ganhos aqui
dentro(agora muito menores, devido à redução na diferença entre os juros
internos e externos), nunca se é possível saber o tamanho dos riscos e da
exposição assumida por aqueles setores em relação a compromissos
internacionais.

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Incerteza, a
regra desse jogo

Note,
raro leitor e rara leitora, que a coluna não utilizou o câmbio do dia para
fazer esse tipo de cálculos, lembrando que a moeda norte-americana fechou a
terça-feira muito próxima de R$ 4,24 (“recorde” nominal, como tem insistido a
grande imprensa). Isso porque não faria muito sentido levar em consideração o
“preço” do dólar em uma única rodada de transações nos mercados à vista e
futuro para projetar como seus pagamentos serão afetados um ano à frente. Na
média das “apostas” do mercado, bancos e corretoras projetam uma cotação em
torno de R$ 4,00 por dólar no próximo ano. A se confirmar, o custo das
amortizações em reais ficaria muito próximo dos valores estimados tomando como
referência a taxa de câmbio média observada entre julho e novembro deste ano (R$
4,02), mas ainda acima dos R$ 277,28 bilhões calculados com base na cotação
média observada entre janeiro e maio passados (numa conta aproximada, perto de
R$ 12,8 bilhões a mais). Ainda assim, previsões sobre o câmbio são, na maioria
das vezes, complicadas quando não impraticáveis dado o
tamanho das incertezas à frente.

Balanço

·  
Embora
o Brasil caminhe para anotar um déficit próximo a 3,0% do Produto Interno Bruto
(PIB) nas transações com o restante do mundo neste ano, retornando aos níveis
de 2015, a dívida externa bruta (se descontar as reservas internacionais, que
continuam a superar o tamanho dessa dívida) tem se comportado modestamente. O
saldo da dívida saiu de US 320,612 bilhões em dezembro de 2018 para US$ 326,842
bilhões em outubro, na previsão do BC, indicando variação de 1,94%.

·  
Mas
a dívida de curto prazo, a vencer em 12 meses, apresentou elevação de 9,8% no
mesmo período, passando de US$ 66,844 bilhões para US$ 73,386 bilhões – um
incremento explicado pelo maior “apetite” dos bancos pela contratação de
empréstimos de curto prazo no mercado internacional.

·  
De
fato, a dívida de curto prazo do setor financeiro nacional (excluído o BC)
saltou 20,7% desde dezembro passado, avançando de US$ 50,618 bilhões para US$
61,095 bilhões, o que significou 81,1% de toda a dívida de curto prazo
contratada pelo Brasil.

·  
Diante
dessa evolução mais recente, os compromissos de curto prazo passaram a
responder por 22,45% da dívida externa bruta, o que se compara com 20,85% em
dezembro de 2018 e 16,2% no fechamento de 2017.

·  
A
dívida total dos bancos aumentou 23,6% neste ano, até outubro, subindo de US$
102,272 bilhões para US$ 126,453 bilhões, pressionada igualmente pelo
incremento de 26,5% no saldo dos compromissos de longo prazo contratados pelo
setor financeiro (que foram elevados de US$ 51,654 bilhões para US$ 65,358
bilhões).

·  
Em
sentido contrário, os demais setores da economia, incluindo empresas dos
setores público e privado, reduziram a dívida total em 16,2%, de US$ 143,221
bilhões para US$ 120,075 bilhões (um “ajuste” de US$ 23,146 bilhões). Muito
provavelmente, a queda deve ter sido influenciada pela política de
desinvestimento e redução de dívidas da Petrobrás, que tem mesmo antecipado o
pagamento de compromissos externos que venceriam apenas mais à frente.

De qualquer forma, a redução foi intensa,
proporcionalmente, na dívida de curto prazo, que baixou de US$ 16,128 bilhões
para US$ 12,243 bilhões, num corte de 24,1%. O endividamento externo de longo
prazo das empresas caiu 15,2% no período, saindo de US$ 127,093 bilhões para
US$ 107,832 bilhões.