Coluna

Avanço do PIB no primeiro tri em Goiás ainda não reflete crise

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 24 de junho de 2020

Numa
avaliação ainda preliminar, o Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos
Socioeconômicos (IMB) identificou uma elevação de 3,4% para o Produto Interno
Bruto (PIB) do Estado no primeiro trimestre deste ano, na comparação com igual
período do ano passado, lembrando que a estimativa captura apenas duas semanas
de paralisação da economia devido às medidas de afastamento social adotadas a
partir da segunda metade de março (como já se sabe). A nota técnica do
instituto, divulgada na sexta-feira, 19, traz rápida menção à crise gerada pela
pandemia nas três linhas finais, ao analisar os números do comércio, agregados
aos resultados do setor de serviços como um todo na formação do produto
estadual.

Anota
o comentário assinado pelo pesquisador em economia do IMB, Rafael dos Reis
Costa: “Pode-se dizer que uma parte dos resultados do comércio deve ser
atribuída a pandemia da Covid-19. A perspectiva de paralisação das atividades
econômicas e a consequente queda da renda ou possibilidade de desemprego, fazem
com que as famílias cortem gastos e evitem consumir além do necessário.” A nota
observa baixa de 2,0% no volume de vendas do varejo restrito no primeiro
trimestre e ligeiro recuo de 0,3% para as vendas no chamado varejo ampliado
(resultado, por sua vez, de um avanço de 3,1% para as vendas de veículos, motos
e autopeças, e redução de 0,4% no segmento de materiais de construção), sempre
em relação ao trimestre inicial do ano passado.

Os
dados consolidados para o setor de serviços, que responde por 67% do valor
agregado do PIB estadual, conforme lembra o instituto, apontam variação
positiva de 0,2%, o que se compara com variação de 2,1% no primeiro trimestre
de 2019, comparado a igual período do ano imediatamente anterior. A se
considerar esses dados, o setor de serviços teria contribuído com alguma coisa
ao redor de 0,13 pontos de porcentagem na variação do PIB trimestral, o que
parece ser compatível com uma taxa de crescimento da economia mais próxima de
2,1%, repetindo o resultado observado em igual período de 2019. Mas a
contabilidade do IMB parece considerar uma contribuição mais robusta para os
serviços, na faixa de 1,34 pontos.

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Contabilidade
paralela

A
estimativa da coluna leva em conta o salto registrado pelo IMB de 18,0% para a
agropecuária no acumulado no primeiro trimestre, setor que responde por algo em
torno de 11,3% do valor agregado ao produto total. E ainda o recuo de 0,2%
apontado pelo instituto para a indústria em geral, que participa com qualquer
coisa próxima a 21,6% na formação do PIB. Na formulação original informada pelo
instituto, a agropecuária teria respondido por 59,8% da variação de 3,4%
registrada no trimestre (na hipótese da coluna, a contribuição estaria mais
próxima de 95%). A indústria teria contribuído
negativamente, retirando o equivalente a 0,04 pontos da variação trimestral do
PIB. De qualquer forma, o comportamento teria sido igualmente superior à média
observada em todo o País, que apresentou retração de 0,3% para o PIB na
comparação com o os três primeiros meses do ano passado.

Balanço

·  
Conforme
já anotado neste espaço, os números de segundo trimestre tendem a ser bem
diferentes, já que receberão todo o impacto negativo gerado pela pandemia e
pela parada abrupta da atividade em grande parte da economia – e destacadamente
no setor de serviços, notoriamente mais atingido pelos efeitos da crise
sanitária.

·  
Em
abril, mês que parece anotar, até aqui, impactos mais severos, as vendas do
varejo tradicional encolheram 19,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, com
tombo de 24,1% para o varejo ampliado. O setor de serviços desabou 17,0% no
Estado, naquela mesma comparação, enquanto a indústria, alimentada pela
extração de minérios, produção de alimentos, biocombustíveis e medicamentos,
apontou variação de 0,4%.

·  
Os
números de maio tendem ainda a ser negativos, embora em níveis menos intensos
se considerado o comportamento dos principais setores em abril. A liberação de
mais setores ao longo de junho, ao mesmo tempo em que o número de contaminados
e de mortes continua em ascensão, pode trazer algum alívio (muito embora todo o
processo esteja envolvo em uma guerra judicial), mas não o suficiente para
reverter a queda já contratada para o segundo trimestre.

·  
Como
os números indicam que a crise sanitária causada pelo novo coronavírus ainda
não atingiu seu ponto mais crítico em Goiás, a abertura precipitada da economia
pode gerar uma segunda onda epidêmica, a exemplo do que se observa nos Estados
Unidos, na Coreia do Sul, em regiões da China, Índia e outros países asiáticos.

·  
Confirmados
os piores temores, os impactos seriam ainda imprevisíveis e levariam a novas
medidas de restrição, mais severas do que as atuais, tornando ainda mais
irrealista a expectativa alimentada pela equipe econômica do senhor Paulo
Guedes, que parece ainda acreditar numa retomada do crescimento já no próximo
trimestre.

·  
A
ata da mais recente reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), formado
pela alta cúpula do Banco Central (BC), sugere que as medidas de apoio às
empresas e socorro às famílias mais vulneráveis poderão “recompor parte
significativa da demanda agregada que seria perdida devido aos efeitos da
pandemia”, trazendo uma “recuperação mais rápida da economia” do que a
esperada.

·  
No
mínimo, trata-se de uma visão um tanto otimista. Passados quase três meses e
meio de crise (cinco, se for considerado que desde fevereiro o sistema público
de saúde já havia alertado para a crise), a saúde recebeu apenas 12,16% do
dinheiro prometido (até o dia 19 último). A ajuda prometida a micro, pequenas e
médias empresas somou 44,29% dos recursos anunciados. A ampliação do Bolsa
Família havia recebido meros 12,16% do orçamento anunciado.

·  
Após
meses de enrolação e promessas, o auxílio emergencial a famílias vulneráveis
registrava gastos de R$ 95,535 bilhões, dois terços dos R$ 152,94 bilhões
destacados pela equipe econômica, que só admite prorrogar o benefício por mais
dois meses – ainda assim, com redução do auxílio para a metade dos R$ 600 em
vigor.

·  
No
balanço geral, acompanhado pela Câmara, o governo pagou 43,63% dos recursos
incluídos no orçamento para combater a Covid-19 (ou seja, R$ 176,357 bilhões de
um total de R$ 404,181 bilhões).