Coluna

Desemprego chega a ser três vezes maior do que o número oficial

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 25 de junho de 2020

Os
números reais do desemprego no País, Goiás incluído, têm sido muito maiores do
que indicam as estatísticas convencionalmente aceitas nesta área. Não que as
pesquisas busquem esconder os dados. Pelo contrário. A questão está na forma de
apresentação dos números e na leitura feita a partir deles. Nesses tempos de
crise sanitária, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
decidiu realizar uma edição semanal de sua Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (a PNAD Covid-19) e ela mostra que, em maio, por exemplo, o País
registrava 10,129 milhões de desocupados, representando uma taxa
de desocupação (desemprego) de 10,7%. Para Goiás, a pesquisa aponta 448,517 mil
desempregados, numa taxa superior à média brasileira e próxima a 12,4%.

Uma
leitura mais cautelosa dos resultados da PNAD Covid-19, que o IBGE faz questão
de classificar como uma “pesquisa experimental” e de resultados não comparáveis
com a PNAD tradicional, mostra um desemprego 3,6 vezes maior em todo o País e
quase duas vezes mais elevado em Goiás. Como apontam as estatísticas esmiuçadas
a seguir, caso as raras leitoras e raros leitores tenham paciência de
acompanhar.

Somando
aquele total de desocupados às pessoas que gostariam de trabalhar, mas foram
forçadas a interromper a busca por emprego por conta da pandemia, seja por
força das medidas de afastamento social, seja por falta de trabalho no local
onde vivem, chega-se em maio a um número de nada menos do que 36,423 milhões em
todo o País. Em Goiás, na mesma comparação, a pesquisa registrava, ainda em
maio, 860,54 mil pessoas naquelas mesmas condições (quer dizer, 91,8% acima do
total de desempregados registrado na avaliação mais tradicional sobre o
mercado).

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Desastre
humanitário

Se
esses números forem comparados com o contingente de pessoas ocupadas,
desempregadas ou que desistiram de procurar emprego devido à pandemia (120,827
milhões em todo o País e 3,972 milhões em Goiás), a taxa de “desocupação”
saltaria para 30,14% no Brasil e para 21,67% em Goiás. Em outros termos, pouco
menos de um terço e mais de um quinto dos trabalhadores no País e em Goiás,
respectivamente, não conseguiram encontrar trabalho ao longo de maio. Esses dados
certamente terão grande influência sobre as perspectivas futuras de retomada da
economia, quando a pandemia começar a ser debelada (o que não parece ser o caso
até aqui). Mais do que isso, reforçam a necessidade urgente de preservação das
políticas de ajuda às famílias e a micro, pequenas e médias empresas e às
famílias mais vulneráveis. A interrupção ou corte no auxílio emergencial aos
trabalhadores, sobretudo aos informais e àqueles que perderam sua fonte de
renda, pode trazer impactos catastróficos, em termos humanitários e mesmo
meramente econômicos, forçando todo esse contingente de pessoas (como já vem
ocorrendo) a sair às ruas em busca de meios de subsistência, agravando os
riscos de contaminação e mortes pelo novo coronavírus.

Balanço

·  
De
volta à PNAD da Covid-19, em todo o País 9,728 milhões de trabalhadores
afastados dos seus empregos perderam igualmente seus rendimentos. Isso
significa 51,3% dos 18,964 milhões afastados em maio por conta da pandemia. Em
Goiás, em torno de 52,5% entre 580,55 mil afastados, ou seja, 304,956 mil,
perderam toda a renda.

·  
É
evidente que esse tipo de comportamento terá impactos sobre os rendimentos das
famílias e sobre suas decisões de consumo, absurdamente limitadas pela pandemia
e seus reflexos. É evidente, também, que a reabertura das lojas nesse cenário
não trará de volta o crescimento econômico, como num passe de mágica.

·  
Apenas
como exercício, suponha que os afastados sem rendimentos tivessem remuneração
equivalente ao rendimento real médio registrado pela PNAD no Brasil e em Goiás.
No primeiro caso, a massa real de rendimentos (quer dizer, a soma de todos os
salários recebidos pelos trabalhadores, em valor atualizados pela inflação)
anotaria perdas de R$ 22,570 bilhões, equivalentes a 11,7% da massa de
rendimentos habitualmente recebida em maio pelo total de trabalhadores ainda
com alguma forma de renda do trabalho.

·  
Para
Goiás, a perda poderia se aproximar de 9,9%, correspondendo a uma frustração de
rendimentos na faixa de R$ 641,30 milhões.

·  
Essa
conta não inclui, por exemplo, 30,326 milhões de trabalhadores que tiveram seus
rendimentos reduzidos apenas em maio, correspondendo a 36,4% do total de
pessoas ocupadas e com rendimentos no mês. Deve-se considerar, ainda, que 18,3
milhões de ocupados trabalharam menos do que gostariam (27,9% do total) em todo
o País. Em Goiás, foram 67,736 mil na mesma situação, ou seja, 11,23% do total
de ocupados não afastados do emprego.

·  
Não
surpreende que os rendimentos reais efetivamente recebidos tenham caído 18,1%
em relação aos rendimentos habituais no Brasil, coma queda atingindo 20% em
Goiás. Como o emprego parou de crescer, o impacto foi proporcional sobre a
renda total do trabalho, o que significa chances mais reduzidas de uma volta ao
consumo no ritmo anotado antes da pandemia.

·  
Para
Goiás, a diferença entre a massa de rendimentos habitualmente recebida pelos
trabalhadores (R$ 6,477 bilhões) e a massa efetivamente paga (R$ 5,176 bilhões)
correspondeu a R$ 1,30 bilhão (20% a menos). Em todo o País, foram R$ 35,043
bilhões que não chegaram às famílias (diferença entre R$ 192,957 bilhões e R$
157,914 bilhões da massa efetivamente recebida). Esse dinheiro desapareceu, não
vai mais circular, não vai gerar novas despesas e compras, não vai trazer mais
empregos e nem investimentos novos.

·  
O
valor do auxílio emergencial recebido em maio, perto de R$ 23,496 bilhões em
todo País, foi equivalente a 63% das perdas registradas pela massa de
rendimentos. Sem isso, o desastre teria sido maior. Perto de 76,2% desse
auxílio, em torno de R$ 17,896 bilhões, foram para os 50% de rendimentos mais
baixos (dos quais, R$ 4,780 bilhões para os 10% mais pobres). Em Goiás, o
auxílio domiciliar per capita somou R$ 798,61 – o que equivaleu a 64,16% do
rendimento domiciliar médio per capita efetivamente pago (R$ 1,244,68).