Avanços de energias solar e eólica ampliam descarbonização do setor

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de outubro de 2023

Até 2027, a participação das fontes eólica e solar fotovoltaica na geração do Sistema Interligado Nacional (SIN) deverá alcançar algo em torno de 37,1% na estimativa do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), numa previsão que inclui a micro e mini geração distribuída. Em setembro deste ano, acrescenta o ONS, a contribuição daquelas duas fontes para a geração em todo o sistema havia atingido 28,4%, resultado de uma curva acelerada de crescimento observada desde o começo da década. Esse avanço, entende o ONS, tem contribuído para a segurança do sistema, assim como para a descarbonização da matriz elétrica. “Entre janeiro e julho deste ano”, acrescenta o operador, “90% da energia gerada no país foi de fontes renováveis, como a hidráulica, eólica e solar”, sugerindo que o setor elétrico brasileiro “já fez sua transição para um modelo de baixas emissões”.

Até 11 de outubro último, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrava uma participação na matriz elétrica próxima de 13,9% para os parques eólicos, com potência instalada de 27.150,92 megawatts (MW), enquanto as plantas solares detinham fatia de 5,35% e capacidade em torno de 10.485,35 MW, sem incluir a geração descentralizada, instalada em telhados e fachadas de empresas e residências. Somando a geração distribuída, haveria um acréscimo de 23.660 MW à potência da fonte solar, elevando sua capacidade final para 34.145 MW, equivalente a 17,4% da matriz elétrica.

Resultado de mudanças regulatórias e de conquistas tecnológicas recentes, que reduziram os custos dos equipamentos e da energia gerada, o setor solar fotovoltaico experimentou um “ano histórico” em 2022, na descrição de Rodrigo Sauaia, presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). O País apresentou o quarto maior crescimento global em capacidade adicionada ao sistema, saindo de 14.367 em 2021 para 25.373 MW, num salto de 76,6%, correspondendo a um acréscimo de 11.006 MW. O aumento levou o Brasil, acrescenta Sauaia, a ocupar o posto de 10º maior produtor de energia solar no mundo.

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Sete vezes maior

O setor espera acrescentar pelo menos mais 10,0 gigawatts de capacidade nova ao longo deste ano, continua ele, o que elevaria a potência total para alguma coisa acima de 35,0 GW, avançando quase 38% frente a 2022, com investimentos próximos a R$ 50,0 bilhões. Caso a expectativa se confirme, a geração solar terá multiplicado sua potência instalada em pouco mais de 7,4 vezes desde 2019. “Cada gigawatt instalado corresponde a mais de 30,0 mil empregos novos”, anota Sauaia, acrescentando que o setor atingiu neste ano a marca de 1,0 milhão de empregos criados desde 2012 e investiu, no período, mais de R$ 163,0 bilhões.

Balanço

  • A partir de 2021, registra Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), a indústria de geração eólica passou a “bater recordes”, apresentando um incremento anual de 4,0 GW em sua potência instalada, numa variação bem superior à média histórica do setor. A previsão para este ano sugere a instalação de mais 3.571 MW de potência nova, elevando a capacidade total do setor para 29.221 MW, acumulando um aumento de 64,65% diante de 17.747 MW em 2020 – ou seja, 11.474 MW adicionais.
  • A abertura do mercado livre para as novas formas de energia, como a eólica, os investimentos das empresas em iniciativas ESG, especialmente em setores eletrointensivos, e ainda a queda vertical nos custos da geração eólica, avalia Elbia, ajudam a entender o avanço registrado nos últimos anos. “A tendência para os próximos anos é de uma aceleração ainda mais intensa, associada à demanda por uma economia de baixo carbono e ainda pela chegada do hidrogênio verde por volta de 2026 ou 2027”, antecipa ela. 
  • De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com base nos estudos do Plano Decenal de Energia 2031 divulgado no primeiro semestre do ano passado, a capacidade instalada das fontes eólica e solar, incluindo a parcela da geração distribuída, deverá superar 77,5 GW até lá. Na visão da EPE, a complementariedade da energia dos ventos em relação a “grande parte dos recursos hidráulicos” e as novas tecnologias incorporadas à fonte solar fotovoltaica têm potencializado o “aproveitamento cada vez mais eficiente desses recursos”.
  • Sócio-diretor da A&M Infra, Filipe Bonaldo a geração solar e eólica tende a crescer de “forma natural” nos próximos anos diante do barateamento dos preços da energia nas duas áreas e, “agora, com o uso combinado de baterias que reduzem a intermitência daquelas fontes”. Em sua estimativa, os dois setores combinados têm colocado “no sistema mais de 1,0 GW por mês e espera-se que esse número esteja próximo do dobro disso nos próximos anos”.
  • Em sua estratégia para ganhar musculatura e acelerar seu crescimento, na descrição de Lucas Araripe, diretor executivo da empresa, a Casa dos Ventos tem firmado contratos de venda de energia (PPA ou Purchase Power Agreement) com grandes consumidores e finalizou em janeiro deste ano a venda de 34% de seus ativos operacionais e dos projetos de geração eólica em estágios mais avançados de desenvolvimento para a TotalEnergies. Com três complexos eólicos em operação – Rio do Vento (RN), Babilônia Sul (BA) e Folha Larga do Sul (BA) – a Casa dos Ventos atingiu neste ano capacidade operacional de 1.549,2 MW.
  • Mas deve quase triplicar sua potência instalada até o final de 2025, para aproximadamente 4,1 GW, antecipa Araripe. O complexo de Umari, também no Rio Grande do Norte, com capacidade prevista para 202,5 MW, teve ser finalizado na primeira metade de 2024, alavancado por contratos de fornecimento de longo prazo firmados com Mosaic e Braskem. A unidade Babilônia Centro, na Bahia, deve acrescentar 553,5 MW à capacidade de geração da empresa, num investimento de R$ 4,0 bilhões a ser tocado em conjunto com a ArcelorMittal, que responderá por 55% do projeto. A Casa dos Ventos investirá sozinha R$ 5,0 bilhões para tornar operacional até o segundo semestre de 2025 o complexo de Serra do Tigre, com capacidade para 756 MW.