Inflação desacelera no final do mês passado. Goiânia registra deflação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de outubro de 2023

Mantidas as condições atuais, sem turbulências adicionais no mercado do petróleo, e considerando as tendências observadas para os preços em geral até o momento, a perspectiva de a taxa de inflação encerrar ano dentro ou apenas ligeiramente acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) não deveria ainda ser descartada. Os dados mais recentes, fosse outra a presidência do Banco Central (BC), tenderiam a estimular uma mudança de velocidade nos rumos da política monetária, com cortes mais amplos da taxa básica de juros, o que traria alívio para empresas e famílias endividadas, reanimaria investimentos e ajudaria a incrementar o ritmo dos negócios em geral, favorecendo uma melhora da atividade econômica como um todo.

No fechamento de setembro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não apenas veio abaixo das previsões médias dos mercados como chegou a experimentar desaceleração na quinzena final do mês passado, refletindo principalmente a queda persistente nos preços dos alimentos e a perda de força na tendência de alta nos preços da gasolina. Diante de projeções de 0,33% na mediana das expectativas do setor financeiro, com algumas previsões de aproximando de 0,35% para o IPCA de setembro, o resultado final apurado pelo instituto trouxe o índice para 0,26%. 

A comparação com o IPCA aferido nos 30 dias de agosto, próximo de 0,23%, pode sugerir alguma pressão adicional ao longo de setembro – o que de fato ocorreu, mas concentrado nas duas primeiras semanas do mês passado. Entre 15 de agosto e 14 de setembro, conforme o IPCA-15 aferido no período, a taxa havia anotado elevação para 0,35% – o que permite inferir que a inflação nitidamente perdeu intensidade nas duas semanas finais de setembro, com o índice “cheio”, referente aos 30 dias do mês, recuando 0,09 pontos percentuais em relação à taxa acumulada nas quatro semanas até o dia 14 do mês passado. Para Goiânia, a inflação saiu de 0,12% em agosto, atingiu 0,14% nas quatro semanas concluídas ao final da segunda semana do mês seguinte e encerrou setembro negativa em 0,11% – a mais baixa entre as 16 capitais acompanhadas pelo IBGE.

Continua após a publicidade

Dentro da meta?

Como o IPCA de setembro do ano passado havia sido negativo em 0,29% e deixou o cálculo da inflação acumulada nos 12 meses até setembro deste ano, substituída pelo IPCA de 0,26%, o índice em 12 meses passou a indicar elevação de 5,19% (lembrando que a taxa em 12 meses havia atingido 4,61% em agosto deste ano). Daqui em diante, conforme já ressaltado neste espaço, a tendência deverá ser de baixa para a inflação em 12 meses, considerando que as taxas mensais haviam entrado em alta no trimestre final do ano passado, chegando a 0,59% em outubro, 0,41% em novembro e 0,62% em dezembro. Esses índices agora deverão dar lugar a taxas mensais mais baixas esperadas para os três últimos meses deste ano no cálculo da inflação acumulada em 12 meses. Caso a taxa se mantenha ao redor de 0,26% (ligeiramente acima da média de 0,20% observada entre julho e setembro deste ano), o IPCA de 2023 tenderia a se aproximar de 4,31%. O teto da meta admitido para este ano está fixado em 4,75%, considerando a margem de flutuação de 1,5 pontos percentuais em relação ao centro da meta (3,25%).

Balanço

  • Numa conta mais conservadora, que considera o IPCA mensal médio de 0,42% no período entre outubro do ano passado e setembro deste ano (“contaminado” pelo encarecimento dos combustíveis entre o final do ano passado e os primeiros meses deste ano), o IPCA tenderia a caminhar em direção a algo próximo a 4,81% ou 0,06 pontos acima do teto da média. Para comparar, a inflação em 12 meses chegou a 5,91% em setembro, numa diferença de 0,44 pontos em relação ao mesmo teto.
  • Na visão da economista Luciana Rabelo, da equipe de macroeconomia do Itaú Unibanco, “a leitura do IPCA de setembro segue mostrando melhora consistente da inflação”, com comportamento “benigno” também para os chamados núcleos da taxa de inflação, que excluem itens mais voláteis e instáveis, que não refletem a tendência observada para a atividade econômica presente, e expurgam ainda altas e quedas consideradas excessivas.
  • “Na média móvel de três meses”, aponta Luciana, considerando dados dessazonalizados (descontados fatores sazonais, quer dizer, que se repetem sempre nos mesmos períodos do ano e poderiam distorcer a comparação), a taxa acumulada em 12 meses manteve-se praticamente inalterada, saindo de 3,5% em agosto para 3,6% em setembro (na média de todos os tipos de núcleo).
  • No setor de serviços, ainda considerando o conceito de núcleos, a taxa média de variação em 12 meses recuou de 4,2% para 3,5% também entre agosto e setembro. Entre os produtos industriais, a desaceleração dos núcleos da inflação foi mais intensa, com a taxa anualizada baixando de 3,4% para 2,1%. O núcleo de custos de serviços e de preços industriais, em conjunto, registrou variação de 3,1% em 12 meses até setembro, saindo de 4,1% no mês anterior. O nível atual, observa Luciana, aproxima-se do nível anotado entre 2017 e 2019, na faixa de 3,0%. “A surpresa baixista do dado de hoje indica viés de baixa para a nossa projeção de IPCA de 4,9% no ano”, acrescenta a economista.
  • O índice “cheio” no setor de serviços avançou de 0,08% em agosto para 0,50% no mês seguinte, puxado principalmente pelo salto de 13,47% nos preços das passagens aéreas, que havia tombado 11,69% em agosto. O salto nas tarifas aéreas respondeu por quase 27,0% de todo o IPCA de setembro. Entre os 38 itens listados pelo IBGE, 16 não registraram variação alguma ou apresentaram redução de preços, representando 42,1% da amostra e 22 tiveram seus preços aumentados, ou seja, 57,9% do total. Em agosto, foram 15 itens sem aumentos ou em queda (39,5%) e 23 em alta (60,5%). Com um detalhe: entre os itens em alta, dez haviam anotado variação entre 0,51% e 1,0% em agosto, correspondendo a 43,5% dos serviços com aumentos de preços. Em setembro, uma dezena de serviços anotou variação de até 0,35%, o que representou quase 45,5% dos 22 itens com custos em alta.
  • A deflação de setembro em Goiânia decorreu da queda de 2,97% nos preços médios da energia elétrica residencial, que havia saído de alta de 7,05% em agosto e de recuo de 0,58% nas quatro semanas finalizadas em 14 de setembro. Os preços dos alimentos experimentaram queda de 0,94% (e haviam caído 0,57% nos 30 dias encerrados na primeira quinzena de setembro). A gasolina, que chegou a subir 5,31% nas quatro semanas terminadas em 14 de setembro, passou a subir 3,55% no encerramento do mês, mostrando desaceleração nas duas semanas finais.