Balanço mais apertado entre preços e custos afeta margens na agricultura

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 20 de janeiro de 2024

Castigadas pelas inclemências do clima, que deve frustrar as safras de milho e soja, as lavouras neste ano deverão trazer resultados mais apertados, quando não negativos, pelo menos para uma parcela dos produtores, especialmente para aqueles obrigados a replantar parte de suas áreas ou que decidiram investir menos em tecnologia. Os impactos negativos, de toda forma, poderão ser acomodados diante de uma sequência de anos muito positivos para o setor, muito embora a escalada dos custos na safra 2022/23 tenha contribuído para trazer as margens de rentabilidade para uma faixa mais próxima das médias históricas, especialmente no caso da soja.

Os preços dos principais produtos agrícolas abriram ano ainda com tendência de baixa, reforçando o movimento de queda experimentado desde o ano passado. Ao longo de 2023, o indicador de preços ao produtor calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, chegou a acumular queda de 17,4% em relação a 2022, com perdas de 23,9% para os grãos e de 14,8% para a pecuária, considerando os preços médios recebidos pelo campo. Mesmo diante da expectativa de colheitas menores neste ano, ao menos em relação aos números históricos observados na safra 2022/23, os preços continuam pressionados para baixo, o que tem retardado as decisões de venda dos produtores da produção que começa a ser colhida no próximo mês. Os custos apresentam tendência de baixa ainda, especialmente diante da normalização dos preços de adubos e fertilizantes. Embora isso possa vir a trazer algum alívio, o fato é que os preços sinalizados para a safra ainda no campo sofreram baixas mais intensas e ainda não sinalizam mudanças mais expressivas de tendência.

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No acompanhamento realizado pelo Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), os preços da soja e do milho, no mercado disponível, sofreram perdas respectivamente de 33,2% e de 35,77% nos últimos 12 meses. A arroba do algodão, por sua vez, sofreu baixa de 28,1% na mesma comparação, saindo de R$ 168,89 para R$ 121,45. No primeiro caso, o preço da saca caiu de R$ 152,95 no início da segunda quinzena de janeiro de 2023 para R$ 102,14 no dia 12 deste mês, depois de ter alcançado R$ 118,79 ao final da primeira semana de janeiro deste ano. A saca de milho manteve-se estável ao longo da semana encerrada em 12 de janeiro, ao redor de R$ 40,92, mas havia alcançado algo como R$ 63,71 em 13 de janeiro do ano passado.

Balanço

  • O comportamento dos preços parece alargar a defasagem em relação aos custos de produção, que recuaram, de fato, mais em intensidade muito menos acentuada. O custo operacional efetivo, aferido pelo Imea, caiu 10,0% entre as safras 2022/23 e 2023/24 para a soja geneticamente modificada em Mato Grosso, diante de ligeira elevação de 1,34% para o milho de alta tecnologia, na média do Estado. Os custos operacionais do algodão baixaram de forma mais intensa, o que pode favorecer a formação de margens mais atrativas em relação aos demais produtos. Entre as safras 2022/23 e 2023/24, o custo operacional efetivo sofreu baixa de 25,8%.
  • As estatísticas do Cepea, por sua vez, apontam quedas de 31,60% para a soja no Paraná e de quase 25,0% para o milho na média do país, com quedas ainda de 10,7% para a arroba do boi gordo e de 15,41% para a saca do café arábica. O arroz, com quebra na safra colhida no ano passado, experimentou alta de 40,2%. As comparações consideram os dias 17 de janeiro de 2022 e mesma data de janeiro deste ano.
  • Considerando os custos médios esperados para a safra em curso, no acompanhamento do Imea, as diferenças entre preços e custos tenderiam a reduzir as margens para a soja transgênica de 48,7% no ciclo 2022/23 para apenas 8,3% na safra atual, com a produtividade média recuando 1,9%. As margens para o milho, a se manterem os preços registrados até meados deste mês no mercado disponível, caminham para terreno negativo, na média do Estado, saindo de 44,5% no ano passado para menos 17,7% neste ano, diante de uma redução de 10,9% na produtividade esperada.
  • O cenário parece mais positivo para produtores de algodão, já que a produtividade da pluma deverá avançar em torno de 1,4%. As margens devem flutuar de 9,1% para 7,2%.
  • Os efeitos mais severos do El Niño sobre as lavouras tendem a produzir quebras de safra maiores do que as esperadas. Numa avaliação do Rally da Safra, organizado pela Agroconsult, a produção de soja neste ano tende a superar 15,3 milhões de toneladas diante do potencial de produção esperado para o atual ciclo agrícola, na faixa de 169,0 milhões de toneladas conforme a consultoria. Deve-se lembrar que a Conab, até a previsão mais recente, esperava que a safra do grão avançasse ligeiramente de 154,61 milhões para 155,27 milhões de toneladas. 
  • O clima irregular, com temperaturas elevadas, baixa precipitação nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e excesso de chuvas no Sul, levou à necessidade de replantar um recorde de 2,9 milhões de hectares (em torno de 6,3% da área total esperada) e ainda à substituição da soja pelo algodão em algumas áreas.
  • As estimativas da Agroconsult, que diferem dos números projetados pela Conab, consideram a possibilidade de uma produção de 153,8 milhões de toneladas na safra 2023/24, com queda de 3,7% em relação ao ciclo anterior. A produtividade média esperada tende a recuar de 60,0 para 56,1 sacas por hectare (6,5% a menos), resultado parcialmente compensado pelo aumento de 2,9% na área destinada ao plantio, prevista em torno de 45,7 milhões de hectares.