Coluna

BC vai mesmo reduzir juros básicos ainda em julho? Mercado agora aposta que sim

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 18 de julho de 2019

O
Comitê de Política Monetária (Copom) estará reunido nos dias 30 e 31 de julho e
poderá encerrar o mês com o primeiro corte na taxa básica de juros desde fevereiro
do ano passado, quando a chamada “taxa Selic” (os juros básicos que servem como
uma espécie de piso para o custo do dinheiro no País) foi fixada nos atuais
6,50% ao ano. Pelo menos esta é a aposta principal dos mercados desta vez. Na
mediana das projeções das cinco instituições que mais acertam seus
prognósticos, de acordo com o relatório Focus, publicação do BC que tenta
aferir os humores do mercado, os juros básicos deverão baixar para 6,25% na
entrada de agosto, sugerindo um corte de apenas e somente 0,25 pontos de
porcentagem na próxima reunião do Copom.


é algum avanço a se considerar que há quatro semanas as previsões indicavam a
manutenção dos juros. Mas algumas instituições, a exemplo do Itaú BBA,
acreditam que o BC poderá assumir uma dose um pouco maior de “ousadia” e buscar
uma redução de meio ponto percentual, o que reduzira os juros para 6,0% ao ano,
consolidando uma taxa real de juros (descontada a inflação) na faixa de 2,1% ao
ano (pouco menor do que os 2,34% esperados se a taxa cair para 6,25%). As
contas consideram a inflação mediana (aquela mais mencionada nas previsões do
setor) de 3,82% esperada pelos mercados para este ano.

As
apostas no corte da taxa básica, em mais uma jogada do mercado, foram
reforçadas obviamente depois de concluída a votação na Câmara Federal, ainda em
primeiro turno, do projeto de emenda constitucional que reforma as normas da
Previdência. Claro, antes entregar os anéis do que perder os dedos e correr o
risco de cortes mais profundos e de fato ousado nos juros. Na prática, como tem
lembrado o economista Bráulio Borges, do Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e da LCA Consultores, o País caminha para o
terceiro ano com a inflação abaixo do centro da meta e tende a emplacar o
quarto ano (em 2020) com taxas igualmente muito reduzidas em 2020 (inferiores à
meta de 4,25%).

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Concentração

Com
a economia aos pandarecos, enfrentando crescimento muito lento e desemprego
muito alto, afetando a vida e o destino de mais de 12,0 milhões de pessoas, o
BC perdeu a oportunidade de injetar algum ânimo na economia já a partir de
2018, quando a taxa básica poderia ter sido reduzida em pelo menos um ponto e
meio, para 5,0%, desde o começo deste ano, sustenta Borges. O corte nos juros
poderia não assegurar uma retomada mais vigorosa, mas certamente teria ajudado
a conter a sangria na área fiscal e o desvio de centenas de bilhões de reais
todos os anos para os “donos” da riqueza no Brasil, o que só tem produzido
maior concentração da renda e encarecimento dos custos do crédito para
investimentos e para o consumo.

Balanço

·  
Diante
dos argumentos apresentados por correntes menos ortodoxas do pensamento
econômico, os analistas e economistas mais identificados com os interesses do
mercado financeiro chegaram a argumentar que a política monetária (quer dizer,
os juros altos) teriam perdido “potência”.

·  
Mais
claramente, a política de juros não seria capaz de contribuir para a
recuperação da economia. Se é assim, o corte nos juros ao menos teria efeitos
muito benéficos nas contas dos governos, ajudando a reduzir o peso do serviço
da dívida (juros e encargos).

·  
A
despeito dos níveis historicamente baixos (para os padrões brasileiros, que
fique muito claro) dos juros, estes ainda foram um componente central para
explicar o aumento da dívida bruta do governo geral (União, Estados e
municípios).

·  
Entre
dezembro de 2017 e maio deste ano, a dívida bruta avançou de R$ 4,855 trilhões,
em valores aproximados, para R$ 5,481 trilhões, saindo de 74,07% para 78,68% do
Produto Interno Bruto (PIB), nas estimativas do BC.

·  
Quer
dizer, houve um acréscimo de R$ 625,890 bilhões no saldo da dívida nos últimos
17 meses (algo como praticamente 9,0% do POB, uma enormidade).

·  
A
conta dos juros explica em torno de 93,6% do aumento observado, também nada
desprezível. Em valores nominais, os juros apropriados ao estoque da dívida no
mesmo período somaram R$ 585,645 bilhões, qualquer coisa
próxima a 8,4% do PIB.

Para um setor público que pena por falta de
recursos, não há explicação racional para a resistência do BC a juros mais
baixos. Num exercício matemático, meio ponto a menos nos juros poderia
representar uma economia de quase R$ 27,4 bilhões (0,4% do PIB).