Coluna

Endividamento das empresas cresce 8,9% no início do ano e supera R$ 909 bilhões

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 16 de julho de 2019

Num
cenário de baixo crescimento e perda de caixa, a dívida total de 240 empresas não
financeiras de capital aberto acompanhadas pela consultoria Economatica voltou
a apresentar crescimento no primeiro trimestre deste ano, na maior variação
desde 2015, quando a economia havia entrado em recessão. Excluída a Petrobrás,
que, pelo seu tamanho, distorce a avaliação, a dívida bruta daquelas empresas
avançou de R$ 834,532 bilhões em dezembro de 2018 para R$ 909,045 bilhões em
março deste ano, crescendo 8,93%. Para comparação, durante todo o ano passado
aquela dívida havia registrado variação inferior a 4,0% (mais precisamente,
alta de 3,97%).

Em
termos nominais, foi o maior valor desde o início da década, refletindo um
incremento acumulado de 115,6% desde 2010, quando a dívida bruta havia atingido
R$ 421,631 bilhões. A dívida líquida subiu em velocidade mais intensa, seja na
comparação anual seja em relação ao começo da década, como consequência de um
avanço apenas modesto para o caixa gerado pelas empresas da amostra. A
dificuldade notória de incrementar a geração de caixa está diretamente
relacionada ao período recessivo enfrentado entre 2015 e 2016 e, mais
recentemente, à tendência de baixo crescimento para a economia em geral e de
virtual estagnação do setor industrial, refletindo, por sua vez, o
desaquecimento do consumo e dos investimentos.

Entre
2018 e março de 2019, o estoque de recursos no caixa das empresas encolheu
6,8%, saindo de R$ 277,342 bilhões para R$ 258,483 bilhões. Assim, a dívida
líquida (soma do total de empréstimos e financiamentos contratados no longo e
no curto prazos menos recursos mantidos em caixa e em aplicações financeiras
pelas empresas) aumentou praticamente 16,8%, evoluindo de R$ 557,190 bilhões
para R$ 650,562 bilhões (igualmente, o maior valor da série apresentada pela
Economatica). Entre 2010 e março deste ano, enquanto o caixa aumentou 45,53%, a
dívida líquida experimentou salto de 60,95%.

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Curto prazo

Numa
tendência igualmente relacionada a dificuldades eventuais de alavancar a
geração de caixa, as empresas tiveram que recorrer mais fortemente a
empréstimos e financiamentos de curto prazo no primeiro trimestre, o que elevou
esse tipo de endividamento em 12,29% desde dezembro do ano passado. Depois de
desabar 35,76% em 2018, de R$ 221,054 bilhões em dezembro de 2017 para R$
142,010 bilhões, a dívida de curto prazo subiu para R$ 159,467 bilhões na
posição de março de 2019. Desde 2010, o endividamento de curto prazo avançou
83,5% (ritmo menos vigoroso do que aquele apresentado pela dívida total, o que
sugere um crescimento em maior proporção das operações de longo prazo).

Balanço

·  
De
fato, a participação das dívidas de curto prazo no endividamento total recuou
de 18,73% em 2010 para 17,54% em março deste ano (mas ficou ligeiramente acima
da relação observada em 2018, ligeiramente acima de 17,0%).

·  
A
relação entre dívidas de curto prazo e o caixa mostra alguma piora no
curtíssimo prazo, mas uma folga maior frente aos números apresentados logo
depois da recessão.Em 2016 e 2017, o caixa superava a dívida de curto prazo
consolidada em apenas 9,2% e 11,8% respectivamente. Entre 2014 e 2015, o caixa
era praticamente 40% maior do que o endividamento de curto prazo e chegou a ser
duas vezes maior em 2010.

·  
No
ano passado, aquela relação havia saltado para 95,3% e baixou, em março deste
ano, para alguma coisa abaixo de 62,1%. Foi o menor indicador desde 2012,
quando o caixa havia sido 61,25% maior do que a dívida de curto prazo. De
qualquer forma, trata-se de uma relação que ainda assegura alguma folga às
empresas no que diz respeito a empréstimos e financiamentos a vencer nos
próximos 12 meses.

·  
O
aumento da dívida bruta das empresas de capital aberto ocorre, notoriamente,
num período de taxas básicas de juros mais baixas (ainda que o custo do crédito
livre para as empresas tenha se mantido muito próximo de 20% ao ano entre o
final de 2018 e o começo deste ano). Isso parece indicar que as empresas teriam
recorrido a novos financiamentos a despeito de seu custo ainda elevado e
basicamente para atender a necessidades de curto prazo.

·  
O
indicador do Banco Central para o custo do crédito das empresas igualmente
manteve-se quase inalterado, variando entre 14,4% e 14,5% entre dezembro de
2018 e março de 2019.