Bioeletricidade deve ampliar sua capacidade em quase 12% até 2027

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 29 de abril de 2023

Em cinco anos, contados entre 2023 e 2027, a cogeração de energia a partir de biomassa deverá agregar à sua capacidade instalada algo próximo a 2.119 megawatts (MW), num avanço ao redor de 12,0% na comparação com 17.060 MW instalados até janeiro deste ano, nos dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) trabalhados pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen). Numa estimativa baseada em valores calculados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) para a instalação de um quilowatt adicional de capacidade, os projetos com potencial para entrar em operação comercial no período poderão atrair investimentos entre R$ 8,5 bilhões a R$ 12,7 bilhões.

Apenas o setor sucroenergético, prevê Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), também com base em dados da Aneel, deverá colocar em operação 43 projetos até 2026, com capacidade total para 1.547 MW – muito abaixo do potencial projetado pela EPE para a biomassa brasileira e ainda inferior às possibilidades de expansão do setor a partir do parque construído até aqui. “As plantas atuais têm condições de entregar em média 1.500 MW novos por ano”, aponta Souza.

Segundo ele, os estudos da EPE para definição do Plano Decenal de Expansão de Energia 2032 apontavam um potencial técnico de geração de bioeletricidade para a rede integrada de aproximadamente 143,0 mil gigawatts/hora (GWh), considerando o bagaço e plana de cana e o biogás, mais do que o dobro da geração de Itaipu. “Isso significa que estamos aproveitando 13,0% daquele potencial, considerando que o setor sucroenergético entregou à rede 18.397 GWh no ano passado”, reforça Souza.

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Em marcha lenta

A geração de bioeletricidade pela biomassa em geral para a rede elétrica somou 25,5 mil GWh em 2022, num avanço de apenas 0,5% em relação a 2021, representando 4,3% de toda a energia gerada no país. Aquele volume representou, no entanto, 69% de toda a geração do complexo hidroelétrico de Belo Monte e superou a energia ofertada pelas térmicas a gás, que haviam colocado na rede 22.826 GWh, de acordo com a Única. Mas a venda de energia ao grid pelas usinas de etanol e açúcar registrou baixa de 8,9% na comparação com 2021, quando as plantas do setor haviam colocado na rede 20.202 GWh em função da menor disponibilidade de matéria prima. Três geadas em sequência, vários incêndios e falta de chuvas nos canaviais ao longo da temporada, relembra Newton Duarte, presidente da Cogen, derrubaram a oferta de cana no Centro-Sul de 605,46 milhões para 523,45 milhões de toneladas entre os ciclos 2020/21 e 2021/22.

Balanço

  • Desde 2020, os dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), apurados pela Unica, a energia vendida ao sistema interligado sofreu baixa de 18,6%. Souza acredita que seria possível retomar neste ano os níveis observados até 2020, ligeiramente acima de 22,0 mil GWh, com elevação próxima de 6% ou 7% na capacidade instalada. “O setor pode responder muito rapidamente no lado da oferta de energia”, destaca ele.
  • Na visão de Duarte, o setor de biomassa enfrenta dois cenários díspares. Olhando para as perspectivas de mercado, no curto prazo, observa ele, as distribuidoras estão sobrecontratadas e há baixa necessidade de energia nova, perspectiva reforçada pelos níveis historicamente elevados dos reservatórios, na faixa de 85,0% no começo de abril na média das regiões Sudeste e Centro-Oeste.
  • Num segundo cenário, quando se consideram os avanços tecnológicos já operados e ainda em perspectiva, comenta Duarte, “o setor está diante de uma nova internet”, sugerindo uma quebra de paradigma semelhante àquela ocorrida a partir da emergência da rede global de computadores. Essa “grande virada tecnológica” estaria centrada no avanço do biogás (e do biometano) produzido a partir da vinhaça, com amplo potencial para substituição do diesel e também de energia, e no aproveitamento do bagaço para a produção de etanol de segunda geração e biocombustível para aviação.
  • As empresas de uma forma geral entraram já há algum tempo num processo de “reposicionamento” de seus negócios com foco na agenda ESG, o que inclui políticas para reaproveitamento integral de resíduos da produção, comenta Gabriela Joubert, analista chefe do Banco Inter. A estratégia, envolvendo especialmente empresas de base florestal e agrícola, busca a descarbonização da operação, com geração de energia a partir de biomassa e outros resíduos, redução de custos e novas fontes de receitas. “Nas últimas duas décadas, num exemplo, os projetos de expansão no setor de celulose e papel passaram a contemplar plantas operacionalmente mais eficientes, sempre com um braço para geração de energia”, acrescenta ela.
  • Em outra área, Manuela Granja, especialista em commodities do Inter, anota o caso da Jalles Machado, com usina em Goianésia (GO), onde produz açúcar comum e orgânico, além de etanol. A divisão de cogeração de energia já responde por 4,0% da receita bruta da usina, que atingiu R$ 1,44 bilhão nos nove primeiros meses da safra 2022/23, encerrados em dezembro passado.