Campos Neto ajuda a açular o “terrorismo fiscal” dos mercados

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de abril de 2024

Afinal, o que se espera de uma “autoridade monetária”? Uma atuação firme em relação aos mercados, freando manipulações e jogadas especulativas. Bom-senso e ponderação, diante de cenários de adversidades e de acirramento de ânimos. Enfim, uma visão equilibrada e desapaixonada da conjuntura e de seus desdobramentos à frente. Pois a fala mansa e aparentemente desprovida de motivações sinistras do presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, na segunda-feira, 15, açulou os ânimos, acirrou a especulação e sacudiu os mercados num momento já delicado em função do risco de uma escalada do conflito entre Israel e Irã, que poderá levar ao envolvimento das grandes potências globais, diante da falta de clarividência no governo dos Estados Unidos.

Na verdade, Campos Neto fez o que sempre fez desde a mudança de governo, atuando para inflar o “anarco-terrorismo-fiscal” que predomina nos mercados e na grande imprensa. Candidamente, o presidente do BC comentou que a mudança nas metas fiscais, já reconhecidamente inexequíveis dado o tamanho do sofrimento a ser imposto à toda a população para seu cumprimento, tornaria mais complicado o trabalho da “autoridade monetária”. Traduzindo, a troca de um superávit mínimo pela meta de déficit zero em 2025 obrigaria o BC a manter os juros nas nuvens e, quem sabe, talvez até mesmo a elevá-los mais adiante, por conta da falsa “insegurança fiscal” gerada pela decisão da equipe econômica.

Quer dizer, o governo anunciou que pretende zerar o déficit apenas no próximo ano e essa previsão significaria um fim do mundo como o conhecemos. O mais provável é que o arrocho exigido para alcançar aquele resultado traga de fato efeitos amplamente negativos sobre a atividade econômica e, ainda mais grave, para o financiamento da saúde, da educação e de outros serviços públicos essenciais para os mais pobres, precisamente para aqueles que não participam da “farra” diária dos juros altos no cassino do mercado financeiro.

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Contraproducente

A atuação do presidente do BC tem sido contraproducente na medida em que estimula um clima de insegurança que favorece a alta do dólar, o que tende a pressionar os preços em geral na economia, gerando mais inflação, num efeito precisamente contrário ao desejável, especialmente sob o ponto de vista da “autoridade monetária”. Os “alertas” de Campos Neto, neste sentido, acabam se tornando profecias auto-realizáveis, já que o eventual incremento de pressões inflacionárias levaria o BC a retomar a elevação dos juros básicos a pretexto de segurar uma inflação piorada pela retórica altamente inflamável de seu presidente.

Balanço

  • Em meio a pressões climáticas a cada ano mais dramáticas, num processo que parece confirmar as previsões mais sombrias do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas, a corrida para levar à frente a tão esperada transição energética tem movimentado a pesquisa brasileira. O Centro de Estudos de Energia e Petróleo (Cepetro), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), iniciou os trabalhos para desenvolver a tecnologia para produção de baterias de novíssima geração para veículos elétricos ou híbridos.
  • O projeto de pesquisa, que deverá resultar na criação do Centro de Manufatura de Baterias (CMB), foi recentemente selecionado para receber perto de R$ 9,0 milhões em chamada pública de uma das linhas do programa Rota 2030, lançado em 2018 pelo governo federal para financiar a modernização e transição energética na indústria automobilística, numa iniciativa administrada pela Fundação de Apoio à Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep).
  • Segundo a assessoria da Unicamp, a pesquisa do Cepetro tem como propósito dominar a tecnologia para produção de células individuais de baterias de lítio e sódio, utilizadas pelos veículos elétricos. O País ainda não produz aquele tipo de célula, responsável pelo armazenamento de energia de uma bateria. Ainda conforme a assessoria, um carro elétrico pode vir equipado com mais de mil células individuais, cada qual com capacidade para três a quatro volts.
  • De acordo com o físico Hudson Zanin, professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp e coordenador geral do projeto, o CMB “deverá aprimorar o ecossistema para o desenvolvimento da mobilidade elétrica no País, ampliando tecnologias, treinando recursos humanos especializados e favorecendo a criação de startups”. Destinado à pesquisa e desenvolvimento de tecnologias na área de ciência de materiais, o projeto deverá gerar o aprimoramento de processos para manufatura de eletrodos e eletrólitos e engenharia de células “confiáveis e de alta capacidade”.
  • A expectativa é de que o CMB entre em operação até dezembro deste ano, quando centralizará esforços na realização de uma prova de conceito dos serviços que vai oferecer, incluindo análise de viabilidade técnica e econômica. Participam como parceiros de todo o projeto pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Entre outras, aponta a assessoria, manifestaram interesse em participar do CMB as empresas Bosch, Toyota, Volkswagen, Raízen e Merck.
  • A parceria com empresas e institutos de pesquisa, de fato, está na mira do centro a ser instalado na Unicamp, que deverá funcionar não apenas na manufatura, mas também em testes de validação e certificação de segurança de baterias, seja para aplicação em veículos, seja para uso em computadores e celulares. Assim que for definido o local para sua construção, serão importadas máquinas italianas de grande porte para a produção de células cilíndricas, com capacidade para pintar, compactar, enrolar e encapsular eletrodos.