Com caixa recheado, Caramuru mais do que triplica investimento

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 21 de março de 2023

Num período ainda marcado pelas consequências devastadoras da pandemia, agravadas pelas pressões de custos geradas pela guerra entre Rússia e Ucrânia, que fizeram os preços do petróleo e da energia escalarem em todo o mundo, a Caramuru Alimentos conseguiu manter seus resultados em terreno positivo no ano passado, cumprindo suas metas de crescimento e de geração de caixa pelo quarto exercício consecutivo, conforme assinala o CEO da companhia, Júlio César da Costa. No fechamento do ano, o balanço patrimonial da empresa registrava pouco mais de R$ 2,251 bilhões em caixa, correspondendo a um salto de 177,1% em relação aos R$ 812,234 milhões anotados em 2021.

“Fechamos o ano com caixa suficiente para suportar as necessidades de originação concentradas no primeiro semestre”, anota o executivo, em mensagem aos acionistas. No ano passado, a originação total de grãos (soja, milho e girassol) somou pouco menos de 2,770 milhões de toneladas, numa variação de 5,6% em relação a 2,622 milhões de toneladas originadas em 2021. A folga de caixa abriu espaço para que a empresa pudesse ainda acelerar investimentos em expansão de capacidade e modernização, além de programar novos projetos para 2023.

Entre ampliação da capacidade instalada, aumento da rede de armazéns e melhorias na logística e nas plantas industriais, a Caramuru realizou investimentos de R$ 298,10 milhões, o que correspondeu a um aumento de nada menos do que 259,0% na comparação com R$ 83,03 milhões um ano antes. Em torno de 41,5% daqueles recursos foram destinados a projetos de empresa em Goiás, somando aproximadamente R$ 123,6 milhões, quase quatro vezes acima dos R$ 31,02 milhões investidos em 2021.

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Projetos

A maior parcela dos recursos, num total de R$ 121,0 milhões, foi investida na construção da planta de concentrado proteico de soja geneticamente modificada em Itumbiara, que tem início das operações previsto para o final do segundo trimestre deste ano. Os investimentos restantes tiveram como destino, ainda em Goiás, a interligação da planta de São Simão com o terminal fluvial na região e ainda as linhas de envase de glicerina na unidade de Ipameri. A empresa investiu ainda R$ 74,9 milhões na instalação de um armazém graneleiro em Sorriso (MT). Com capacidade estática para 120,0 mil toneladas, a unidade entrou em operação em fevereiro passado, quando começou a receber soja geneticamente não modificada, “proporcionado rastreabilidade e redução nos custos de originação”, na descrição da companhia. Foram destinados ainda R$ 32,4 milhões para o Porto de Santana, no Amapá, arrematado pela Caramuru em leilão público realizados na B3 em agosto de 2021.

Balanço

  • Entre outros, a companhia investiu R$ 66,0 milhões em manutenção e aprimoramento de sua estrutura e destinou R$ 1,3 milhão para concluir suas plantas de lecitina e de etanol produzido a partir do melaço de soja, em Sorriso.
  • Ao longo deste ano, a empresa programa investir em torno de R$ 285,70 milhões, em torno de 4,2% menos do que o valor desembolsado em 2022, mais acima dos valores investidos em 2020 e 2021 (respectivamente R$ 114,10 milhões e R$ 83,03 milhões, como já registrado).
  • A maior parcela do investimento previsto, em torno de R$ 121,20 milhões (ou 42,4% do total), está prevista para a conclusão da indústria de concentrado de soja, em Itumbiara, ampliando mercados no segmento de “commodities diferenciadas” (que incluem, além do concentrado, glicerina e lecitina), fornecendo ração de alta concentração e base vegetal para aquicultura, por exemplo. A ideia é atender a nichos de mercado na América do Sul e no sudeste da Ásia, que concentra grande polo de produção de pescados e camarão.
  • Num investimento previsto em R$ 78,5 milhões, a empresa pretende iniciar neste ano a instalação de uma nova planta de glicerina bidestilada, agora em Sorriso.
  • As demonstrações financeiras de 2022 registram um avanço de 13,6% para a receita líquida, saindo de R$ 7,592 bilhões para R$ 8,626 bilhões, mas um avanço de 17,4% para os custos totais, que subiram de praticamente R$ 6,969 bilhões em 2021 para R$ pouco mais de 8,183 bilhões. Os custos passaram a representar 94,9% da receita líquida, diante de 91,8% no exercício anterior.
  • Principal item naquela conta, as despesas com a compra de matéria prima aumentaram 22,8%, de R$ 5,510 bilhões (72,6% da receita líquida) para R$ 6,766 bilhões em números aproximados (78,4% da receita). Mas os gastos com fretes e energia e combustíveis saltaram, respectivamente, 33,8% e 29,9%. Os fretes passaram a consumir 7,3% das receitas, somando R$ 631,735 milhões, diante de R$ 472,229 milhões em 2021 (6,2% das receitas). Energia e combustíveis exigiram desembolsos de R$ 161,473 milhões, frente a R$ 124,351 milhões no ano anterior.
  • A pressão dos custos contribuiu para que o resultado líquido recuasse ligeiramente de R$ 353,867 milhões para R$ 348,744 milhões (baixa de 1,4%). A conta de resultados foi favorecida, de toda forma, pelo tombo de 72,1% no prejuízo financeiro líquido, que desabou de R$ 248,843 milhões para R$ 69,488 milhões. As receitas financeiras saltaram pouco mais de 64,0%, avançando de R$ 869,769 milhões para R$ 1,427 bilhão, o que se compara com o aumento de 33,75% nas despesas financeiras (de R$ 1,119 bilhão para R$ 1,496 bilhão).
  • Conforme a empresa, a “forte geração” de caixa medido pelo resultado antes de impostos, despesas financeiras, depreciação e amortizações (Ebitda) “ajudou a manter a alavancagem em níveis baixos”. O Ebtida ajustado avançou de R$ 577,034 milhões para R$ 639,183 milhões, variando 10,8%. A dívida líquida cresceu 16,7%, saindo de R$ 1,395 bilhão para R$ 1,523 bilhão, passando a corresponder a 2,38 vezes o Ebitda (diante de 2,26 vezes em 2021).