Com dados recordes, soja e adubos dominam exportações e importações

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 12 de julho de 2022

Exportações, importações e o saldo entre as duas variáveis atingiram novos valores históricos em Goiás no acumulado dos seis primeiros meses deste ano, com predominância das vendas externa de soja e derivados, numa ponta, e das compras internacionais de adubos, na outra, em meio a incertezas em relação ao suprimento global de fertilizantes e de suas matérias-primas por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia. A China continuou desempenhando papel central, mantendo-se como principal mercado de destino das exportações goianas, excessivamente concentradas na soja em grão.

As vendas externas realizadas a partir de Goiás experimentaram alta de 49,04% entre os primeiros seis meses do ano passado e igual período deste ano, elevando-se de US$ 5,006 bilhões para US$ 7,461 bilhões, num ganho de quase US$ 2,455 bilhões – o que corresponde a praticamente dois meses de exportações, considerando-se o valor médio exportado mensalmente entre janeiro e junho deste ano (algo em torno de US$ 1,244 bilhão).

O incremento foi turbinado pela valorização dos preços dos produtos exportados, com destaque para as commodities de origem agrícola, já que os volumes embarcados cresceram proporcionalmente muito menos. Medidas em volume, as exportações subiram de 8,058 milhões para mais de 9,471 milhões de toneladas, numa variação de 17,54%. Os preços médios das mercadorias vendidas lá fora avançaram 26,8%, saindo de US$ 621,27 para US$ 787,58 por tonelada.

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O avanço das importações, ao contrário, foi impulsionado mais pelo aumento dos volumes desembarcados no País, especialmente por conta das compras de adubos e fertilizantes, que registraram nítida aceleração, refletindo muito provavelmente a decisão dos produtores de antecipar as compras daqueles insumos. O Estado importou perto de US$ 3,129 bilhões no primeiro semestre deste ano, frente a US$ 2,372 bilhões no mesmo intervalo do ano passado, numa elevação de 31,87% (numa alta equivalente a US$ 756,133 milhões). Os preços médios dos bens importados, no entanto, subiram em torno de 8,1%, passando de US$ 1.381 para US$ 1.493 por tonelada.

Termos de troca

Nessa comparação semestral, como se pode perceber nitidamente, os preços relativos dos bens e mercadorias exportados anotaram variação superior àquela registrada na pontas das importações. Essa diferença de comportamento, inversa àquela que tem sido observada para a balança comercial brasileira como um todo, levou a um incremento próximo de 17,4% nos chamados “termos de troca”. Os valores médios por tonelada exportada passaram a corresponder a 52,76% dos preços médios das importações, frente a 44,96% no primeiro semestre de 2021. A relação ainda é desfavorável às exportações, diante da participação de mercadorias de baixo valor agregado nesta área, mas sinaliza alguma melhoria. Numa linguagem mais popular, as importações teriam se tornado um pouco menos caras do que as exportações, permitindo que o Estado precise realizar um esforço exportador menor para comprar bens e produtos lá fora. Dito de outra forma, as transferências de renda do Estado para o mercado internacional sofreram alguma redução.

Balanço

  • O crescimento dos volumes importados superou ligeiramente a marca dos 22,0%, com os desembarques avançando de 1,718 milhão para 2,096 milhões de toneladas. Todo esse crescimento pode ser explicado pelas compras de adubos, que aumentaram 32,2% no primeiro semestre deste ano, passando de 1,198 milhão para 1,584 milhão de toneladas, numa participação de 75,6% sobre o total dos volumes importados.
  • Em valores, as importações de adubos mais do que triplicaram, saltando de US$ 327,112 milhões para US$ 1,092 bilhão, em alta de 233,71%. A diferença explica-se em função do aumento de 272,97% nos preços médios do adubo importado, que aumentaram de US$ 272,97 para US$ 689,11 por tonelada.
  • A diferença entre exportações e importações foi igualmente recorde, com o saldo comercial avançando de US$ 2,934 bilhões para praticamente US$ 4,333 bilhões, correspondendo a um incremento de 64,50% entre o primeiro semestre do ano passado e igual período deste ano. O ganho nesta área girou ao redor de US$ 1,699 bilhões, o que corresponde, por sua vez, a mais do que o superávit acumulado em dois meses em sequência, considerando o saldo comercial médio anotado mensalmente no primeiro semestre deste ano.
  • Quase 79,0% desse saldo (mais precisamente, 78,68% do total) tiveram a participação chinesa. A contribuição da China para o superávit comercial goiano chegou a recuar diante dos 82,95% registrados na primeira metade do ano passado, mas o saldo comercial de Goiás em relação àquele mercado experimentou alta de 56,02%. Em dólares, o superávit passou de US$ 2,185 bilhões para US$ 3,409 bilhões.
  • As exportações goianas para a China cresceram praticamente na mesma proporção, avançando 56,55% e saindo de US$ 2,503 bilhões para US$ 3,919 bilhões. Entre os dois semestres analisados, as vendas para o mercado chinês anotaram incremento aproximado de US$ 1,416 bilhão e contribuíram com 57,66% para o aumento as exportações totais do Estado, indicando uma concentração geográfica ainda relevante.
  • Responsável por pouco mais de metade das vendas externas totais, a soja em grão registrou vendas superiores a US$ 3,807 bilhões (51,03% do total), crescendo 60,1% em relação ao primeiro semestre de 2021, quando as exportações do grão haviam somado US$ 2,378 bilhões (47,5% do total). Segundo item no ranking das exportações, o farelo de soja registrou vendas externas de US$ 664,916 milhões diante de US$ 368,732 milhões nos mesmos seis meses do ano passado, saltando 80,32%. Os dois itens responderam por 70,3% do incremento acumulado pelo total das exportações goianas no primeiro semestre.
  • O desempenho das importações foi afetado negativamente pelo tombo de 67,21% nas compras de energia da Argentina e do Uruguai, que despencaram de US$ 515,532 milhões para US$ 169,026 milhões. Excluído esse item da pauta de importações, houve crescimento de 59,38% para as importações restantes, variando de US$ 1,857 bilhão para quase US$ 2,960 bilhões. Pero de 69,3% desse aumento deveu-se, mais uma vez, às compras de adubos.
  • Houve ainda incremento de quase 70,0% nas importações de caldeiras, máquinas, equipamentos e aparelhos mecânicos (de US$ 174,811 milhões para US$ 296,918 milhões) e alta de 29,2% nas compras de veículos, partes, peças e acessórios (de US$ 188,303 milhões para US$ 243,317 milhões). As importações de produtos farmacêuticos registraram variação de apenas 4,94%, passando de US$ 590,367 milhões para US$ 619,559 milhões.