Comércio suspira em janeiro, mas sinais continuam negativos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de abril de 2023

A reação esboçada pelas vendas do comércio varejista convencional e do varejo ampliado no primeiro mês do ano, depois de dois resultados mensais negativos em sequência, pode ter vida curta diante do cenário observado nos meses seguintes e especialmente em função dos impactos do arrocho imposto pela política de juros escorchantes sobre os negócios em geral. As perspectivas adiante ainda são nebulosas, permanecendo no horizonte o risco de um agravamento no quadro de inadimplência das famílias e das empresas e da ameaça de uma crise na oferta de crédito associada a juros excessivamente elevados, a se considerar a redução dos índices de inflação e a queda persistente dos preços no atacado, numa tendência já observada ao longo dos últimos nove meses.

Essa redução nos preços pagos por empresas e pelos produtores no mercado atacadista pode refletir situações específicas de alguns mercados, a exemplo da soja e do milho, que têm seus preços pressionados para baixo como resultado de colheitas recordes no País na atual safra. Mas reflete ainda, ao atingir outras matérias-primas, insumos e produtos industriais, uma provável dificuldade de as empresas praticarem preços mais elevados como reflexo de uma demanda debilitada.

A pesquisa mensal do comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), agora com uma série renovada e incluindo no varejo amplo o setor de atacado de alimentos, bebidas e fumo, apontou avanço de 3,8% para as vendas no varejo convencional na passagem de dezembro para janeiro. O suspiro veio depois de dois meses no vermelho, com recuo de 0,7% em novembro e baixa de 2,8% em dezembro, sempre em relação aos meses imediatamente anteriores.

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As vendas do setor praticamente não saíram do lugar entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, acumulando oscilação inferior a 0,25% na série com ajuste sazonal (quer dizer, descontados fatores que se repetem em períodos determinados do ano e que poderiam distorcer a comparação e induzir a equívocos na análise da tendência de fato observada).

Abaixo de fevereiro de 2020

O volume de vendas no varejo ampliado, que contempla concessionárias de veículos e motos, lojas de autopeças e de materiais de construção e, agora, também atacadistas de alimentos, bebidas e cigarros, registrou variação de apenas 0,2% entre dezembro e janeiro, com recuo de 0,2% para veículos, motos e peças e avanço de 2,9% para materiais de construção. O IBGE ainda não registra dados dessazonalizados mês a mês para o mais novo setor incluído no varejo amplo, mas as vendas no atacado de produtos alimentícios, bebidas e fumo experimentaram baixa de 0,9% em relação a janeiro do ano passado. No geral, o volume vendido por todo o varejo em seu conceito mais amplo variou 0,5% em relação ao primeiro mês do ano passado, depois de ter experimentado quedas de 1,4% e de 0,6% em novembro e dezembro (aqui, na comparação com idênticos períodos do ano anterior). O desempenho frágil nos últimos meses explica a redução de 1,3% em relação a fevereiro de 2020, mês que antecede o início da pandemia no País e as primeiras medidas mais duras de distanciamento social.

Balanço

  • De volta ao varejo tradicional, as vendas no setor avançaram 1,4% em novembro, 0,4% em dezembro e 2,6% em janeiro, em relação aos mesmos meses do ano anterior. O crescimento em janeiro deste ano refletiu principalmente o salto de 26,7% nas vendas de combustíveis, favorecidas pela redução de impostos operada às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. O setor contribuiu com 2,3 pontos percentuais para a elevação de 2,6% registrada por todo o comércio varejista.
  • Na média geral, o volume de vendas do varejo superou em 3,3% os níveis observados em fevereiro de 2020, mas 60% dos setores acompanhados pelo IBGE permaneciam abaixo dos resultados colhidos no mês imediatamente anterior ao começo da pandemia. Farmácias, combustíveis, construção e hiper/supermercados asseguraram o avanço do varejo tradicional ao longo do período.
  • Num olhar de mais longo prazo, os dados desnudam a baixa capacidade de crescimento experimentada pelo varejo nos dois formatos considerados pelo IBGE. O comércio varejista ampliado registrava ainda um tombo de 7,3% na comparação com agosto de 2012, quando registrou sua melhor marca na série histórica. No varejo convencional, as vendas atingiram em janeiro deste ano um volume 2,9% mais baixo do que em outubro de 2020, nível mais alto da série.
  • O retrocesso frente aos meses mais positivos da série de dados surge de forma mais dura para os setores de móveis e eletrodomésticos (retrocesso de 24,5% frente a setembro de 2020); veículos, motos e peças (baixa de 27,8% em relação a agosto de 2012); artigos de uso pessoal e doméstico (retração de 30,0% diante de julho de 2021); equipamentos para escritórios, informática e comunicação (baixa de 36,0% na comparação com janeiro de 2015); e livrarias, papelarias, jornais e revistas (num tombo de nada menos do que 72,9% frente a janeiro de 2013).
  • Os números do comércio para Goiás vieram acima da média nacional, mas igualmente não sinalizam fôlego mais longo. Na comparação com dezembro, quando as vendas oscilaram 0,6% para cima frente a novembro, o volume vendido pelo varejo convencional cresceu 2,9% em janeiro. Em novembro, registrou-se baixa de 1,4% diante de outubro. O volume vendido continuava 2,2% menor do que em fevereiro de 2020 e, entre julho de 2021 e janeiro deste ano, a pesquisa anotou baixa de 4,4%. Não surpreende que as vendas do varejo experimentem retração de 29,8% em relação ao seu melhor resultado histórico, registrado em fevereiro de 2014.
  • O varejo ampliado, ainda em Goiás, cresceu 4,9% de dezembro do ano passado para janeiro deste ano, provavelmente em função da forte recuperação no setor de veículos, motos e peças. Comparadas a janeiro do ano passado, as vendas do setor saltaram 31,1%, o que ajudou a elevar em 4,4% o volume vendido em todo o varejo amplo, agora em relação ao primeiro mês do ano passado. Ainda no varejo ampliado, as vendas bateram os números de fevereiro de 2020, crescendo 10,7% – mas mantinham-se 22,6% abaixo do seu melhor desempenho, registrado em agosto de 2012.