Concessão de crédito às famílias para compra de imóveis sofre baixa de 31,6%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 08 de novembro de 2023

A desaceleração no ritmo de crescimento dos novos empréstimos contratados por empresas e pessoas físicas, em valores ajustados sazonalmente – ou seja, com exclusão de fatores e eventos que todos os anos ocorrem num mesmo período –, tem sido acompanhada de uma retração relativamente importante nas contrações de financiamentos no mercado de imóveis. Parte dessa redução parece associada a uma redução no nível dos negócios naquela área e outra parte estaria ligada ao avanço mais vigoroso observado entre 2019 e 2020, num aumento acumulado de 47,5% em termos nominais, correspondendo a uma alta real de pouco mais de 35,0% ao longo de dois anos.

Ainda sem ajustes sazonais, na série de dados do Banco Central (BC), as concessões de novos créditos ao mercado imobiliário sofreram baixa de 25,1% na comparação entre o terceiro trimestre deste ano e igual período de 2022, saindo de R$ 55,781 bilhões para R$ 41,756 bilhões. Houve crescimento acentuado nas contratações de empréstimos novos pelas empresas do setor, com elevação nominal de praticamente 26,8% na mesma comparação, com as concessões elevando-se de R$ 6,163 bilhões para R$ 7,813 bilhões.

Mas as operações com pessoas jurídicas naquele mercado, como se pode perceber, representam menos de 19% das operações totais no setor imobiliário, incluindo empréstimos a taxas reguladas e aqueles a juros de mercado. No segmento de pessoas físicas, esse tipo de concessão vem em queda desde 2021 e, neste ano, não houve exceção. As contratações de financiamentos para pessoas físicas no terceiro trimestre deste ano, na faixa de R$ 33,943 bilhões, anotaram uma retração de 31,59% em relação ao mesmo trimestre de 2022, quando as concessões haviam alcançado R$ 49,618 bilhões. Nessa comparação, o crédito imobiliário para as famílias encolheu R$ 15,675 bilhões – ou seja, ainda em dados nominais, a redução no período foi maior do que toda a contratação ocorrida em setembro deste ano, próxima de R$ 14,215 bilhões.

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Desaquecimento

A velocidade de crescimento das concessões, envolvendo a contratação de novos empréstimos e financiamentos por empresas e famílias no mercado financeiro, vinha perdendo fôlego, depois do crescimento de 19,03% na comparação entre o terceiro trimestre de 2021 e igual trimestre do ano seguinte, saindo de R$ 1,287 trilhão para R$ 1,532 trilhão em valores aproximados. No terceiro trimestre deste ano, as operações somaram R$ 1,574 trilhão, correspondendo a uma variação de 2,78%. No curtíssimo prazo, os dados sugerem alguma reação, embora o período seja ainda muito reduzido para antecipar mudanças de tendência. Entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, as contratações em todo o sistema financeiro haviam recuado 0,75%, passando de pouco menos do que R$ 1,520 trilhão para R$ 1,508 trilhão. No terceiro trimestre, tomando os três meses imediatamente anteriores como referência, as concessões avançaram 4,37%.

Balanço

  • A contração do crédito atingiu principalmente as pessoas jurídicas, com as novas contratações de empréstimos recuando 1,53% a valores ajustados, desde o terceiro trimestre de 2022 até o mesmo intervalo deste ano. Neste caso, as concessões saíram de R$ 699,6 bilhões para R$ 688,9 bilhões. Apenas como referência, as novas contratações de empréstimos e financiamentos haviam experimentado alta de 19,71% entre o terceiro trimestre de 2021, quando haviam atingido R$ 584,4 bilhões, e igual período do ano seguinte.
  • As concessões lastreadas em recursos livres, quer dizer, contratadas a juros de mercado, experimentaram tendência semelhante, com a alta de quase 19,0% observada no terceiro trimestre do ano passado substituída por uma variação de 3,42% no mesmo trimestre deste ano, na comparação com 2022. A valores ajustados sazonalmente, aquelas operações passaram de R$ 1,136 trilhão no terceiro trimestre de 2021 para R$ 1,351 trilhão no mesmo período do ano seguinte, chegando neste ano a pouco menos de R$ 1,398 trilhão, na soma das operações realizadas entre julho e setembro.
  • O corte da taxa básica de juros até aqui teve impacto limitado sobre o custo do crédito no segmento livre, quando considerado o nível exorbitante das taxas impostas a empresas e às famílias. Na média, os juros estacionaram em 43,3% ao ano em setembro deste ano, abaixo dos 45,0% registrados em maio, mas bem acima ainda dos 40,5% observados em setembro do ano passado.
  • Os spreads no mesmo intervalo subiram de 28,4% para 32,0%, embora não seja imprudente supor que os custos de captação dos bancos tenham sofrido alguma redução por conta da queda dos juros básicos de 13,75% para 13,25% entre setembro do ano passado e as três primeiras semanas de igual mês deste ano. Os spreads correspondem à diferença entre o custo do dinheiro levantado no mercado pelos bancos e as taxas cobradas de tomadores de empréstimos. Mais precisamente, os juros pagos pelo setor financeiro a investidores em geral ficaram menores, mas o reflexo dessa redução sobre os juros cobrados pelos bancos foi mínimo, o que significa dizer que a “margem” de ganho do sistema avançou em alguma medida.
  • O desaquecimento no mercado de crédito apenas não foi mais intenso por conta da atuação renovada do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As concessões de novos empréstimos pelo banco experimentaram elevação de 12,8% entre o terceiro trimestre do ano passado e o mesmo período deste ano, saindo de R$ 22,097 bilhões para R$ 24,930 bilhões. Comparado ao segundo trimestre também deste ano, quando haviam somado R$ 14,415 bilhões, as concessões saltaram 72,9%.