Consultas ao BNDES atingem segundo menor valor em 27 anos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 30 de junho de 2022

A intenção de investimentos das empresas continuava a retroceder no primeiro trimestre deste ano, a se considerar os dados sobre o total de consultas encaminhadas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), primeiro passo para a contratação de recursos do banco de fomento. Na comparação com os mesmos três meses do ano passado, em valores atualizados com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as consultas caíram 24,49%, baixando de R$ 19,047 bilhões para R$ 14,383 bilhões.

Na série histórica do BNDES, iniciada em 1995, as consultas anotaram neste ano o segundo menor valor para um primeiro trimestre em 27 anos, superando apenas os R$ 10,871 bilhões alcançados em 2019, ambas marcas registradas durante o atual desgoverno. Além da baixa disposição para investir no mundo corporativo, os dados refletem ainda o processo de desmonte a que o principal banco de fomento do País tem sido submetido desde o governo passado, que passou a exigir de volta os recursos injetados pelo Tesouro Nacional para reforçar a capacidade de empréstimo do banco nos anos anteriores e, na sequência, a partir de janeiro de 2018, tornou mais caros os financiamentos do BNDES ao substituir a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) pela Taxa de Longo Prazo (TLP), atualmente equivalente à variação do IPCA mais uma parcela fixa de 5,01% ao ano.

Ainda em termos reais, a valores de março deste ano, as consultas realizadas no primeiro trimestre de 2022 corresponderam a apenas 11,53% do total registrado no acumulado dos primeiros três meses de 2009, indicando uma queda de 88,47% deste lá. Para comparação, entre janeiro e março de 2009, as consultas haviam somado R$ 124,753 bilhões.

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Tombo ainda maior

Para Goiás, as consultas experimentaram um tombo ainda mais expressivo, despencando nada menos do que 47,2% em termos nominais, ou seja, quando se consideram valores não corrigidos com base na inflação. Descontado o IPCA, a queda real teria se aproximado de 57%. Ainda em números não corrigidos, as consultas realizadas pelas empresas instaladas no Estado murcharam de R$ 836,977 milhões para R$ 441,887 milhões, também entre o primeiro trimestre do ano passado e idêntico período deste ano. O setor de comércio e serviços liderou as consultas, concentrando um terço do total, atingindo algo em torno de R$ 147,0 milhões nos dados aproximados divulgados pelo BNDES. A agropecuária surge na segunda posição, com consultas na faixa de R$ 132,0 milhões, seguida pelo setor de infraestrutura, somando algo em torno de R$ 130,0 milhões, dos quais praticamente 78,5% na área de energia elétrica, onde as consultas chegaram a R$ 102,0 milhões. A indústria em geral aparece com modestíssimos R$ 33,0 milhões.

Balanço

  • Em todo o País, o retrocesso observado no total das consultas foi influenciado sobretudo pelo setor de infraestrutura, que sofreu retração de praticamente 49,5% em termos reais. Em valores constantes, ou seja, atualizados com base no IPCA até março deste ano, as consultas para financiamento de projetos naquela área desabaram de R$ 7,906 bilhões para R$ 3,995 bilhões. Quer dizer, a procura por recursos do banco no setor sofreu baixa correspondente a R$ 3,911 bilhões.
  • Da mesma forma, foi o segundo pior resultado em toda a série histórica, superando somente os números do primeiro trimestre de 2019, quando as consultas no segmento de infraestrutura haviam registrado R$ 2,343 bilhões, volume mais baixo desde pelo menos 1995 – sempre considerando os três primeiros meses de cada ano. O melhor momento do setor, no mesmo intervalo, havia sido alcançado em 2010, com as consultas chegando a R$ 44,409 bilhões. Isso significa que o total registrado entre janeiro e março deste ano representou apenas 9,0% das consultas realizadas há 12 anos, refletindo um tombo de 91,0%.
  • Houve perdas em quase todos os grandes setores da economia, numa exceção para comércio e serviços. As consultas aqui saltaram 35,87% em relação ao acumulado nos três primeiros meses do ano passado, avançando de R$ 3,426 bilhões para R$ 4,655 bilhões. Na séria histórica, não prece ser, de fato, um número muito abaixo da média para o período, mas registra baixas importantes em relação a 2020, por exemplo, quando as consultas haviam atingido R$ 10,510 bilhões. A comparação mostra queda de 55,7% em dois anos.
  • O melhor desempenho das consultas naquela área foi registrado no trimestre inicial de 2013, com valores próximos a R$ 29,079 bilhões. A comparação com os números atuais torna-se, como óbvio, mais desconcertante, mostrando uma retração de 84% em termos reais.
  • O setor de energia elétrica, afetado por turbulências políticas e desmandos, problemas climáticos e decisões equivocadas do desgoverno federal, derrubou as consultas em infraestrutura. O menor volume de projetos para o setor elétrico derrubou as consultas de praticamente R$ 4,777 bilhões nos primeiros três meses do ano passado para apenas R$ 468,129 milhões neste ano, também entre janeiro e março, numa queda de 90,20%.
  • A construção apresentou ao BNDES consultas para a contratação de R$ 267,325 milhões nos três primeiros meses deste ano, o que se compara a R$ 1,176 bilhão em igual intervalo do ano passado, significando um revés de 77,27%. Mas a demanda no setor de transporte rodoviário registrou alta de 49,10%, com o total de consultas subindo de R$ 1,730 bilhão para pouca coisa abaixo de R$ 2,580 bilhões.
  • Na indústria em geral, as consultas experimentaram baixa de 19,45%, saindo de R$ 4,522 bilhões para R$ 3,643 bilhões, com a indústria de alimentos e bebidas transformando-se na principal influência negativa. Nesta área, as consultas desabaram de praticamente R$ 1,050 bilhão para 481,684 milhões – uma retração de 54,41% já descontada a inflação. As consultas da agropecuária encolheram de R$ 3,193 bilhões para pouco menos de R$ 2,090 bilhões, caindo 34,56%.