Corte de juros traria ganhos 5 vezes maiores do que “congelar” gasto social
Numa das peças que compõem a ofensiva dos “loucos por arrocho fiscal”, um grande jornal especializado em economia e negócios publicou ontem material sobre as propostas hoje em cena para promover o tal ajuste nas despesas públicas – resumidos num movimento único de arrocho sobre os gastos sociais. Entre outros caminhos sugeridos pelos tais especialistas […]
Numa das peças que compõem a ofensiva dos “loucos por arrocho fiscal”, um grande jornal especializado em economia e negócios publicou ontem material sobre as propostas hoje em cena para promover o tal ajuste nas despesas públicas – resumidos num movimento único de arrocho sobre os gastos sociais. Entre outros caminhos sugeridos pelos tais especialistas em contas públicas, sugere-se o congelamento virtual dos desembolsos para fazer frente a despesas com benefícios previdenciários, seguro desemprego, abono salarial e dos benefícios de prestação continuada, que beneficiam – suprema heresia – deficientes físicos e idosos de baixíssima renda, em geral arrimos de família.
A ideia sugerida por um daqueles especialistas, ligado a um badalado banco de investimentos (como não poderia deixar de ser), incluiria a atualização dos valores destinados àquelas áreas com base na inflação, decretando, na prática, seu congelamento em termos reais – ainda que a população mais idosa tenda a crescer em velocidade mais acentuada do que a taxa média observada para todo o restante da população brasileira e mesmo que a economia venha a apresentar taxas de crescimento mais acentuadas. A correção passaria a não mais acompanhar a variação do salário mínimo e deixaria de incorporar, por óbvio, ganhos reais daqui em diante.
Nessa conta, ainda sem a divulgação de suas premissas e bases para os cálculos efetuados, o governo central deixaria de gastar algo como R$ 313,651 bilhões ao longo de uma década, o que representaria uma redução anual em torno de R$ 31,365 bilhões, numa conta aproximada, perto de 0,30% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado para este ano. Como sempre, os tais “especialistas” desprezam as pressões fiscais causadas pelos juros estratosféricos praticados no País, que tem produzido maior endividamento e concentração de riquezas em benefício exclusivo dos muito ricos, quer dizer, dos donos verdadeiros no dinheiro.
Questão de prioridade
Os dados do próprio Banco Central (BC) mostram, por exemplo, que um corte de apenas um ponto percentual sobre a taxa básica de juros, atualmente mantida em 10,5% ao ano, traria uma redução de R$ 45,5 bilhões sobre o estoque da dívida bruta do governo geral ao longo de 12 meses. Caso a necessidade de promover o desenvolvimento do País sobre bases sustentadas estivesse entre os objetivos do BC, como determina seu mandato, de resto referendado pelo Congresso, o corte nos juros poderia muito bem ser mais arrojado. Considere-se a perspectiva e um corte de três pontos percentuais (hoje irreal, dado o nível de radicalização no debate econômico e seu viés nitidamente anti-povão). Neste caso, seria possível produzir uma redução de R$ 159,25 bilhões na dívida, quer dizer, cinco vezes mais do que toda a “economia” que seria realizada a partir do congelamento das despesas sociais.
Balanço