Crédito ampliado registra terceiro ano de queda em relação ao PIB

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 07 de fevereiro de 2024

O saldo do crédito total contratado por todos os setores da economia registrou em 2023 o terceiro ano de queda na comparação com o total das riquezas e rendas geradas pelo País, consolidado no Produto Interno Bruto (PIB). Como exceção, os empréstimos e outras operações de crédito destinadas às famílias experimentaram o sétimo ano consecutivo de avanços na relação entre o saldo do crédito ampliado e o PIB, atingindo um volume recorde em dezembro do ano passado. Na contramão, para contrariar mais uma vez o “esquadrão austericida”, o crédito tomado pelo governo, em sua forma mais ampla, atingiu seu nível mais baixo desde novembro de 2017.

As estatísticas divulgadas ontem pelo Banco Central (BC) mostram que o estoque do crédito ampliado cresceu apenas 4,3% entre dezembro de 2022 e o mesmo mês do ano seguinte, passando de R$ 14,956 trilhões para R$ 15,593 bilhões, agregando mais R$ 637,0 bilhões. A relação entre o estoque do crédito ampliado e o PIB havia subido de 138,4% para 157,0% entre 2019 e 2020, durante a pandemia, recuando para 151,0% em 2021, para 148,3% no ano seguinte, encerrando 2023 em 143,4%. Desde 2020, portanto, essa relação sofreu redução equivalente a 13,6 pontos percentuais na comparação com o PIB.

O crédito destinado ao governo, incluindo empréstimos, títulos públicos e dívida externa, praticamente não saiu do lugar entre o mês final de 2022 e igual período de 2023. Na verdade, houve mesmo um ligeiro recuo de 0,3%, com o saldo baixando levemente de R$ 6,257 trilhões para R$ 6,238 bilhões (ou seja, R$ 19,0 bilhões a menos). A relação com o PIB despencou de 62,1% para 57,4%, percentual mais baixo, como já registrado, desde os 57,0% anotados em novembro de 2017. O nível mais alto de endividamento do setor público foi registrado em fevereiro de 2021, quando alcançou 71,7%. A participação do governo no crédito total caiu de 44,6% naquele mês para 41,8% em dezembro de 2022, alcançando apenas 40,0% em dezembro do ano passado.

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Foco de preocupação

O endividamento das famílias, mesmo diante dos ganhos de renda, da melhoria do emprego e da queda da inflação, continua sendo uma preocupação, já que mantém tendência de alta proporcionalmente ao PIB desde 2017, numa fase marcada por fortes oscilações das taxas básicas de juros, com alta expressiva num primeiro momento, seguida de baixa vigorosa durante a pandemia, elevação draconiana na fase seguinte e de um período mais recente de redução angustiantemente lenta. O crédito ampliado das famílias avançou e 27,8% do PIB em 2016 para o recorde de 34,8% no final de 2023, passando a somar R$ 3,781 trilhões. Na comparação com 2022, o BC registra crescimento de 10,3%. 

Balanço

  • O total de empréstimos e de outras formas de captação de recursos nos mercados local e externo pelas empresas vem encolhendo desde 2021, quando havia anotado 52,3% do PIB, frente a 54,3% no ano mais crítico da pandemia, encerrando 2023 na faixa de 51,3%. Na comparação entre dezembro de 2022 e o mesmo mês de 2023, o saldo daqueles créditos cresceu mais lentamente do que o PIB nominal, variando pouco menos do que 5,8% e avançando de R$ 5,272 trilhões para R$ 5,575 trilhões, sempre de acordo com o BC.
  • Embora 2023 tenha se encerrado com alguns focos de pressão inflacionária, janeiro chegou mostrando desaceleração dos preços no atacado, o que poderá ver a influenciar na queda da inflação ao consumidor mais à frente. Divulgado ontem, o Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) registrou baixa de 0,27% em janeiro, a menor variação desde a queda de 0,40% captada em julho do ano passado, quando os indicadores de preços que capturam as variações no mercado atacadista e ao produtor encontravam-se em baixa (o que, por sua vez, ajudaria a derrubar a variação dos preços pagos pelos consumidores nos meses seguintes).
  • Para comparar, em dezembro o IGP-DI havia subido 0,64%. Diante do comportamento em janeiro, o índice passou a acumular queda de 3,61% em 12 meses. Num exemplo da desinflação ocorrida, em janeiro do ano passado, a variação em 12 meses havia sido positiva em 3,01%. A pesquisa da FGV registrou baixa de 1,48% em janeiro deste ano para os produtos agropecuários, analisados em conjunto, revertendo a tendência de elevação registrada nesta área desde outubro passado. “Esse movimento foi influenciado pela sazonalidade e pelas preocupações com os impactos do fenômeno El Niño na próxima safra. No entanto, a partir de janeiro, observou-se uma diminuição nos efeitos sazonais e, considerando as precipitações nas áreas produtivas, os danos previstos pelo El Niño parecem ser menos severos do que o esperado. Essa perspectiva é reforçada pela tendência de queda nos preços de commodities significativas, como a soja, que passou de uma alta de 1,30% para uma queda de 11,28%, e a cana-de-açúcar, que se moveu de um aumento de 0,30% para uma redução de 1,33%”, analisa André Braz, coordenador dos índices de preços da fundação.
  • O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que responde por 60% do IGP-DI, saiu de alta de 0,79% em dezembro para queda de 0,59% em janeiro deste ano. Já o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) anotou aceleração ao sair de 0,29% em dezembro passado para 0,61% em janeiro, influenciado pelas altas nos preços de materiais escolares e matrículas, sazonalmente registradas nesta época do ano. Ainda sob efeito dos aumentos nos preços de hortaliças e legumes, o custo da alimentação voltou a pressionar, subindo 1,54% no mês (diante de 1,01% em dezembro).
  • Pesquisa realizada pela Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) entre 3 e 18 de janeiro deste ano, em parceria com o site de notícias Poder 360, aponta que 93% dos grandes e médios empresários apostam no crescimento das receitas de suas empresas neste ano. Metade dos empresários ouvidos acreditam em crescimento superior a 15%, segundo a assessoria da entidade. A mudança no ânimo empresarial teria sido motivada sobretudo pelo aumento das vendas no mercado doméstico, apontado por 72% dos entrevistados, “maior capacidade de produção ou prestação de serviços (49%) e ganho de eficiência ou redução de custos (49%)”, registra a câmara.