Reservas recuperam em 2023 metade das perdas registradas em 64 meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 06 de fevereiro de 2024

Entre o início da segunda semana de setembro de 2017 e o último dia de 2022, as reservas internacionais do País haviam sofrido uma queda de 15,37%, reduzidas de US$ 383,662 bilhões para US$ 324,703 bilhões em função de fatores conjunturais, mas também por conta de decisões de política econômica tomadas à época. Em pouco mais de cinco anos – ou mais precisamente em 64 meses –, o País havia torrado em torno de US$ 58,959 bilhões de suas reservas em moeda forte. Nos 12 meses seguintes, aqueles valores haviam subido em torno de 9,34% e atingido em dezembro passado perto de US$ 355,034 bilhões, o que correspondeu a uma recomposição próxima de US$ 30,331 bilhões no período – quer dizer, qualquer próxima de 51,4% das perdas acumuladas no período anterior analisado aqui.

A recuperação guarda relação aproximada com o que tem ocorrido mais recentemente com as contas externas do País e igualmente à decisão do Banco Central (BC) de reduzir ou mesmo eliminar suas intervenções no mercado de dólar ao longo do ano passado, considerando um período de certa estabilidade no câmbio (quer dizer, na cotação do dólar em reais). Aqueles valores oscilaram nas primeiras semanas deste ano, chegando a US$ 352,462 bilhões em 17 de janeiro e elevando-se para US$ 354,255 bilhões no primeiro dia deste mês, ainda acima dos níveis de dezembro de 2022.

De toda forma, são níveis elevados no histórico das contas externas brasileiras, que enfrentou décadas de falta de dólares e crises recorrentes em função disso desde o começo dos anos 1980. Ao final do período FHC, 31 de dezembro de 2002, as reservas somavam apenas US$ 37,823 bilhões, o equivalente a 78,3% de tudo o que o País havia importado naquele ano. 

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Histórico recente

Para comparação, o estoque de moedas fortes na conta de reservas do BC, em dezembro passado, era 34,5% maior do que o total das compras de bens realizadas lá fora pelo País. Ao final de 2010, numa reviravolta em relação às políticas econômicas anteriores de apreciação do dólar, que produziram quebradeira e desindustrialização, as reservas haviam saltado para US$ 288,575 bilhões, sete vezes maiores do que aquelas acumuladas até o final de 2002. Em oito anos, o País conseguiu somar a suas reservas algo em torno de US$ 250,752 bilhões. Mais US$ 80,966 bilhões ajudariam a engordar as reservas até 31 de agosto de 2016, elevando o saldo para US$ 369,541 bilhões, numa variação de 28,06% em cinco anos e oito meses. Antes de iniciar a trajetória de perdas, mais US$ 14,121 bilhões foram depositados na conta do Brasil, com as reservas subindo 3,82% em quase 12 meses, para aqueles US$ 383,662 bilhões.

Balanço

  • As estatísticas do setor externo divulgadas ontem pelo BC mostram que o déficit na conta de transações correntes, que consolida as relações econômicas e comerciais do País com o restante do mundo, experimentou um tombo de 40,7%, encolhendo de US$ 48,253 bilhões em 2022 para US$ 28,616 bilhões no ano passado – em torno de US$ 19,637 bilhões a menos. Foi o menor déficit desde 2017, quando a conta havia registrado saídas líquidas de dólares (ou seja, já descontados os dólares que entraram no Brasil) de US$ 25,337 bilhões.
  • A melhora pode ser explicada fundamentalmente pelo desempenho histórico da balança comercial (exportações menos importações), puxado por uma variação apenas modesta das exportações, mas especialmente pelo tombo nas importações. As vendas externas saíram de US$ 340,328 bilhões para US$ 344,409 bilhões, variando apenas 1,2%, num acréscimo de US$ 4,081 bilhões, o que explicou apenas 11,2% do crescimento acumulado pelo saldo comercial, considerando apenas vendas e compras externas de bens.
  • O impacto maior ficou por conta das importações, que caíram de US$ 296,175 bilhões para US$ 263,891 bilhões entre 2022 e 2023, numa redução de 10,9%, equivalente a US$ 32,284 bilhões – o que representou 88,8% do aumento experimentado pelo saldo comercial na mesma comparação. O superávit entre exportações e importações de bens saltou 82,36% no período, elevando-se de US$ 44,153 bilhões para o recorde de US$ 80,518 bilhões, ou seja, US$ 36,365 bilhões a mais.
  • O ganho compensou com folga a escalada das despesas do País com juros e remessas de lucros e dividendos. No primeiro caso, os juros remetidos para matrizes de multinacionais que operam aqui dentro e empresas de um mesmo grupo econômico dispararam, crescendo 41,4% entre os dois anos analisados, saindo de US$ 19,580 bilhões para US$ 27,685 bilhões. As remessas de lucros e dividendos subiram 21,5%, avançando de US$ 37,051 bilhões para US$ 45,023 bilhões. Nesta soma, as despesas registram um acréscimo de US$ 16,077 bilhões.
  • O balanço no setor de serviços, que inclui despesas com transportes, viagens internacionais, aluguel de equipamentos, remessas de royalties e outras, mostrou redução de 5,10% no déficit, que encolheu levemente de US$ 39,618 bilhões para US$ 37,597 bilhões (numa redução de US$ 2,021 bilhões).
  • Na conta dos serviços, pesou especialmente a redução de 40,8% nos gastos com frete, como consequência da regularização das redes globais de suprimento e de logística – novamente ameaçadas pela guerra na faixa de Gaza e suas repercussões no mundo árabe. De toda forma, os gastos com fretes recuaram fortemente de US$ 15,756 bilhões para US$ 9,328 bilhões.
  • Outros dois itens de pressão naquela conta foram as remessas para os setores de telecomunicações, computação e informações, que saltaram 38,2% (de US$ 4,249 bilhões para US$ 5,872 bilhões), e gastos com aluguel de equipamentos, que subiram 12,48% (de US$ 8,270 bilhões para US$ 9,302 bilhões).
  • O investimento estrangeiro aqui dentro sofreu baixa de 16,96% entre 2022 e 2023, caindo de US$ 74,606 bilhões para US$ 61,952 bilhões. Como o déficit em transações correntes desabou, a relação entre investimentos e o resultado final daquela conta melhorou. Nos 12 meses de 2022, o investimento externo havia superado o déficit em 54,6%. No final do ano passado, o investimento foi mais de duas vezes maior do que o rombo, numa diferença de 116,5%.