Dados sugerem tombo entre 6% e 7% no investimento no segundo trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 02 de agosto de 2023

Entre os três componentes que ajudam a dar números ao investimento, pelo menos dois deles enfrentam uma fase mais complicada e tendem a continuar empurrando para baixo todo o setor, enredados em custos muito elevados de capital e ainda sob a perspectiva de crescimento modesto para a demanda, se tanto – o que tem emperrado a retomada do ciclo de decisões de investir no meio empresarial. Os indicadores para os setores de máquinas e equipamentos e para a construção civil corroboram a perda de ímpeto do investimento em toda a economia, numa dimensão não compensada pelo avanço em geral constante anotado no setor de tecnologia e especialmente no segmento de fabricação de softwares, observa a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim de Conjuntura do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Nas suas estimativas, a chamada “absorção doméstica” de máquinas e equipamentos, que dizer, a soma dos volumes produzidos e importados pelo setor, descontadas as exportações, tende a registrar queda de 6% a 7% no segundo trimestre deste ano, em relação aos mesmos três meses do ano passado. Esse comportamento deve se traduzir em mais um período de redução do investimento em geral, o que tende a afetar a capacidade de crescimento da economia no futuro imediato, já que a capacidade de produção de novos bens e mercadorias será inevitavelmente afetada pela ausência de investimentos em volume suficiente para sustentar uma demanda maior, quando a disposição de consumo das famílias e de toda a economia vier a ser retomada.

No primeiro semestre deste ano, a indústria de bens de capital, basicamente constituída por fabricantes de máquinas e equipamentos para todos os demais setores da economia, além de caminhões e ônibus, registrou baixa de 9,7% em relação ao mesmo período do ano passado, com quedas de 6,8% e de 12,4% no primeiro e no segundo trimestres, respectivamente, também considerando idênticos intervalos de 2022. Segundo a pesquisa mensal da produção industrial Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referente a junho, as perdas atingiram as indústrias de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, com baixa de 11,6% no semestre, e redução de 5,8% para máquinas e equipamentos. No embalo, o setor de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos recuou 3,1%.

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Ânimo reduzido

A construção civil, na análise de Silvia, observou algum ânimo no ano passado, quando a situação de caixa mais favorável e a proximidade das eleições induziram os governos regionais a investirem mais em obras de infraestrutura, comportamento que não se repetiu na primeira metade deste ano. Entre outros fatores, a arrecadação dos Estados sofreu o baque da redução do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, energia e comunicações a partir de junho do ano passado, o que afetou suas receitas negativamente, como era de se esperar, reduzindo sua capacidade de investimento principalmente nos primeiros meses deste ano.

Balanço

  • Na leitura do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a trajetória observada “aponta para a ausência de investimentos no setor, provocando o envelhecimento de seu maquinário e comprometendo sua produtividade. Recente sondagem da CNI (Confederação Nacional de Indústria) aponta nesta direção. A idade média das máquinas e equipamentos industriais no Brasil é de 14 anos e quase 40% estão próximos ou já ultrapassaram a idade sinalizada pelo fabricante como ciclo de vida ideal. Sem se modernizar, será mais difícil uma retomada consistente da indústria nacional”.
  • A produção industrial, de acordo com a pesquisa do IBGE, voltou a derrapar em junho, reafirmando uma tendência observada praticamente desde a recessão de 2015/16. Na comparação com maio, a produção virtualmente não avançou, variando 0,1%. Setenta e dois por cento dos setores de atividade acompanhados pelo IBGE sofreram queda ou não cresceram na mesma comparação – mais precisamente, 16 anotaram taxas negativas e dois tiveram crescimento zero. Não por coincidência, apenas 34,3% dos produtos e/ou itens fabricados pelo setor industrial observaram aumentos nos volumes produzidos.
  • Em terreno negativo, a produção caiu 1,2% na indústria de bens de capital, recuou 0,3% no segmento de bens intermediários e encolheu 4,6% no setor de duráveis (televisores, geladeiras, automóveis e outros). Como exceção, a fabricação de bens semi e não duráveis avançou 0,9% na saída de maio para junho.
  • Na comparação com junho do ano passado, a produção experimentou variação de apenas 0,3%, em desaceleração diante do avanço de 1,9% registrado em maio. No primeiro semestre, a indústria não se moveu, recuando 0,3% e encerrando o período de 12 meses finalizado em junho deste ano com modestíssima elevação de 0,1% – taxa obviamente que não configura qualquer crescimento.
  • O desempenho mais crítico foi observado para o setor de bens de capital, que acumula dez meses de perdas em sequência e despencou 10,3% em junho frente ao mesmo mês do ano passado, passando a registrar perdas de 9,7% no primeiro semestre e de 5,8% em 12 meses. Em ritmo de desaceleração, a indústria de bens intermediários, que havia anotado avanço de 3,1% em maio, variou 1,8% em junho, sempre em relação aos mesmos meses do ano passado. A produção nesta área recuou 0,5% no primeiro semestre, embora ainda acumule elevação de 2,4% em 12 meses.
  • A indústria de duráveis sofreu baixa de 3,9% em junho, depois de anotar um salto de 11,1% em maio. O setor, na verdade, tem alternado altos e baixos, crescendo 13,8% em janeiro para variar 2,2% em fevereiro; saltar 11,2% em março para enfrentar quase uma estagnação em abril, quando a produção variou apenas 0,4%. Entre montes e vales, a produção de duráveis avançou 5,7% no semestre, acumulando elevação de 1,7% em 12 meses até junho.
  • A produção de bens semi e não duráveis saiu de variação de 0,9% em maio para 0,1% em junho, avançando apenas 1,8% no semestre. Em 12 meses, o cenário lembra mais a estagnação, com variação de 0,1%.