Déficit da indústria de transformação supera US$ 61,0 bilhões em 2022

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 15 de fevereiro de 2023

Os números recordes da balança comercial brasileira vieram acompanhados de resultados extremamente negativos para a indústria de transformação e também para os setores de alta e média-alta tecnologia, reforçando sua dependência de segmentos de baixo ou baixíssimo conteúdo tecnológico. Considerando dados do governo e levantamento realizado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), o saldo negativo da indústria de transformação atingiu sem maior nível pelo menos desde 2010, alcançando algo em torno de US$ 61,136 bilhões no ano passado. Comparado a 2021, quando as importações do setor haviam superado as exportações em US$ 53,299 bilhões, o déficit cresceu 14,71%.

Nos dados do Ministério da Economia, as exportações da indústria de transformação passaram de US$ 144,127 bilhões para US$ 181,401 bilhões, subindo 25,86% (num aumento de US$ 37,274 bilhões). As importações avançaram 22,85%, mas, como a base é historicamente mais elevada, a variação em valores absolutos foi maior. Os dados mostram que o setor comprou lá fora perto de US$ 242,537 bilhões no ano passado, frente a US$ 197,425 bilhões em 2021, correspondendo a uma variação de US$ 45,112 bilhões (acima, portanto, do acréscimo observado na ponta das vendas externas).

Em Goiás, a indústria de transformação manteve sua balança comercial (exportações menos importações) em terreno positivo, mas com baixa para o superávit em função de um salto mais expressivo para as importações. Segundo dados oficiais, o setor exportou US$ 6,375 bilhões ao longo de 2022, o mais elevado de toda a série histórica, crescendo 23,59% em relação aos US$ 5,159 bilhões registrados em 2021. As importações na mesma área foram igualmente recordes, batendo em US$ 5,739 bilhões, o que correspondeu a um incremento de 33,04% em relação ao ano anterior, quando as compras externas da indústria haviam alcançado US$ 4,314 bilhões. Como resultado, o superávit do setor experimentou baixa de 24,67%, passando a somar US$ 635,510 milhões em relação a US$ 844,993 milhões em 2021.

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Perda de renda

Os chamados “termos de troca”, quer dizer, a relação entre os preços pagos pelos produtos importados e aqueles recebidos na exportação, sofreram piora na indústria, cenário válido para o País como um todo e também para Goiás. Na média, o gasto por tonelada importada aumentou 25,4% para indústria brasileira de transformação como um todo, mas experimentou salto de 47,1% no caso da indústria goiana. Para comparar, os valores médios recebidos na exportação anotaram variação de 1,2% na média brasileira e 8,65% no Estado. Como consequência, a distância entre os preços médios de bens e mercadorias importadas em comparação com os valores dos produtos exportados aumentou, com a importação passando a “custar” duas vezes mais do que cada tonelada exportada na média brasileira, sempre considerando o setor industrial. A diferença já havia sido expressiva em 2021, embora ligeiramente inferior, já que os valores médios dos bens importados haviam sido 69,7% mais elevados do que os preços recebidos nas exportações.

Balanço

  • No Estado, os preços médios nas exportações haviam sido pouco mais de 7,0% maiores do que o “custo” médio da importação em 2021. Um ano depois, esse “custo” passou a ser 26,4% mais elevado do que os valores médios pagos aos exportadores do setor industrial.
  • Como parece evidente, essa diferença obrigou a indústria a realizar um esforço extra para realizar suas exportações, de forma a tentar compensar o “custo” médio mais elevado das compras externas. Num resumo, o setor passou a transferir parte de seus ganhos e de sua renda para fora do País, favorecendo os mercados de origem dos produtos importados – notadamente, China, Rússia, Estados Unidos e Canadá, que somados responderam por pouco mais de 45,0% das compras externas totais do Estado.
  • Mais da metade do crescimento das importações da indústria goiana ficaram concentradas nas compras de adubos e fertilizantes, que avançaram de US$ 1,209 bilhão para US$ 1,999 bilhão. O salto de 65,38% correspondeu a um acréscimo de US$ 790,429 milhões, ou seja, 55,46% do incremento de US$ 1,425 bilhão acumulado pelas compras externas totais da indústria. A segunda maior contribuição veio das importações de produtos farmacêuticos, que cresceram 13,73%, passando de US$ 1,120 bilhão para US$ 1,274 bilhão.
  • A pauta de exportações da indústria goiana, ao contrário do que se observa no lado das importações, demonstra dependência extrema de produtos e bens de base agropecuária e, em segundo plano, de bens minerais. Praticamente 56,0% do aumento das vendas externas estiveram concentradas em apenas dois produtos: farelo e óleo de soja. No primeiro caso, as exportações chegaram a aumentar 63,60%, saindo de US$ 844,955 milhões para US$ 1,382 bilhão. As vendas externas de óleo de soja anotaram variação de 56,34% entre 2021 e 2022, avançando de US$ 253,768 milhões para US$ 396,740 milhões.
  • Embora os valores sejam relativamente baixos, as vendas externas de etanol dispararam no ano passado, acumulando alta de 220,9% na comparação com 2021. Os embarques saíram de apenas US$ 19,8 milhões para US$ 63,537 milhões.
  • O déficit na balança comercial da indústria de transformação em todo o País foi determinado pelos rombos registrados nos segmentos de alta e média-alta tecnologia, segundo trabalho do Iedi. O levantamento considera critérios adotados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) para classificar setores da economia segundo o seu nível de utilização de tecnologias.
  • Na alta tecnologia, registrou-se déficit de US$ 41,917 bilhões no ano passado, em alta de 11,7% diante do rombo de US$ 37,532 bilhões em 2021. A indústria exportou US$ 6,423 bilhões em produtos de alta tecnologia, diante de importações de US$ 48,340 bilhões. No setor de média-alta tecnologia, o déficit cresceu 27,7% ao passar de US$ 64,233 bilhões para US$ 82,037 bilhões, resultado de exportações de US$ 42,793 bilhões e importações de US$ 124,830 bilhões.