Desaquecimento e ameaças golpistas afetam economia

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 17 de janeiro de 2023

Os indicadores disponíveis sobre o nível da atividade econômica no final do ano passado confirmavam projeções iniciais de institutos de pesquisa econômica e mesmo de departamentos de macroeconomia de grandes bancos, que antecipavam tendência de desaquecimento para o período, afetando os resultados esperados para o ano como um todo. Dados do primeiro mês de 2023 ainda não estão disponíveis, mas a profunda crise política detonada literalmente pelas hordas de golpistas que invadiram e depredaram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 8 passado e seus efeitos sobre a vida do País não sugerem nada positivo.

A nação como um todo e o governo federal recém-empossado, em particular, caminham sobre o fio da navalha, principalmente quando se consideram os indícios de comprometimento de parcela ainda não adequadamente dimensionada das forças de segurança, a omissão e a cumplicidade inferida das forças armadas nos ataques da extrema direita contra a ordem estabelecida, a República de forma mais ampla e a incipiente democracia brasileira. Os fatos em seu conjunto e os desdobramentos das investigações em andamento vêm tendo e terão ainda por largo período consequências nas esferas institucional, política e econômica.

As dimensões desses impactos, muito obviamente, dependerão do que virá adiante e principalmente de futuras ações de fundo golpista urdidas por extremistas de direita, cenário que não pode ser descartado e que dependerá, em parte, do tratamento a ser dado àqueles que de fato atuaram na concepção dos ataques já ocorridos e presumidos. Não se deve menosprezar os possíveis efeitos de ameaças institucionais sobre a vida econômica do País e seu potencial para refrear decisões de consumo e de investimentos de famílias e de empresas, dado o nível inédito de incertezas e de insegurança em relação ao futuro imediato.

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Sinais perturbadores

As perspectivas tornam-se ainda menos animadoras quando são levadas em consideração as projeções mais recentes para a economia global, que tem enfrentado dificuldades para preservar o ritmo de crescimento esboçado em 2022 e parece caminhar para um período de desaquecimento no ano em curso. O Banco Mundial revisou sua expectativa para o desempenho da economia em todo o mundo em 2023, abandonando as previsões iniciais de um incremento mais próximo de 3,0% e passando a indicar uma variação de 1,7% para o Produto Interno Bruto (PIB) global. Para o Brasil, a instituição projeta variação de apenas 0,8%, saindo de uma estimativa de crescimento de 3,0% em 2022, ambas muito próximas das previsões dos mercados aqui dentro (3,03% para o PIB do ano passado e 1,77% em 2023, com o “requinte” da segunda casa após a vírgula).

Balanço

  • Na verdade, a economia já vinha claudicando no trimestre final do ano passado, perdendo ritmo em relação aos meses anteriores na indústria, no comércio e nos serviços, tendência observada também em Goiás. Conforme as pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção da indústria goiana havia caído 2,6% em setembro, ensaiou uma reação em outubro, avançando 2,8%, e recua 0,3% em novembro, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior.
  • Na comparação com o igual mês do ano anterior, os resultados parecem enganosamente vigorosos, por conta precisamente da base muito reduzida para comparação. Mesmo assim, os dados de novembro demonstram desaceleração em algum nível, com a taxa de crescimento saindo de 6,2% em outubro para 4,2% em novembro, lembrando que a produção em setembro não se moveu, mantendo o mesmo nível de setembro de 2021.
  • Para refrescar a memória e evitar comemorações indevidas, a produção havia experimentado tombos de 6,3% e de 4,3% em outubro e novembro de 2022 frente aos mesmos meses de 2021. Portanto, como se percebe, os números mais expressivos colhidos naqueles dois meses deste ano ocorrem em relação a níveis bastante deprimidos.
  • Mais do que isto, o crescimento em novembro ficou largamente concentrado no setor de biocombustíveis, com a alta na produção de álcool etílico compensando perdas no setor de biodiesel. No total, o instituto identifica um salto de 30,7% na produção de biocombustíveis na comparação com novembro de 2021. Sozinho, a indústria do setor respondeu por quase todo o crescimento registrado em novembro passado, numa contribuição de quase 96%.
  • Aqui, os dados do IBGE parecem entrar em contradição com as estatísticas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A produção goiana de etanol, conforme a agência, teria avançado 4,32% naquela comparação, saindo de 210,2 milhões para quase 219,30 milhões de litros. Os dados da agência para o biodiesel estão disponíveis apenas até 2021. Mas teria sido preciso um salto de 176% para que a produção geral de biocombustíveis alcançasse as taxas indicadas pelo instituto.
  • Conforme a classificação adotada pelo IBGE, o setor contempla a produção de coque, petróleo, derivados e biocombustíveis. Notoriamente, sabe-se que Goiás abriga apenas o segmento de transporte e distribuição de derivados de petróleo. Portanto, a produção de etanol e biodiesel concentra praticamente toda a atividade do segmento no Estado.
  • O setor de serviços, ainda em Goiás, já havia recuado 0,2% e 1,3% em setembro e outubro, passando a cair 1,5% em novembro, em relação ao período mensal imediatamente anterior. Na comparação com o mesmo período de 2021, a atividade no setor saiu de crescimento de 9,2% em setembro para 5,1% em novembro, acumulando variação de 8,6% nos primeiros 11 meses deste ano. As vendas do varejo restrito e do comércio varejista ampliado, respectivamente, sofreram baixas de 1,6% e de 2,7% em Goiás na saída de outubro para novembro, com baixas de 1,4% e de 3,0% na mesma ordem, em relação a novembro de 2021.