Desembolsos do BNDES em Goiás desabam 65% no terceiro trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 24 de novembro de 2023

A intenção futura de investimento do empresariado goiano perdeu fôlego no terceiro trimestre deste ano, embora os valores registrados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda superem por margem não desprezível os resultados alcançados em igual período do ano passado. Ao mesmo tempo, no entanto, o total dos recursos desembolsados pelo banco simplesmente desabou 65,08% em relação aos mesmos três meses do ano passado, sugerindo tendência decrescente para os investimentos em curso atualmente no Estado, considerando ao menos os projetos financiados com recursos do banco de fomento.

Entre julho e setembro deste ano, os desembolsos somaram perto de R$ 435,710 milhões, diante de alguma coisa ligeiramente abaixo de R$ 1,248 bilhão no terceiro trimestre do ano passado, sempre em valores nominais (ou seja, não atualizados com base na inflação decorrida desde setembro do ano passado). A queda em grande medida decorreu de fatores não recorrentes, quer dizer, que tendem a não se repetir período a período, com ocorrência em geral única ou bastante esporádica. No terceiro trimestre do ano passado, os desembolsos foram engordados por uma operação de financiamento de debêntures de infraestrutura, isentas de impostos e destinadas a projetos no setor de construção, num valor total de R$ 479,998 milhões. Essa operação, sozinha, havia respondido por 38,47% dos desembolsos totais ocorridos ao longo de julho a setembro de 2022.

Como esse tipo de operação não foi verificada neste ano, sua saída das estatísticas no terceiro trimestre deste ano explica uma parte importante da retração observada a partir dos dados do BNDES. Na ponta do lápis, sua contribuição para a redução dos desembolsos totais aproximou-se de 59,1%. Obviamente, não foi o único fator a explicar o tombo. Excluído o lançamento de debêntures, os desembolsos restantes somaram R$ 767,756 milhões no trimestre encerrado em setembro do ano passado, ainda 76,21% maiores do que os valores liberados pelo BNDES entre julho e setembro deste ano. Analisado sob a ótica inversa, o desembolso continuou expressando uma retração importante, com baixa de 43,25% mesmo depois de excluída a operação com debêntures realizada no ano passado.

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Infraestrutura em baixa

Entre os grandes setores e agora considerando os desembolsos integrais, a maior queda veio do segmento de infraestrutura, com os valores despencando de R$ 688,326 milhões para R$ 90,092 milhões, num tombo de 86,91% – especialmente por conta das debêntures, que responderam por 80,24% da queda. Embora tenha tido uma contribuição expressiva, no sentido negativo do termo, aquela operação não foi o único fator a explicar a retração dos desembolsos. Tanto que, desconsiderado o financiamento da emissão daqueles títulos privados, os demais desembolsos no setor sofreram baixa de 56,75%, saindo de R$ 208,328 milhões no terceiro trimestre do ano passado.

Balanço

  • A queda na verdade foi generalizada, atingindo todos os setores de atividade, alguns com maior, outros com menor severidade. No primeiro grupo, estão a indústria e o setor de comércio e serviços, reunidos em um mesmo segmento pelo BNDES. No caso das indústrias, os desembolsos murcharam 61,31%, saindo de R$ 73,703 milhões para apenas R$ 28,515 milhões (em torno de R$ 45,188 milhões a menos).
  • No segmento de comércio e serviços, o BNDES liberou R$ 34,358 milhões neste ano, numa redução de 72,72% diante de R$ 125,945 milhões no terceiro trimestre de 2022, quer dizer, as empresas do setor receberam R$ 91,587 milhões a menos. Mesmo a agropecuária, que vinha tendo um desempenho mais favorável, contratou e recebeu 21,41% a menos, com os desembolsos nesta área encolhendo de R$ 359,780 milhões para R$ 282,744 milhões.
  • As consultas encaminhadas ao banco por empresas interessadas em financiar projetos de investimento haviam experimentado um salto de 257,64% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, saindo de R$ 927,757 milhões para R$ 3,318 bilhões (ou R$ 2,390 bilhões a mais), em parte por conta da entrada no banco de um processo de consulta no valor de R$ 2,573 bilhões em maio deste ano. No terceiro trimestre, o ritmo foi menos acelerado, mas ainda expressivo, com avanço de 14,58% em relação aos valores acumulados entre julho e setembro de 2022. Nessa comparação, as consultas passaram de R$ 1,769 bilhão para R$ 2,027 bilhões.
  • No acumulado entre janeiro e setembro, as consultas pouco mais do que dobraram, subindo de algo ligeiramente inferior a R$ 3,140 bilhões no ano passado para quase R$ 6,318 bilhões neste ano – um acréscimo de R$ 3,178 bilhões ou 101,23% a mais. Os valores mais elevados ficaram concentrados no setor de infraestrutura, com as consultas somando R$ 3,058 bilhões (48,4% do total). Desse valor, perto de 87,4% vieram do setor de energia elétrica, com consultas próximas de R$ 2,490 bilhões (ou seja, perto de 39,4% do valor total das consultas no período). As grandes empresas responderam por 51,79% das consultas nos nove meses iniciais deste ano, alcançando perto de R$ 3,272 bilhões, enquanto as médias entraram com R$ 1,848 bilhão (29,25% do total) e micro e pequenas com R$ 1,197 bilhão (18,95% do total).
  • Os desembolsos do BNDES em Goiás cresceram abaixo da média brasileira no acumulado entre janeiro e setembro, variando 8,98% em valores nominais frente ao mesmo período de 2022, diante de alta de 19,87% para o País como um todo. As empresas goianas receberam neste ano, até setembro, em torno de R$ 2,515 bilhões diante de R$ 2,307 bilhões em idêntico intervalo do ano passado.