Subocupação e desalento voltam a crescer mesmo com emprego recorde

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de novembro de 2023

As estatísticas do mercado de trabalho goiano no terceiro trimestre deste ano assinalam recordes históricos para o total de pessoas ocupadas – embora, neste caso, um recorde apenas relativo – para o rendimento médio real recebido pelos trabalhadores e ainda para a massa salarial, igualmente a valores reais, atualizados até setembro deste ano. Por trás dos dados históricos, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) realizada trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta a volta do crescimento da subocupação por insuficiência de horas trabalhadas, assim como do número de pessoas desalentadas, ou seja, que desistiram de procurar emprego por falta de perspectiva de conseguir algum tipo de colocação.Primeiro, os dados mais positivos, que com certeza ocuparão espaço nobre na comunicação oficial como parte de uma campanha de marketing aparentemente arquitetada para alavancar a imagem do governante de plantão. A população ocupada avançou para 3,789 milhões no terceiro trimestre deste ano, numa variação de 0,7% em relação aos 3,763 milhões ocupados no segundo trimestre e 0,5% acima dos 3,770 milhões de pessoas empregadas no terceiro trimestre do ano passado. Foi o número mais alto desde que a pesquisa começou a ser feita em 2012.A taxa de desocupação baixou de 6,2% no segundo trimestre deste ano para 5,9% no trimestre seguinte, o que se compara com 6,1% em igual período do ano passado. Embora a economia goiana tenha criado 26,0 mil vagas adicionais na passagem do segundo para o terceiro trimestre, o número de pessoas desempregadas foi reduzido em apenas 10,0 mil, saindo de 247,0 mil para 238,0 mil, ou seja, 3,9% a menos. Na comparação com o mesmo trimestre de 2022, quando a PNADC indicava 246,0 mil desocupados, a queda chega a 3,5% (ou em torno de 9,0 mil a menos). Tanto a taxa de desemprego quanto o total de desocupados foram os mais baixos desde o quarto trimestre de 2014, período em que a taxa de desemprego havia sido de 5,2% e o total de desocupados chegava a 177,0 mil. O recorde de baixa no desemprego foi registrado no quatro trimestre de 2013, em torno de 3,9%.Recordes relativosA força de trabalho, no entanto, passou a ter uma participação de 67,2% sobre a população total com idade de 14 anos ou mais, a chamada população economicamente ativa. Para deixar mais claro, a força de trabalho é composta pelos trabalhadores ocupados e pelos desocupados que continuavam procurando emprego à época da pesquisa. Aquela taxa, no entanto, havia alcançado 68,2% no terceiro trimestre de 2019, a mais elevada da série. Se a mesma taxa fosse mantida no terceiro trimestre deste ano, o Estado teria registrado uma força de trabalho próxima de 4,086 milhões de pessoas, cerca de 59,0 mil a mais do que o dado registrado pela pesquisa. Diante do número de empregos criados no mesmo período e considerando a taxa de participação observada lá atrás, o número de desempregados teria sido quase 25,0% mais elevado, aproximando-se de 297,0 mil, o que configuraria uma taxa de desocupação de 7,4% em números aproximados.Balanço

  • O cenário melhorou em relação aos trimestres anteriores com certeza, mas essa melhoria precisa ser colocada sob perspectiva diante das alterações sofridas pelo mercado de trabalho. O desemprego “escondido” continua elevado e, além disso, como registrado acima, a subocupação e o desalento voltaram a crescer. De certa forma, observada isoladamente, a subocupação por insuficiência de horas trabalhadas respondeu por todo o aumento do emprego na saída do segundo para o terceiro trimestre deste ano.O total de pessoas ocupadas que gostariam de trabalhar mais horas por dia, consideradas subocupadas, experimentou um salto de 25,1% no terceiro trimestre deste ano, saindo de 108,0 mil no trimestre imediatamente anterior para 135,0 mil, num incremento de 27,0 mil. Para comparar, o crescimento no total de pessoas ocupadas em igual intervalo correspondeu à abertura de 26,0 mil vagas. Quer dizer, praticamente todos os “novos contratados” passaram a desempenhar funções que oferecem um número de horas trabalhadas insuficiente para assegurar a sobrevivência de suas famílias.A comparação com o terceiro trimestre do ano passado mostra que a subocupação caiu 12,6% (19,0 mil a menos). Como tendência, o dado do mesmo período de 2023 sugere uma interrupção na melhoria do indicador. A conferir nas próximas pesquisas.O desalento passou a atingir 51,0 mil pessoas em todo o Estado, em alta de 11,8% na comparação com o segundo trimestre deste ano, quando 45,0 mil se encontravam na mesma situação, também interrompendo a tendência de queda observada até então. Na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, o total de pessoas desalentadas mantinha uma redução de 21,1% (correspondendo a 14,0 mil a menos).As estatísticas desagregadas da desocupação indicam claramente que a redução no número de desempregados ficou concentrada no chamado “desemprego de longa duração”. O número de pessoas desempregadas a um ou mais anos caiu 27% entre o segundo e terceiro trimestres deste ano, de 37,0 mil para 27,0 mil, desabando 51,9% frente a 41,0 mil pessoas na mesma situação no terceiro trimestre do ano passado.Com a alta de 0,9% no rendimento real médio em relação ao segundo trimestre deste ano e salto de 8,4% diante do terceiro trimestre de 2022, atingindo R$ 2.983 ao final de setembro deste ano, a massa salarial real (a soma de todos os rendimentos recebidos pelos trabalhadores) cresceu 1,7% e 9,1% nas mesmas comparações, chegando a R$ 11,218 bilhões. Em 12 meses, as famílias de trabalhadores receberam uma injeção de renda adicional de quase R$ 938,0 milhões.Aquele valor tenderá a reforçar decisões de consumo das famílias, a depender do nível de comprometimento de sua renda com o pagamento de dívidas. De toda forma, a tendência tem sido de desaceleração nas taxas de crescimento, já que a massa salarial havia crescido 16,5% no terceiro trimestre do ano passado e 18,7% no primeiro trimestre deste ano, sempre na comparação com períodos idênticos do ano imediatamente anterior.