Desempregados e em desalento batem novo recorde, enquanto renda desaba

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de julho de 2021

Alardeada sem a menor cerimônia pelo senhor ministro da Economia, a tal retomada da economia continua muito distante do mercado de trabalho, que mantém sua trajetória de deterioração, com desemprego e um número de trabalhadores fora do mercado e desalentados em níveis recordes, enquanto a massa de rendimentos despenca em termos reais. Diante dessas tendências, uma recuperação sustentada e de longo fôlego ainda não parece estar no horizonte, a despeito dos esforços redobrados do marketing falacioso repisado pelo ministro dos mercados.

Os números são oficiais e vieram da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de desemprego no trimestre encerrado em abril deste ano atingiu 14,7% praticamente repetindo o índice registrado ao final do primeiro trimestre de 2021, mas acima dos 12,6% alcançados no trimestre entre fevereiro e abril do ano passado. Até os três meses terminados em janeiro deste ano, a desocupação correspondia a 14,2% do total de pessoas incluídas na forma de trabalho (que reúne trabalhadores ocupados e desocupados que buscavam alguma forma de colocação na semana da pesquisa).

O avanço do desemprego veio acompanhado de uma estagnação no número de pessoas ocupadas, mas com tendência de baixa. Ao final de abril deste ano, em torno de 85,940 milhões de trabalhadores ainda estavam ocupados, levemente abaixo do número registrado no trimestre imediatamente anterior (86,025 milhões entre novembro de 2020 e janeiro de 2021). Comparado ao trimestre fevereiro-abril do ano passado, foram perdidos 3,302 milhões de empregos, com baixa de 3,7% na população ocupada, que havia alcançado 89,241 milhões de pessoas – lembrando que o trimestre em questão inclui dois meses de pandemia (março e abril), quando a economia já sofria os efeitos das medidas de restrição aos negócios e de distanciamento social.

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Por trás desses percentuais frios, a pesquisa mostra que 14,761 milhões de trabalhadores ainda estavam desocupados em abril, nada menos do que 1,950 milhão a mais do que no mesmo período do ano passado, quando 12,811 milhões estavam sem emprego, numa alta de 15,2%. Novamente, esses números refletem apenas parte da realidade, agravada pelo desalento, pelo número de trabalhadores fora do mercado, mas que gostariam de trabalhar, e ainda pelo conjunto de trabalhadores subocupados por “insuficiência de horas trabalhadas” – quer dizer, que trabalham menos do que gostariam, recebendo também menos do que necessitariam, geralmente em “bicos” e ocupações temporárias, acirrando o clima de insegurança social, com efeitos sobre a economia.

Por trás do desemprego

O número de pessoas desalentadas, que simplesmente desistiram de buscar um emprego por falta de opções dignas, registrou salto de 18,7% entre o trimestre fevereiro a abril de 2020 e o mesmo período deste ano, saindo de 5,026 milhões para 5,967 milhões de trabalhadores. Na soma do total de desempregos e de desalentados, a PNADC registrava, até abril, perto de 20,728 milhões de pessoas, frente a 17,837 milhões no mesmo trimestre do ano passado, o que mostra uma alta de aproximadamente 16,2% (ou 2,891 milhões a mais). Neste caso, a taxa conjunta de desocupação e desalento avançou de 20,2% para 23,3% – quer dizer, quase 59,0% maior do que o desemprego originalmente identificado pela pesquisa, que segue critérios aceitos pelo consenso internacional de estatísticos e especialistas em mercado de trabalho.

Balanço

  • Além dos desalentados, a pesquisa identifica ainda 5,314 milhões de trabalhadores desempregados e que não estavam em busca de emprego no momento da pesquisa, embora não se declarassem como desalentados. Essa chamada “força de trabalho potencial”, no trimestre móvel entre fevereiro e abril, somava 11,281 milhões de pessoas. Incluindo os desocupados na conta, a população de desempregos e de trabalhadores que, mesmo fora do mercado, gostariam de trabalhar atingiu algo em torno de 26,042 milhões de pessoas, diante de 22,577 milhões entre fevereiro e abril do ano passado. Ou seja, houve um crescimento de 15,4% no período, com a inclusão de mais 3,465 milhões de trabalhadores.
  • Neste caso, em mais uma referência do cenário grave no mercado de trabalho, a taxa de desocupação medida de forma mais ampla teria saltado de 20,2% para quase 23,3%. Isso significa que praticamente 15 em cada 100 trabalhadores com 14 anos ou mais não conseguiram colocação no trimestre finalizado em abril deste ano, desistiram de procurar emprego ou estavam desalentados.
  • Outra medida da deterioração em curso está nos indicadores de subutilização das pessoas disponíveis para trabalhar. A subutilização soma o total de desocupados ao número de trabalhadores incluídos na força de trabalho potencial, acrescendo ainda aqueles que desempenham alguma ocupação, mas trabalham um número de horas insuficiente para assegurar um sustento digno para si e para suas famílias.
  • Em um ano, esse contingente experimentou alta de praticamente 16,0%, saindo de 28,765 milhões para 33,252 milhões. A taxa de subutilização, que havia sido de 25,6% ao final de abril de 2020, alcançou 29,7% no trimestre terminado em igual mês deste ano, nos níveis mais altos da série histórica da PNADC.
  • As perspectivas para o consumo das famílias, neste cenário, não parecem sugerir nada muito promissor. A massa de rendimentos efetivamente recebidos pelos trabalhadores chegou a experimentar crescimento enquanto o auxílio emergencial foi pago pelo governo. Sua interrupção, levou a perdas de renda substanciais, com a massa de rendimentos caindo ao menor nível para o período em oito anos (ou seja, desde fevereiro-abril de 2013). Os números da pesquisa mostram que a massa de rendimentos efetivamente pagos encolheu de R$ 223,048 bilhões entre fevereiro e abril de 2020 para R$ 210,966 bilhões neste ano, numa queda de 5,42% em termos reais (descontada a inflação). A perda de rendimentos somou R$ 12,082 bilhões.
  • Esse processo agravou-se recentemente, já que a massa efetivamente recebida chegou a atingir R$ 233,468 bilhões no trimestre finalizado em janeiro passado. Desde lá, houve um tombo de 9,64% e perdas de R$ 22,502 bilhões.