Desemprego de longo prazo salta 94% desde final de 2013

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 02 de março de 2023

A melhora recente no mercado de trabalho, numa tendência que já começava a perder fôlego nos meses finais do ano passado, desafogaram de alguma forma a situação de parcela das famílias que enfrentava uma situação de desemprego mais severo. O desempenho, no entanto, ainda não havia sido suficiente para contornar gargalos que persistem no setor e que tornam o cenário ainda desafiador nesta área. A taxa de desemprego, como mostra a edição mais recente da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada periodicamente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de fato baixou de 14,2% no último trimestre de 2020 para 7,9% em igual período do ano passado. A desocupação, no entanto, mantinha-se 1,6 pontos percentuais acima da taxa registrada ao final de 2013.

Em números absolutos, o total de trabalhadores sem emprego aumentou qualquer coisa em torno de 39,4% entre o quarto trimestre de 2013 e o mesmo período de 2022, saindo de 6,151 milhões para 8,572 milhões (ou seja, uma variação correspondente a 2,421 milhões de desempregados a mais). Nesse mesmo intervalo, o contingente de desocupados que estavam em busca de trabalho há dois ou mais anos experimentou salto de 94,2%, avançando de 1,128 milhão para 2,191 milhão, num acréscimo de 1,063 milhão de pessoas. Entre outras leituras possíveis, o avanço do desemprego de longo prazo representou mais de dois quintos do aumento observado para o total de desocupados (mais precisamente, essa contribuição ficou ligeiramente abaixo de 44,0%).

Queda relativa

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Entre todos os desempregados, pouco mais de 18,3% deles estavam em busca de alguma forma de colocação há dois anos ou mais nos últimos três meses de 2013, percentual elevado para praticamente 25,6% em idêntico trimestre do ano passado. Num prazo mais curto, esse contingente chegou a aumentar pouco mais de 23,0% entre 2019 e 2021, saindo de 2,956 milhões para 3,637 milhões, considerando sempre o quarto trimestre de cada exercício. A participação desses desocupados no total de trabalhadores sem emprego, mas que ainda continuavam a procurar colocação, atingiu o maior percentual para o período na série do IBGE, atingindo 30,3%. Entre 2021 e o ano passado, como fica claro, o número de desempregados de longo prazo havia desabado 39,8%, ainda que sua participação no total de desocupados tenha registrado o segundo maior percentual para um quarto trimestre desde 2012.

Balanço

  • No outro extremo, quer dizer, entre os desocupados em busca de vaga há menos de um mês, registrou-se alta de praticamente 99% entre o quarto trimestre de 2013 e igual trimestre de 2022, passando de 830,0 mil para 1,651 milhão. A participação desse grupo no número total de desempregos cresceu de 13,5% para 19,3% – maior fatia na série histórica para um quarto trimestre. A registrar, foi a única parcela de desempregados a anotar algum avanço, mesmo que modesto, na comparação com o quarto trimestre de 2021, num incremento de 4,5%, saindo de 1,580 milhão ao final daquele ano.
  • A ser mantido nas próximas pesquisas, o crescimento daquela fatia de desempregados estará corroborando a tendência de esfriamento do mercado, não se podendo descartar o risco de algum aumento no desemprego total nos próximos trimestres. Muito especialmente pelo desaquecimento da atividade econômica como um todo determinada pela política de juros elevados.
  • Num olhar de prazo mais longo, o número de pessoas ocupadas aumentou em torno de 9,7% entre o quarto trimestre de 2012 para igual trimestre de 2022, passando de 90,593 milhões para 99,370 milhões, dado que tem sido festejado como recorde, embora o nível de ocupação ainda não tenha alcançado os mesmos níveis de 2013, por exemplo. De toda forma, foram gerados naquele período 8,777 milhões de ocupações de todos os tipos.
  • O detalhe a ser anotado, por sua relevância: apenas os setores de prestação de serviços a empresas, às famílias e ao setor público ampliou as contratações naqueles 10 anos. Indústria, construção civil e agropecuária reduziram o número de ocupados, ajudando a criar desemprego. O número de ocupados no setor de serviços cresceu de 59,177 milhões para o recorde de 70,667 milhões, num aumento de 19,4%. Apenas neste segmento, foram contratados 11,490 milhões de trabalhadores a mais, o que permite inferir que os demais setores demitiram 2,713 milhão de trabalhadores.
  • A indústria afastou 500,0 mil empregados, reduzindo sua força de trabalho em 3,8%. Na agropecuária e na construção civil, foram demitidos, respectivamente, 1,611 milhão e 607,0 mil empregados, com cortes de 19,4% e de 7,6% desde 2012. A participação dos serviços no total de ocupados saiu de 65,0% para 71,1%. Ao mesmo tempo, a indústria reduziu sua fatia de 14,7% para menos de 13,0%.
  • Em Goiás, o número de ocupados também cresceu desde 2012, acumulando alta de 19,7% até o quarto trimestre do ano passado, com aquele total saindo de 3,098 milhões para 3,460 milhões (ou seja, perto de 601,0 mil a mais). Em torno de 86,5% desse aumento deveu-se à geração de 520,0 mil ocupações a mais no setor de serviços, que passou a empregar 2,617 milhões de trabalhadores ao final do ano passado, representando 71,6% do total de ocupados. No quarto trimestre de 2012, os serviços empregavam 2,003 milhões de pessoas e respondiam por pouco menos de 64,7% de todos os ocupados. A indústria, que demitiu 22,0 mil trabalhadores, fazendo seu contingente encolher de 496,0 mil para 474,0 mil (queda de 4,4%) entre 2012 e 2022, reduziu sua participação de 16,0% para menos de 13,0%.
  • Mesmo diante do avanço do emprego, o número de desocupados aumentou 9,7% em todo o País, como visto, e nada menos do que 54,8% em Goiás (de 168,0 mil para 260,0 mil entre 2012 e o ano passado, quer dizer, 92,0 mil a mais). A questão é que a força de trabalho cresceu 10,9% no País (de 97,322 milhões para 107,942 milhões, somando mais 10,620 milhões, dos quais 1,843 milhão não conseguiram empregos). Em Goiás, a força de trabalho aumentou 20,0%, de 3,265 milhões para 3,917 milhões (652,0 mil adicionais, dos quais 51,0 mil engrossaram o desemprego). Nitidamente, o mercado não conseguiu gerar empregos em volume suficiente para atender toda a demanda por vagas.