Coluna

Dois anos após recessão, indústria ainda não havia reposto empregos perdidos

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 20 de junho de 2020

Depois
de experimentar um ciclo de crescimento importante ao longo da década anterior,
a indústria de Goiás registrava, em 2013, um total de 7.204 unidades industrias
com cinco ou mais pessoas ocupadas, abrigando 256.831 trabalhadores. Em 2018,
os dados mais recentes, computados pela Pesquisa Industrial Anual (PIA) do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o setor não havia
ainda conseguido repor nem o total de empregos e nem o número de empresas
industriais que chegaram a operar no Estado antes da recessão de 2015/2016, o
que mostra a severidade do arrocho imposto à indústria, o tamanho das perdas
realizadas e a dificuldade para recuperar o terreno perdido em menos de meia
década.

A
edição mais atual da PIA, divulgada na quinta-feira, 25, pelo instituto, apontou
6.589 indústrias instaladas, 68 a mais do que em 2017, quando o setor anotou
sem número mais baixo na série mais recente de dados, com apenas 6.521 unidades
em operação, correspondendo a uma variação de 1,04%. Na comparação com 2013, no
entanto, persiste uma retração de 8,54%, registrando-se ainda o fechamento de
615 indústrias. O emprego total na indústria saiu de 231.323 para 234.655 entre
2017 e o ano seguinte, com a contratação de 3.332 trabalhadores (mais 1,44%). O
contingente ainda se encontrava 8,63% abaixo dos níveis registrados em 2013,
correspondendo à perda de 22.176 vagas.

Certamente
o emprego industrial tem reagido depois de atingir 225.133 em 2016, o segundo
nível mais baixo na década. Nessa comparação, foram recuperados 9.522 empregos
até 2018 (4,2% a mais), o que correspondeu, no entanto, a 30% das 31.698
ocupações eliminadas pela recessão. A perda de empregos e sua lenta recuperação
desde o final da crise mais recente, encerrada em 2016, provocou uma “elevação
espúria” da produtividade, termo cunhado pelo economês praticado no País para
retratar ganhos impulsionados, nesta área específica, pelo menor número de
empregados.

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Produtividade
espúria

O
ideal, neste caso, seria elevar o emprego e a produtividade simultaneamente,
criando um ciclo virtuoso de crescimento da produção a custos relativos mais
baixos, agregando maior eficiência e capacidade produtiva.Não é isso o que se
tem observado, bem, pelos menos até 2018. A produtividade alcançou seu melhor
desempenho na década, crescendo 4,2% em relação a 2017 e acumulando alta de
33,8% frente a 2013. Mas o avanço, mais uma vez, ocorreu às custas da
liquidação de empresas e do fechamento de empregos. Os dados de 2019, que só
devem ser divulgados por volta de junho do ano que vem, podem trazer alguma
novidade, já que a produção industrial havia crescido 2,9% frente ao ano
anterior, depois de ter despencado 4,5% em 2018.

Balanço

·  
A
produtividade neste caso é calculada a partir da divisão do valor da
transformação industrial (VTI) pelo número total de pessoas ocupadas no setor.
O VTI, por sua vez, corresponde ao valor bruto de tudo o que a indústria
produz, excluído o valor dos insumos, matérias-primas e outros bens utilizados
no processo de produção, descontando-se ainda o valor do trabalho vendido pelos
empregados (na prática, o total de salários pagos).

·  
Nessa
divisão, chega-se ao valor produzido por trabalhador, que saiu de R$ 133,773
mil em 2017 para R$ 139,331 mil no ano seguinte. Em 2013, quando haviam muito
mais indústrias e empregados, esse valor havia sido de R$ 104,132 mil.

·  
Depois
de cair 1,09% entre 2016 e 2017, o VTI voltou a crescer em 2018, saindo de R$
30,945 bilhões no ano anterior para R$ 32,695 bilhões, numa variação nominal de
5,65%. Em termos reais, no entanto, ou seja, em valores atualizados até
dezembro de 2018 pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do
IBGE, o VTI ainda acumula perdas de 9,39% desde 2013.

·  
Sem
qualquer correção, o VTI acumulou variação de 22,25% entre 2013 e 2018.
Acontece que os preços em geral, medidos pelo IPCA, subiram 34,92%. Assim, a
indústria não conseguiu repor sequer a inflação no valor de sua produção.

·  
Não
têm sido anos fáceis para indústria, em Goiás e no restante do País. E 2018 não
foi particularmente muito favorável. As receitas líquidas da indústria
observaram uma variação de apenas 1,67% frente a 2017, saindo de R$ 102,525
bilhões para R$ 104,240 bilhões. Mas custos e despesas subiram um pouco mais,
variando 1,75% (de R$ 91,693 bilhões para R$ 97,291 bilhões), e passaram a
representar 95,73% das receitas líquidas, levemente acima dos 95,66% calculados
para 2017.

·  
A
agregação doméstica de valores, que nunca chegou a ser um ponto forte da
indústria em Goiás, registrou discreta piora entre 2017 e 2018. O valor da
transformação industrial passou a representar 33,61% do valor bruto da
produção, diante de 33,75% em 2017 e de 35,29% em 2016.

·  
Essa
evolução parece sugerir que a indústria goiana tem utilizado parcelas
crescentes de bens e produtos acabados fora de Goiás e do País no processo de
produção realizado por seu parque industrial, evoluindo rumo a um perfil de
mera montadora de produtos finais. Na indústria de alimentos, que responde por
39,06% do valor da transformação industrial total, essa
relação havia sido de 26,96% em 2018, atingindo 25,56% na indústria de produtos
químicos e apenas 17,59% no setor de fabricação de veículos, reboques e
carrocerias.