Economia esfria e afeta movimentação de cargas

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 15 de abril de 2023

Sob efeito da política de juros altos, o transporte de cargas rodoviárias iniciou o ano com marcas inferiores ao que se esperava inicialmente, registra Federico Vega, CEO da Fretebras, maior plataforma online de transporte de cargas da América Latina. Os números de janeiro vieram em torno de 5% abaixo do previsto para o mês na área de atuação da empresa, que responde por quase um quarto do mercado brasileiro. Em fevereiro, a movimentação ficou 10% menor do que a estimativa. “Com a taxa Selic elevada, a economia está começando a estancar. Talvez possamos ver a atividade reaquecer quando a taxa básica de juros começar a ser reduzida, a partir do segundo semestre”, comenta.

As empresas do setor, observa Vega, informam redução na emissão de documentos para movimentação de cargas, numa tendência que parece afetar mais diretamente o segmento de cargas industrializadas e também o setor de construção. A volta da atividade econômica após a fase mais crítica da pandemia havia animado as empresas a tomarem crédito no mercado, então a custos mais baixos. Na sequência, relembra, “o custo de capital aumentou muito rápido” e, agora, o desaquecimento da economia reduziu o volume de negócios, criando um “ambiente mais complexo especialmente para quem tomou crédito lá atrás e pode enfrentar dificuldade para pagar os empréstimos contratados”. Na avaliação de Vega, “a lógica é óbvia: com capital de giro muito mais caro para as empresas de transporte e a economia esfriando, as margens serão comprimidas, gerando problemas para pagar os custos fixos. Você corre o risco de enfrentar uma crise de crédito”. Para fugir dos bancos e escapar do crédito mais caro, empresas têm postergado pagamentos, com efeitos em cadeia sobre o setor, afetando até os caminhoneiros.

Ainda assim…

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Depois de um desempenho apenas razoável em 2022, na média, quando o avanço dos volumes transportados foi praticamente anulado pela escalada dos custos, o setor de transporte de cargas espera que os resultados das empresas registrem alguma melhora em 2023. Essa expectativa, sublinha Lauro Valdivia, assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), está condicionada a uma esperada estabilidade para os preços do diesel e ainda à recomposição dos preços cobrados pelo frete, numa estimativa que pressupõe estabilidade para os volumes transportados. Segundo ele, o setor ainda não havia conseguido repassar toda a alta experimentada pelos custos nos últimos meses. “Em 18 meses, o diesel chegou a subir 107%”, completa Valdivia. Nos dados da NTC&Logística, nos 12 meses do ano passado, o Índice Nacional de Custos do Transporte de Carga Lotação (INCTL) e o Índice Nacional de Custos do Transporte de Carga Fracionada (INCTF) experimentaram variações respectivamente de 17,01% e de 10,60%, acumulando saltos de 59,1% e de 42,8% em 36 meses.

Balanço

  • A tendência de estabilidade para os volumes de carga a serem transportados neste ano, prossegue Valdivia, refere-se ao comportamento médio esperado para todo o setor, surgindo diferenças entre os diversos segmentos. O setor grãos deve observar resultados mais positivos, diante da perspectiva de mais uma safra histórica, na faixa de 309,9 milhões de toneladas, praticamente 37,5 milhões de toneladas a mais do que no ciclo 2021/22, numa elevação de 13,8%. Caminhoneiros que trabalham no transporte de cargas do agronegócio, diante de mais uma safra histórica, reforça Vega, devem fechar o ano com “mais dinheiro no bolso”. Ele lembra que o aumento do frete agrícola no ano passado simplesmente tentou cobrir o salto nos preços do diesel.
  • O preço médio por tonelada de grão transportada a partir de Mato Grosso, em 2022, havia aumentado em média perto de 34% entre 2021 e 2022, passando de R$ 160 para R$ 214, ainda conforme Vega. A correção foi consumida pelo salto de 45% nos preços médios do diesel no período, saindo de R$ 4,58 para R$ 6,59 por litro. Segundo ele, o diesel tende a se manter estável neste ano, embora o frete agrícola deva experimentar alta em consequência de uma demanda maior por caminhões no setor, o que representaria resultados melhores para os caminhoneiros.
  • Considerando todos os tipos de carga e dados médios apurados com base em 8,0 milhões de transações anuais de frete e vale-pedágio administradas pela Repom, parte da linha de negócios de frota e mobilidade da Edenred Brasil, o preço médio do frete por quilômetro rodado aumentou 38,91% em 2022, quando comparado a 2021, atingindo R$ 7,14. Segundo Vinicios Fernandes, diretor da Repom, entre janeiro e julho de 2022, quando alcançou seu maior nível no ano, chegando a R$ 8,04, o custo do frete acumulou aumento de 45%. Mas recuou 7,6% até dezembro, fechando o mês em R$ 7,43.
  • Os aumentos foram mais pesados nos setores de aço, produtos de metal e cimento, com salto de 82% frente a 2021, saindo de R$ 1,72 para R$ 3,13 por quilômetro rodado. Na sequência, o frete no agronegócio subiu 58% no mesmo intervalo.
  • Na média geral, prossegue Fernandes, há uma sinalização de queda gradual para o frete ao longo deste ano, até o momento, considerando-se a prorrogação da desoneração de tributos federais sobre o combustível por mais um ano e a expectativa de novas reduções na tabela do piso mínimo do frete pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Mesmo assim, quando comparado o início de 2023 a janeiro de 2022, o preço médio do frete por quilômetro rodado aumentou 28% e o valor médio deve permanecer mais elevado em relação aos anos anteriores”, assinala ainda.
  • Como relembra Douglas Pina, diretor geral de mobilidade da Edenred Brasil, a Lei nº 14.445/2022 determina a correção do piso mínimo sempre que o valor do diesel apresente variações superiores a 5,0%, para cima ou para baixo. No ano passado, entre janeiro e julho, os preços médios mensais do diesel comum e do S-10 subiram mais de 35,0%, passando a recuar desde então, de acordo com levantamento realizado nos 21 mil postos credenciados à Ticket Log. Em março deste ano, num dado ainda preliminar, referente às duas primeiras semanas do mês, o preço registrou baixa entre 18,5% e quase 18,7% frente a julho do ano passado. Ainda assim, fatores externos e domésticos tornam “difícil cravar uma projeção exata para os próximos meses”, complementa Pina.