Coluna

Economia gelada freia repasse de altas (masequipe econômica continua cega)

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 10 de julho de 2019

A
equipe econômica decidiu agir praticamente como um chantagista ao “ameaçar”
disparar um pacote de estímulos à atividade econômica moribunda apenas depois
de o Congresso aprovar a reforma da Previdência, tendo plena consciência de que
a velocidade da política nem sempre é aquela que os áulicos do poder desejariam
(o que talvez explique a tentação recorrente de extinguir a política). Como se
o momento econômico não exigisse urgência, como se o destino de algumas dezenas
de milhões de desempregados pudesse esperar um pouco mais. Afinal, não é a vida
e o futuro dos doutores que está em jogo. A esta altura deve estar bem claro que
a retomada não virá se a política econômica não sofrer mudanças urgentes. E o
comportamento dos preços reflete o cenário de esfriamento geral dos negócios de
forma evidente.

Analisem
o conjunto de dados divulgados ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Começando pela primeira
instituição, os números da primeira prévia do Índice Geral de Preços do Mercado
(IGPM) mostram desaceleração no ritmo de alta, com o indicador recuando de
0,73% em junho para 0,40% em julho (na medição realizada entre 21 e 30 de junho
e comparada ao período entre 21 de maio a 20 de junho). No atacado, o ritmo de
alta dos preços também anotou certo refreamento, saindo de 1,15% para 0,42%,
com o índice de preços ao consumidor mantendo-se em terreno negativo (-0,09% em
junho e -0,02% em julho).

Os
números já eram esperados pelo mercado e pelo Banco Central (BC), portanto, não
há exatamente uma novidade aqui, visto que a perda de fôlego das taxas de
inflação já vinha sendo observada desde abril. Mas a discrepância entre os
aumentos de preços de matérias primas, bens intermediários, insumos e produtos
agrícolas no atacado e a elevação bem mais comedida dos preços de bens e
produtos ao consumidor também merece uma avaliação mais aprofundada.

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Maior lentidão

Um
dos destaques nesse processo está precisamente na incapacidade virtual das empresas
de repassarem para frente aumentos de preços de forma integral, conforme
sugerem os levantamentos de preços nos mercados atacadistas. O índice de preços
no atacado da FGV acumulou salto de 7,83% nos 12 meses encerrados em junho
passado, mas a variação para os consumidores ficou limitada a 3,39%, num ritmo
quase duas vezes mais lento. Parece um tanto óbvio que as empresas tentariam
repassar mais rapidamente ao consumidor aumentos eventuais de custos caso a
demanda estivesse aquecida. Não é o caso, definitivamente.

Balanço

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Também
ontem o IBGE divulgou os resultados de junho do Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), adotado já há tempos como a “inflação oficial” do
País. A pesquisa de preços do instituto mostra que praticamente não houve variação
no mês passado, claro, quando considerada a média geral de todos os preços e
comparada com a mesma média levantada em maio.

·  
Na
verdade, o IPCA registrou ligeira elevação de 0,01%, saindo de 0,13% em maio e
de 0,06% nos 30 dias terminados em 15 de junho. Houve uma continuidade na
tendência de desaceleração iniciada semanas antes. O índice veio um pouco acima
das previsões mais frequentes do mercado, que apostavam num recuo de 0,03%
(convenhamos, nada traumático).

·  
Numa
conta aproximada, excluídos os grupos alimentação e transportes, que anotaram
recuos de 0,25% e de 0,31% respectivamente, a inflação nos demais setores da
economia baixou de 0,26% para 0,13% entre maio e junho, o que deveria servir
para tranquilizar ainda mais os formuladores da política de juros do BC.

·  
Excluídos
itens mais voláteis e aqueles que sofrem mais diretamente os efeitos das
oscilações na economia, num cálculo da equipe de macroeconomia do Itaú BBA, os
chamados “núcleos” da inflação (que indicam com maior propriedade a tendência
em vigor para os preços) mantiveram-se em 0,2% tanto em maio quanto em junho.
Em 12 meses, o avanço foi de 3,4% (praticamente se equiparando ao IPCA “cheio”,
que subiu 3,37%).

O percentual de produtos em alta ficou em 50,4%,
segundo o banco, diante de uma média de 60% nos últimos cinco anos. E crescem
as apostas em novos cortes nos juros básicos.