Coluna

Economia “verde”, a chance para alavancar o crescimento

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 02 de julho de 2020

A
resposta fiscal contra a pandemia causada pela Covid-19 tem sido “massiva”em
todo o mundo, somando, até a última semana de junho, qualquer coisa ao redor de
US$ 11,0 trilhões (quase 6,6 vezes mais o tamanho de toda a economia
brasileira), anota o Instituto Internacional de Finanças (IIF), em relatório
recente. Mais US$ 5,0 trilhões foram anunciados pelos países e estão a caminho,
devendo chegar em breve para ajudar a compensar o estrago produzido pela
pandemia sobre empresas e famílias. “Os efeitos duradouros da pandemia
sublinham a fragilidade chave da economia global, além da vulnerabilidade a
choques ambientais”, sustenta o documento, destacando que menos de 1% da ajuda
global anunciada e aprovada deverá ter como destino projetos “verdes”,
ambientalmente sustentáveis.

E,
no entanto, a economia “verde” apresenta as melhores chances de promover uma
retomada da economia mundial, sem agravar ainda mais os desequilíbrios que
ameaçam o meio ambiente e a própria continuidade da experiência humana sobre a
Terra. Com as atenções voltadas para a elaboração de planos de recuperação no
médio prazo, agora seria o momento para promover políticas climáticas mais
resilientes, neutras em termos de emissões de carbono e investimentos mais
eficientes sob o ponto de vista de aproveitamento dos recursos disponíveis,
“particularmente em setores mais intensivos em emissões de carbono”, a exemplo
dos setores de energia e transportes.

Enquanto
as medidas colocadas em prática ao redor do mundo preocupam-se em minimizar os
efeitos da crise sobre o emprego, continua o IIF, as iniciativas políticas de
caráter muito mais ambiental mencionadas pelo instituto poderiam promover, ao
mesmo tempo, uma recuperação mais sustentável e de longo curso, portanto, além
de contemplar uma relação custo-benefício muito mais favorável. Num exemplo, em
torno de 6,0 milhões de empregos no setor de energia ou em áreas ligadas ao
setor em todo o mundo estariam sob risco ou já teriam sido perdidos desde o
começo da crise sanitária. “Muitos desses empregos talvez não sejam retomados
num momento em que se espera uma retração de 20% no investimento global em
energia”, aponta ainda.

Continua após a publicidade

Mais empregos,
menos emissões

Citando
a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), o instituto
aponta que um investimento anual de US$ 1,0 trilhão ao longo de três anos
poderia criar em torno de 9,0 milhões de novos empregos ao longo de uma variedade
de setores relacionadas à área energética. Ao mesmo tempo, seria possível
reduzir as emissões globais de carbono em algo próximo a 15% quando comparadas
aos níveis registrados em 2019. Em muitos casos, as iniciativas individuais de
países têm sido substanciais, quando se consideram os aportes reservados a
projetos na área de energia limpa e outros investimentos destinados a
atividades que tragam redução nos níveis de emissão de gases formadores do
efeito estufa. Ainda assim, as ações e o volume de recursos parecem claramente
insuficientes.

Balanço

·  
Entre
29países do chamado G20, que reúne duas dezenas de economias mais desenvolvidas
e em desenvolvimento, e de outros inscritos na Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), a IIF estima que em torno de US$ 931,0
bilhões em medidas fiscais anunciadas contemplam “objetivos verdes” e levam em
conta componentes de sustentabilidade e ainda metas climáticas, “enquanto
pacotes verdes já aprovados” somam apenas algo perto de US$ 84,0 bilhões.

·  
“Esses
componentes verdes”, na descrição do instituto, “são pequenos comparados à
resposta geral, representando somente 6% e menos de 1% dos totais anunciados e
aprovados”.

·  
Mais
importante, prossegue o IIF, o grosso das medidas de estímulo já em curso está direcionado
a setores pesadamente dependentes de carbono, onde os investimentos agora
acionados tenderão a congelar as emissões de poluentes em níveis elevados pelas
próximas décadas, obscurecendo de longe a redução proporcionada por uma série
de pacotes verdes selecionados por vários países, consideravelmente em países
europeus e mais especificamente também na Coreia do Sul.

·  
O
IIF lembra que a redução de 4% a 7% nas emissões de gases
do efeito estufa esperada para este ano, em função da retração vigorosa da
atividade econômica, será meramente temporária, o que apenas destaca a urgência
de o mundo todo perseverar em seus esforços para mitigar as mudanças climáticas
e perseguir políticas que permitam remodelar e adequar modos de vida aos
desafios de um mundo de baixo carbono.

·  
A
proposta da Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia, de reservar €
750,0 bilhões (qualquer coisa próxima a R$ 4,5 trilhões) para iniciativas na
área ambiental, destaca o IIF, embora seja de longe o mais ambicioso pacote de estímulos
a tecnologias verdes, está longe de se tornar realidade e ainda terá que passar
pela Conselho Europeu em votação prevista para este mês.

·  
Na
Alemanha, por sua vez, o pacote de € 130,0 bilhões recentemente anunciado omite
o socorro a veículos movidos a combustíveis, enquanto direciona bem menos, em
torno de € 50,0 bilhões, ao desenvolvimento e expansão da produção de veículos
elétricos e híbridos, energia renovável, transporte público e na redução de
sobretaxas nas tarifas cobradas dos consumidores de energia limpa.

·  
A
terceiro pacote com verbas adicionais para o enfrentamento da pandemia na
Coreia do Sul, anunciado no começo de junho e estimado em torno de US$ 20,0
bilhões, tem como foco indústrias verdes e digitais, controle de doenças,
aumento do emprego e da segurança social e suporte financeiro a empresas,
prossegue o IIF.

·  
Em
troca do socorro de € 7,0 bilhões anunciado em abril, o governo francês passou
a exigir que a Air France reduza suas emissões nos voos domésticos até o final
de 2024. A Dinamarca aprovou em maio o equivalente a US$ 4,5 bilhões para o uso
de materiais renováveis na reforma e construção de moradias públicas e a
Lituânia deve investir € 1,80 bilhão em projetos contra as mudanças climáticas,
infraestrutura, energia, economia digital, capital humano e pesquisa.