Coluna

Na soma de todas as rendas, famílias acumulam perdas de R$ 45,9 bilhões

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 01 de julho de 2020

A
massa real de rendimentos do trabalho, calculada pela Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), encolheu quase 5,6% entre o trimestre setembro a novembro
do ano passado e os três meses terminados em maio deste ano, em números
atualizados com base na inflação. A valores de maio deste ano, a soma de todos
os salários recebidos pelos trabalhadores formais e informais caiu de R$
218,844 bilhões para R$ 206,623 bilhões, a mais baixa desde o primeiro
trimestre de 2018. A redução, nessa conta, foi de R$ 12,221 bilhões.

Mas
os dados não refletem todas as perdas sofridas desde o começo da crise. Como
reforça o IBGE, a massa real inclui apenas os rendimentos provenientes do
trabalho, “não incluindo, portanto, rendimentos de outras fontes, tais como aposentadoria,
aluguel, Bolsa Família, Benefícios de Prestação Continuada (BPC), os auxíliosdesemprego
e emergencial”, entre outros benefícios. Uma aproximação pode ser percebida a
partir dos dados elaborados pelo Banco Central (BC). Embora mais completas,
essas estatísticas são divulgadas com atraso maior e o número mais recente
refere-se ao mês de abril.

De
qualquer forma, as estatísticas do BC fornecem uma visão mais próxima de como a
crise vem afetando os orçamentos familiares, afetados duplamente pelas medidas
de afastamento e pelo desemprego crescente. Os números publicados pela
autoridade monetária são nominais, mas, numa estimativa construída pela coluna
com a ajuda de indicadores de inflação do IBGE, foi possível atualizados até
abril deste ano. No trimestre encerrado naquele mês, a massa salarial ampliada
disponível alcançou R$ 274,815 bilhões, o que significou uma retração de 14,3%
em termos reais frente ao último trimestre do ano passado. Considerando um
valor corrigido de R$ 320,673 bilhões para a massa disponível em dezembro, as
famílias deixaram de receber aproximadamente R$ 45,858 bilhões.

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E daí?

O
cálculo do BC soma os rendimentos do trabalho recebidos pelas famílias mais benefícios
previdenciários e de programas de proteção social do governo, descontados os
pagamentos na fonte para o Imposto de Renda e as contribuições recolhidas à
Previdência. Em tese, considerando sua concepção e objetivo, o conceito de
massa salarial ampliada disponível deveria incluir o auxílio emergencial
anunciado pelo governo para que as famílias mais vulneráveis pudessem enfrentar
os efeitos da crise sanitária, já que os primeiros pagamentos começaram a sair
na segunda semana de abril. Mas o BC não chegou a confirmar a inclusão desses
pagamentos em sua série estatística. De uma forma ou de outra, a redução
observada foi muito mais intensa do que aquele registrada pelos rendimentos do
trabalho, apurados pelo IBGE na PNADC, e mostram um cenário dramático para as
famílias, especialmente para aquelas de renda baixa e em situação de pobreza,
obrigadas a sair às ruas na luta pela sobrevivência e sujeitas a riscos maiores
de contaminação e morte pelo novo coronavírus.

Balanço

·  
De
volta à PNADC tradicional, aquela cujos dados que não se comparam com os
números apurados pela PNAD semanal que vem sendo realizada pelo IBGE para
acompanhar o mercado de trabalho durante a pandemia, além da perda de renda, os
trabalhadores passaram a enfrentar taxas de desocupação equivalentes aos níveis
registrados em meados de 2017, na saída da recessão de 2015/16.

·  
A
taxa de desemprego saiu de 11,6% para 12,9% entre os trimestres terminados em
fevereiro e maio deste ano, diante de 12,3% nos três meses finalizados em maio
de 2019. Os números do desemprego, como esta coluna tem demonstrado, deixaram
de refletir as tendências reais no mercado de trabalho desde a pandemia e as
medidas de distanciamento social.

·  
Os
números trimestrais da PNADC mostram, por exemplo, que o número de pessoas
desempregadas chegou a experimentar leve recuo entre março e maio (sempre
considerando o trimestre móvel encerrado em cada um daqueles meses). Eram
12,850 milhões de desocupados no primeiro trimestre deste ano, número reduzido
para 12,710 milhões no trimestre março a maio (140,0 mil a menos, num recuo de
1,1%).

·  
Mas
a chamada força de trabalho potencial, que inclui todos os trabalhadores que
deixaram de procurar trabalho por falta de opções (ou por conta das medidas de
afastamento), mas que desejariam trabalhar, experimentou um salto de 43,0% no
período, o que ajudou a mascarar o desemprego real.

·  
Esse
contingente de trabalhadores avançou de 8,303 milhões para 11,874 milhões, ou
seja, 3,571 milhões a mais. Como se percebe, esse número já se aproxima do
total de desempregados. Na soma do número de desempregados com o total de
pessoas na força de trabalho potencial, já são 24,584 milhões de trabalhadores
afastados do mercado, que significa 93,4% a mais do que o número oficial de desempregos.

·  
Não
causa estranheza, portanto, que a subutilização da força de trabalho tenha
alcançado níveis recordes em maio, somando 30,731 milhões de pessoas, com a
taxa de subutilização atingindo 27,5%. O nível de ocupação, medido a partir da
relação entre o total de pessoas com alguma ocupação e o número de pessoas em
idade para trabalhar, chegou pela primeira vez na história da PNAD a 49,5%.
Isso significa que pouco mais de 50 a cada 100 pessoas com mais de 14 anos não
conseguem um trabalho.

·  
Foram
fechados 8,616 milhões de empregos entre o final do ano passado e maio deste
ano, pois o total de ocupados saiu de 94,552 milhões para 85,936 milhões, em
queda de 9,11%. Praticamente 86,5% dessa redução veio de ocupações informais
(sem carteira, ocupados sem CNPJ, subocupados por insuficiência de horas
trabalhadas e trabalhadores não remunerados). Na soma geral dessas categorias,
o número baixou de 48,025 milhões para 40,572 milhões de dezembro para maio
(7,453 milhões menos, numa queda de 15,5%).