Empregos de baixa qualificação puxam alta no total de ocupados

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 01 de junho de 2022

O aumento do emprego nos últimos 12 meses até o trimestre encerrado em abril deste ano pode ser explicado principalmente pelo crescimento das ocupações de menor qualificação, envolvendo empregos de baixa remuneração, e pelo avanço da informalidade, como mostram as estatísticas da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem referências maiores, o número total de ocupados atingiu 96,512 milhões entre fevereiro e abril deste ano, maior nível da série, mas um resultado enganoso se outras referências não forem consideradas.

Comparada ao mesmo trimestre do ano passado, a população ocupada cresceu 10,3% com a abertura de 9,036 milhões de vagas, já que o total de ocupados naquela época havia somado 87,475 milhões por conta da pandemia. O surto de Covid-19 produziu distorções nas estatísticas, exigindo maior cautela nas comparações, assim como a flexibilização de direitos trabalhistas parece influenciar no comportamento mais recente do mercado de trabalho. Entre aquelas mais de 9,0 milhões de novas colocações, nada menos do que 6,024 milhões derivaram de ocupações de menor qualificação, envolvendo serviços domésticos, trabalhadores na agricultura, na construção civil, em lojas, restaurantes, hotéis, postos de combustível, transporte, oficinas de veículos e outros.

No total, o total de ocupações naqueles segmentos avançou de 44,680 milhões para 50,704 milhões, crescendo 13,5% no período, para responder por dois terços de todos os novos empregos criados no mercado. Como são setores que notoriamente pagam salários mais baixos e, não raro, sem carteira, esse aumento correspondeu a uma redução de 7,9% no rendimento médio real (ou seja, já atualizado com base na inflação) pago ao conjunto dos trabalhadores, que caiu de R$ 2.790 para R$ 2.569 mensais. Evidentemente, parte desses ganhos foi consumido pela escalada da inflação, influenciada pela disparada nos preços do gás de cozinha, combustíveis, energia elétrica e dos alimentos.

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Informais

Essa redução parece associada ainda ao incremento observado para o total de trabalhadores informais ao longo daqueles 12 meses. Na medida do IBGE, que desconsidera trabalhadores sem carteira no setor público, mas inclui aqueles sem carteira no setor privado, incluindo empregados domésticos, trabalhadores por conta própria e empregadores sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), em ambos os casos, caíram na informalidade perto de 38,734 milhões de trabalhadores, diante de 34,348 milhões entre fevereiro e abril do ano passado, numa elevação de 12,8%. Passaram para a informalidade, portanto, outros 4,386 milhões de trabalhadores, correspondendo a 48,5% do total de novas colocações geradas no período.

Balanço

  • Considerando o nível mais baixo das ocupações, registrado no trimestre maio a julho de 2020, quando apenas 82,725 milhões de pessoas estavam ocupadas, foram criados em torno de 13,787 milhões de colocações, num aumento de 16,7% até o trimestre finalizado em abril deste ano. Daquela variação, os informais representaram quase 60% (mais precisamente, a cada 100 novas vagas, ao redor de 58,5 foram ocupadas por trabalhadores sem direitos trabalhistas).
  • Mais precisamente, o total de informais saltou de 30,668 milhões para aqueles 38,734 milhões, ou seja, quase 8,066 milhões a mais. As demais colocações, consideradas “formais” por exclusão, avançaram praticamente 11,0%, saindo de 52,057 milhões para 57,778 milhões de trabalhadores (ou seja, 5,721 milhões a mais, numa contribuição próxima a 41,5% para o crescimento observado para o total das ocupações).
  • Há outro ponto a ser observado, até como contraponto aos rojões que muito provavelmente serão deflagrados pelo ministro dos mercados e vendedor de ilusões, mais conhecido como Paulo Guedes. Entre fevereiro e abril de 2014, quando a economia vinha dando sinais de arrefecimento, mas ainda seguia adiante, o total de ocupados – 91,698 milhões de pessoas – representava em torno de 57,93% da população com 14 anos ou mais. Neste ano, tomando idêntico trimestre, essa relação chegou a 55,85%.
  • Para manter os mesmos níveis registrados há oito anos, o mercado deveria ter criado perto de 100,11 milhões de colocações, quer dizer, algo como 3,6 milhões de empregos a mais do que o número efetivamente registrado pela PNADC. Assim, o “recorde” nominal registrado no trimestre mais recente deve ser lido com cautela, já que a economia claramente não consegue operar em toda sua capacidade, anotando níveis de ociosidade ainda relevantes.
  • A observação surge reafirmada pela taxa de desemprego ainda elevada, variando ao redor de 10,5% no trimestre fevereiro-abril deste ano, frente a 14,8% no mesmo trimestre de 2021, com o total de desempregados baixando de 15,189 milhões para 11,349 milhões de pessoas. Esse número apresenta crescimento de 59,08% desde o trimestre fevereiro-abril de 2014, quando a PNADC registrava 7,134 milhões de desocupados.
  • Tomando esse mesmo período (quer dizer, os mesmos trimestres de 2014 e de 2022), a população em idade de trabalhar (14 anos ou mais) saiu de 158,218 milhões para 172,807 milhões, agregando mais 14,589 milhões de pessoas, numa variação de 9,2%. O total de ocupados no mesmo intervalo, no entanto, apontou variação de apenas 5,3%, saindo de 91,698 milhões para 96,512 milhões (empregando 4,814 milhões de trabalhadores a mais). Resta uma diferença aqui de 9,775 milhões de pessoas.
  • Parte delas passou a engrossar a fila dos desempregados, enquanto outra parcela deixou o mercado de trabalho, abandonando a busca por uma colocação ou passando a integrar a força de trabalho potencial (quer dizer, ainda com esperança e desejo de conseguir alguma forma de trabalho). A força potencial cresceu 93,75% no período, saindo de 4,226 milhões para 8,188 milhões. Entre esses, aqueles desalentados foram triplicados, de 1,476 milhão para 4,451 milhões (201,6% a mais).