Coluna

Empresas demitem trabalhadores formais e desemprego ainda avança

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 21 de agosto de 2020

O
título da coluna repete intencionalmente o mesmo utilizado há quatro semanas. A
ideia, evidentemente, é mostrar que o cenário continuava ruim em julho, mesmo
diante da retomada das atividades em diversos setores da economia. Em Goiás, assim como no restante do País, as empresas
continuaram demitindo trabalhadores com carteira, enquanto outras formas de
ocupação igualmente formal,assim como trabalhadores informais, continuavam a
perder espaço. O desemprego cresceu mais um pouco e, paradoxalmente, a massa
real de rendimentos recebidos por todos os trabalhadores cresceu, ajudada pelos
benefícios que a equipe econômica insiste em cortar num momento ainda de avanço
da pandemia.

Os
números do mercado de trabalho no Estado, segundo a série especial da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), também chamada de PNAD Covid-19,
elaborada pela equipe do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), mostram corte de mais 73,4 mil empregos em julho, na comparação com
junho, pois o total de pessoas ocupadas baixou de 3,088 milhões para menos de
3,015 milhões, em recuo de 2,38%. O número de desempregados cresceu apenas
levemente na virada de junho para julho, porque um número maior de
trabalhadores desistiu de buscar alguma forma de ocupação, embora continuassem
dispostas a trabalhar.

Dessa
forma, o número de desempregados avançou de 466,093 mil em junho para 468,189
mil em julho, numa variação aparentemente modesta de 0,45% (2,096 mil
desempregados a mais). Mas o total de trabalhadores sem emprego, que não
procurou alguma vaga no período da pesquisa, mas que gostaria de trabalhar, saltou
10,7% na mesma comparação, saindo de 708,335 mil para 783,997 mil (quer dizer,
75,662 mil a mais). Não fosse esse comportamento, alimentado pelo desalento,
pela falta de ocupações dignas e, em menor grau, pela pandemia persistente, o
número de desocupados e a taxa de desemprego teriam literalmente explodido. Mas
a taxa de desocupação oficial variou de 12,6% em maio para 13,1% em julho,
avançando até 13,4% em julho.

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Desemprego real

Apenas
como exercício teórico, caso todas essas quase 784,0 mil pessoas alijadas do
mercado decidissem retomar a busca por uma colocação ao mesmo tempo, o número
de desocupados saltaria para alguma coisa próxima a 1,252 milhão, significando
mais de um quinto de toda a população com 14 anos ou mais no Estado. Os números
da pesquisa mostram, ainda, que a chamada força de trabalho (pessoas ocupadas
mais os desempregados que ainda continuavam a procura de emprego) havia
encolhido 2,0% em julho, sempre na comparação com junho, saindo de 3,554
milhões para 3,483 milhões. Acrescida dos que abandonaram a busca por uma
ocupação, mas ainda gostariam de trabalhar, a força de trabalho ampliada ficou
praticamente estável entre um mês e o seguinte, somando 4,267 milhões de
pessoas em julho. Considerando essa força ampliada, a taxa “real” de desemprego
estaria por volta de 35,6%, diante de 33,4% em junho e 31,8% em maio.

Balanço

·  
A
trajetória, como se percebe, tem sofrido deterioração constante, mesmo com a
retomada de alguns setores, o que já se podia antecipar diante dos níveis ainda
elevado de insegurança e incerteza causados pela Covid-19. As ocupações formais
e informais continuam sendo castigadas indistintamente, o que prenuncia as
dificuldades que o mercado de trabalho e a economia em geral ainda terão que
enfrentar para engrenar uma retomada real.

·  
O
número de trabalhadores informais caiu mais 2,9% de junho para julho, passando
de pouco menos de 1,136 milhão para 1,102 milhão. Ou seja, mais 33,191 mil
informais deixaram o mercado, o que representou 45,2% de todos os empregos
perdidos no período.

·  
Os
empregos formais responderam por 54,8% da queda no número total de ocupações na
mesma comparação. Neste caso, os trabalhadores com carteira assinada e
empregadores com registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ),
somados, baixaram 2,1%, de quase 1,953 milhão para 1,912 milhão (40,209 mil a
menos). Mais grave: a queda entre os dois meses respondeu por 71,4% de todas as
ocupações formais encerradas desde maio (50,039 mil, já que, em maio, o número
de vagas formais somava 1,969 milhão).

·  
O
total de trabalhadores subutilizados, ou seja, desempregados, afastados do
mercado por desalento e falta de opções ou que exerciam funções com número de
horas trabalhadas abaixo da média (caracterizando subemprego), experimentou um
salto no Estado em plena pandemia. Esse número cresceu 6,8% em julho, quando atingiu
929,297 mil pessoas, diante de 869,935 mil em junho. Na comparação com maio, o
crescimento aproxima-se de 8,0%.

·  
Ainda
em julho, o percentual de domicílios permanentes onde alguém recebeu o auxílio
emergencial alcançou 45,3%, diante de 39,9% em maio e de 44,9% em junho. O
rendimento médio assegurado pelo auxílio (que varia de R$ 600 a R$ 1,2 mil) por
domicílio girou em torno de R$ 838,26 em julho, ligeiramente inferior ao de
junho (R$ 844,42), mas quase 4,9% superior ao de maio (R$ 799,38).

·  
Incluindo,
além do auxílio, os benefícios a idosos e pessoas com deficiência, os
pagamentos do Bolsa Família e do seguro desemprego, 1,131 milhão de domicílios
foram beneficiados em julho, com rendimento médio per capita de R$ 873,11 (4,2%
a mais sobre junho). O pagamento desses benefícios ajudou a sustentar o
crescimento de 3,6% registrada pela massa real de rendimentos efetivamente
recebidos pelos trabalhadores, que avançou de R$ 5,341 bilhões em junho para R$
5,533 bilhões em julho.