Enel Goiás reduz investimento, mas prejuízo salta 486% no 2º trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 20 de setembro de 2022

O aumento nos custos de captação de recursos no mercado, em meio ao incremento vigoroso dos juros básicos na economia, acionado pelo Banco Central (BC), e dos encargos setoriais contribuíram de forma decisiva para multiplicar em quase seis vezes o prejuízo da Enel Distribuição Goiás no segundo trimestre deste ano. Os investimentos seguiram trajetória contrária, depois do forte avanço registrado no primeiro trimestre, o que manteve em crescimento os valores investidos pela empresa no Estado ao longo dos primeiros seis meses de 2022.

Os dados das demonstrações financeiras apontam um resultado líquido negativo de R$ 119,392 milhões no segundo trimestre deste ano, diante de um prejuízo de R$ 20,376 milhões em igual período do ano passado, num salto de 486,1%. Nos três primeiros meses deste ano, o balanço já havia registrado perdas de R$ 51,633 milhões, o que significa que o prejuízo mais do que dobrou no trimestre seguinte, numa alta de 131,2%. O salto nos juros explica em grande parte o crescimento do prejuízo. A conta líquida das despesas financeiras, já descontadas as receitas nesta área, apresentou alta de 148,65% entre o segundo trimestre do ano passado e idêntico intervalo deste ano, subindo de R$ 81,386 milhões para R$ 202,366 milhões. O gasto financeiro líquido passou a representar 9,77% da receita operacional líquida, diante de 3,55% no segundo trimestre do ano passado.

O investimento na expansão da rede de distribuição e de transmissão, envolvendo combate a perdas, melhoria da qualidade do sistema e adequação de carga, e em novas conexões, entre outros, registrou baixa de 20% entre aqueles dois períodos, saindo de R$ 560,824 milhões para R$ 448,612 milhões. A queda veio na sequência de um aumento de 114,9% observado no primeiro trimestre, também em relação a igual período de 2021, com o investimento saindo de R$ 269,580 milhões para R$ 579,254 milhões.

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Receita em baixa

O efeito combinado do recuo da receita bruta no segundo trimestre, passando de R$ 3,394 bilhões no ano passado para R$ 3,378 bilhões, e do avanço de 18,4% dos custos deduzidos da receita operacional (impostos e encargos setoriais basicamente) na mesma comparação, saindo de quase R$ 1,103 bilhão para R$ 1,306 bilhão, derrubaram a receita líquida da companhia de R$ 2,291 bilhões para alguma coisa abaixo de R$ 2,072 bilhões, numa queda de 9,6% em termos nominais. A Enel Distribuição Goiás conseguiu, no entanto, reduzir o custo do serviço em 8,4% entre os dois trimestres, com cortes de 8,0% nas despesas e custos operacionais. Esses movimentos amenizaram, mas não evitaram, conforme anotado acima, o impacto do salto nos custos financeiros.

Balanço

  • No acumulado do primeiro semestre, a última linha da conta de resultados mudou de sinal, saindo de um lucro de modestos R$ 2,883 milhões em 2021 para um prejuízo de R$ 171,025 milhões neste ano. A receita bruta chegou a crescer 15,5% em relação à primeira metade do ano passado, somando R$ 7,428 bilhões diante de praticamente R$ 6,433 bilhões nos seis meses iniciais de 2021. Mas a receita líquida avançou apenas 2,3% em igual período, variando de R$ 4,265 bilhões para R$ 4,363 bilhões.
  • O desempenho pode ser explicado pelo salto de 41,4% no valor total das deduções, que subiram de R$ 2,167 bilhões para R$ 3,065 bilhões. O incremento pode ser explicado principalmente pela conta mais pesada do Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) antes do limite aprovado pelo Congresso no final de junho para a cobrança do imposto pelos Estados. No primeiro semestre deste ano, a empresa recolheu R$ 1,435 bilhão de ICMS destacado na fatura de energia apresentada aos clientes, frente a R$ 1,126 bilhão nos mesmos seis meses de 2021, num aumento de 27,5%.
  • Os encargos setoriais quase dobraram, saindo de R$ 604,380 milhões para R$ 1,152 bilhão, pressionados pelo pagamento do empréstimo tomado pela distribuidora para fazer frente aos efeitos da pandemia em 2020 (lançado à conta de desenvolvimento energético) e pelo incremento dos encargos do consumidor, gerados pela bandeira de escassez hídrica que vigorou até abril deste ano.
  • Outro fator de pressão sobre o balanço veio, mais uma vez, da conta financeira, que acumulou variação de 162,8% no primeiro semestre deste ano, atingindo R$ 382,258 milhões em relação a R$ 145,435 milhões nos mesmos seis meses do ano passado. A elevação de 12,3% nos custos e despesas operacionais, saindo de R$ 1,756 bilhão para R$ 1,972 bilhão, foi parcialmente compensado pela redução de 3,8% no custo do serviço (de R$ 2,348 bilhões para pouco menos de R$ 2,260 bilhões), explicado pelo tombo de 46,3% nos encargos de conexão e uso da rede (de R$ 508,536 milhões para R$ 273,221 milhões).
  • A necessidade de captar recursos para fazer frente aos investimentos e ao capital de giro necessário para as operações diárias terminou levando a um salto de 62,6% no saldo da dívida bruta da companhia entre junho do ano passado e igual mês deste ano, elevando-a de R$ 4,070 bilhões para R$ 6,617 bilhões (95,1% devidos ao próprio grupo Enel e a suas controladas).
  • Com o caixa crescendo mais de seis vezes, de R$ 111,037 milhões para R$ 699,007 milhões, a dívida líquida teve seu crescimento “limitado” a 49,5% na mesma comparação, passando de R$ 3,959 bilhões para R$ 5,918 bilhão. O nível de endividamento, aferido em relação ao retorno antes de impostos, juros, amortizações e depreciação (Ebitda, na sigla em inglês), registrou piora, saindo de 3,99 para 5,31 vezes.