Energia mais cara responde por quase dois terços da inflação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 26 de agosto de 2023

A alta de 4,59% nas tarifas médias da energia residencial nas quatro semanas encerradas em 14 de agosto explicou quase dois terços do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) deste mês. O avanço deveu-se basicamente pelo “ fim da incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas emitidas no mês anterior”, anota o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo da inflação. O IPCA havia alcançado 0,12% nos 30 dias de julho e, na mediação do IPCA-15 de agosto, avançou para 0,28%. Ainda que o dado tenha superado as estimativas do mercado, que trabalhava com o índice médio na faixa de 0,16% para o período, a taxa mensal sugere alguma perda de ímpeto no ritmo de alta dos preços.

Entre a primeira quinzena de julho e o final do mesmo mês, registrou-se elevação de 0,19 pontos percentuais, com a inflação deixando para trás uma taxa negativa de 0,07% para atingir 0,12% já em terreno positivo. Entre o final de julho e a primeira quinzena de agosto, sempre considerando períodos quadrissemanais, a elevação foi ligeiramente menos intensa, com variação de 0,16 pontos percentuais. O aumento recente nos preços dos combustíveis pela Petrobrás, no entanto, poderá alterar o cenário, ainda que a tendência de “desinflação” deva prosseguir, com a ajuda principalmente dos preços dos alimentos.

Os preços médios de alimentos e bebidas anotaram queda de 0,65% nos 30 dias entre 14 de julho e 14 de agosto, diante de uma baixa ao redor de 0,46% nas quatro semanas de julho. A maior influência veio do subgrupo alimentação no domicílio, com redução média de 0,99% – o que se compara com uma redução de 0,72% nos 30 dias de julho. Praticamente 80% da redução observada na primeira quinzena de agosto pode ser explicada por baixas nos preços da batata inglesa (-12,68%), do tomate (-5,60%), do frango em pedaços (-3,66%), do leite longa vida (-2,40%) e das carnes (-1,44%). Antes do mais recente aumento, os preços dos combustíveis haviam apresentado desaceleração no ritmo de alta, saindo de variação de 4,15% em julho para 0,46% nas quatro semanas finalizadas em 14 de agosto.

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Numa tendência divergente, o IPCA-15 medido em Goiás experimentou recuo, saindo de 0,16% nos 30 dias de julho para 0,09% até 14 de agosto. Os preços dos alimentos, que já haviam baixado 0,71% em julho, caíram 0,90% na medição seguinte. A alta de 6,87% nas tarifas de energia foi compensada ainda pela redução de 0,43% nos custos do grupo transportes, influenciado pela redução de 1,84% nos preços dos combustíveis.

Impacto por faixa de renda

Recém-lançada como “pioneira e inovadora”, a Inflação por Faixa de Renda Goiana (IFRG), calculada pelo Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB), mostra que o efeito da queda nos preços médios dos alimentos, da energia elétrica residencial e do gás de botijão, em julho, teve impacto mais positivo sobre os mais pobres, como esperado, aliviando a pressão sobre o orçamento para a faixa de renda domiciliar per capita de até R$ 520. Em tom grandiloquente, o trabalho ganhou o título “Goiás assume o protagonismo em fornecer informações claras e acessíveis à população, sendo um dos primeiros Estados a abordar o tema” (a inflação por faixa de renda, num trabalho já realizado rotineiramente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea).

Balanço

  • O efeito combinado dos preços médios mais baixos nos grupos alimentação e bebidas (-0,73%), habitação (-1,51%), artigos de residência (-0,93%), vestuário (-0,28%) e comunicação (-0,25%) ajudou a derrubar a inflação dos mais pobres, com a taxa atingindo -0,25% em julho para essa faixa de renda, diante de uma variação média de 0,16% registrada pelo IPCA. Segundo boletim divulgado ontem pelo IMB, o grupo habitação “foi o que gerou maior influência na formação do indicador em razão do recuo no preço do serviço de energia elétrica residencial em 4,35% e no preço do gás de botijão em 1,06%”.
  • A oferta de alimentos básicos a preços mais baixos, da mesma forma, destaca o IMB, ajudou a derrubar a inflação para os 20% mais pobres, com destaque para feijão carioca, em queda de 12,12%, e para os preços de cortes diversos de carne bovina, registrando-se quedas de 2,79% para o acém e de 2,77% para o músculo. Da mesma forma, ficaram mais baratos o frango em pedaços (-3,31), açúcar cristal (-1,40%), arroz (-1,54), café moído (-1,08%), macarrão (-1,07%), ovo de galinha (-0,71%) e pão francês (-0,62%). Em proporção menos intensa, os mesmos fatores, prossegue o IMB, explicaram a deflação de 0,03% e de 0,02% para as faixas de renda média baixa (acima de R$ 520 a R$ 869) e de renda média (entre R$ 869 e R$ 1.217).
  • Na outra ponta, incluindo os 20% mais ricos, com renda per capita domiciliar acima de R$ 1.965, o índice foi positivo, com a IFRG alcançando 0,49%. Ainda conforme o IMB, as maiores influências para a elevação do custo de vida naquela faixa de renda vieram das altas nos setores de transportes (1,73%) e despesas pessoais (0,59%). “Os itens que mais impactaram o índice foram passagem aérea (11,27%), gasolina (4,74%), hospedagem (4,02%), condomínio (3,59%), aparelho ortodôntico (3,46%), automóvel novo (3,21%), pacote turístico (1,96%) e plano de saúde (0,78%)”, complementa o texto elaborado pelo instituto goiano. Na média geral, a inflação para a população de renda média alta, com ganhos domiciliares per capita acima de R$ 1.217 e até R$ 1.965, atingiu 0,15%.
  • O boletim menciona ainda estudo divulgado do ano passado pelo IMB, mostrando “discrepância significativa da proporção da despesa mensal com habitação, transporte e alimentação nos domicílios goianos de acordo com a renda per capita”. Em conjunto, os três grupos de despesas “representam aproximadamente 77,5% da despesa mensal dos domicílios com rendimento per capita com até um quarto do salário mínimo” (em torno de R$ 330 a se considerar o mínimo aprovado nesta semana pelo Congresso). Os domicílios com renda per capita de 13 salários mínimos (R$ 17.160) destinam 43% de seu orçamento, também em valores aproximados, para fazer frente àquelas mesmas despesas.
  • Numa projeção sobre os impactos dos reajustes anunciados pela Petrobrás no dia 16 de agosto para os preços da gasolina e do diesel cobrados nas refinarias, o IMB espera uma elevação de 1,08 ponto percentual sobre o índice médio da inflação em Goiânia ao longo de um mês, com efeitos mais amplos sobre as faixas de renda mais alta, diante da composição de sua cesta de consumo. Neste caso, a inflação dos 20% mais ricos tenderia a sofrer elevação de 1,45 pontos, seguida de alta de 1,18 pontos percentuais para a faixa de renda média alta, com avanço adicional de 0,99 pontos para a renda média. Para os domicílios com renda média baixa e baixa, a estimativa do instituto sugere incrementos de 0,87 e de 0,81 pontos respectivamente. O cálculo não imputa variações esperadas para os demais produtos e grupos de gastos, o que significa dizer que aqueles impactos, numa hipótese mais otimista, poderão ser de alguma forma compensados pela tendência de preços mais baixos sobretudo no grupo dos alimentos.