Equatorial Goiás reduz perdas em 24% em 2023, mas dívida salta 40%

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 03 de abril de 2024

A redução dos gastos com a compra de energia para revenda, diante de custos médios por megawatt relativamente mais baixos do que no ano passado, a queda nos custos de operação e construção e, de forma mais limitada, o reajuste médio de 3,54% autorizado já em outubro do ano passado, entre outros fatores, contribuíram para que a Equatorial Goiás Distribuidora de Energia conseguisse reduzir o prejuízo líquido realizado em 2023. Na comparação com 2022, quando as perdas haviam somado R$ 808,417 milhões, o resultado líquido negativo baixou para R$ 613,947 milhões.

O endividamento total da empresa cresceu em torno de 40,0% no ano passado, atingindo R$ 9,956 bilhões, algo como 44,62% dos ativos totais, frente a R$ 7,107 bilhões em 2022 (36,48% dos ativos). O avanço da dívida pode ser explicado quase integralmente pelas operações de captação de recursos por meio do lançamento de debêntures, que passaram a representar 99,50% de toda a dívida ao final do exercício passado. Os recursos levantados no mercado por essa via, com garantias da controladora, melhoraram sensivelmente o perfil do endividamento, com as dívidas de curto prazo reduzindo sua participação de 94,72% para 3,74%. Mas 56% da dívida total, algo como R$ 5,594 bilhões, vencerão em 2026, o que certamente exigirá nova operação para reestruturar o compromisso a vencer.

Gargalo persistente

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Um dos principais gargalos na operação, que têm gerado irritação no governo que pressionou para a transferência de controle da concessionária, ocorrido ao final de 2022, os indicadores de duração (DEC) e de frequência (FEC) na falta de energia não registraram melhoras. No primeiro caso, o DEC havia mesmo sido reduzido de 20,8 para 19,9 entre o terceiro trimestre de 2022 e o segundo trimestre deste ano, mas foi elevado para 21,58 no quatro trimestre, ou quase 87,7% acima do valor de referência firmado no contrato de concessão (11,5). O FEC avançou de 9,4 para 10,3 entre o terceiro trimestre do ano passado e o segundo deste ano, chegando a 10,6 no terceiro trimestre e subindo para 11,16 no quarto trimestre, o que se compara com 7,8 no compromisso assumido pela distribuidora. Como registro, o FEC havia atingido 10,35 ao final de 2022.

Balanço

  • A melhora no desempenho econômico-financeiro da distribuidora, de toda forma, ficou concentrada no trimestre final do ano, quando o prejuízo registrou um tombo de 89,33% em relação aos três últimos meses de 2022, desabando de R$ 491,445 milhões para R$ 52,455 milhões. Até setembro, os números continuavam muito negativos, embora viessem experimentando recuperação. No terceiro trimestre, a conta de resultados da companhia havia anotado prejuízo líquido de R$ 78,696 milhões, diante de perdas ao redor de R$ 145,948 milhões em igual período de 2022, quando a distribuidora ainda estava sob o controle da italiana Enel, numa queda de 46,08%.
  • A despeito dessa redução, entre janeiro e setembro do ano passado, o prejuízo ainda apresentava crescimento vigoroso, saltando de R$ 316,972 milhões nos mesmos nove meses de 2022 para R$ 561,492 milhões, num aumento de 77,14% – ou seja, R$ 244,520 milhões a mais. A piora na última linha da conta de resultados havia se concentrado no segundo trimestre deste ano, com prejuízo de R$ 422,672 milhões, num salto de 254,02% diante de igual intervalo de 2022.
  • No acumulado dos 12 meses de 2023, a receita operacional líquida avançou apenas 2,0%, saindo de R$ 9,032 bilhões para R$ 9,213 bilhões. Mas o custo do serviço de energia elétrica sofreu baixa de 10,42% na mesma comparação, caindo de R$ 8,387 bilhões para R$ 7,513 bilhões.
  • O custo mais baixo resultou de uma forte redução de 31,87% no custo da operação (de R$ 1,471 bilhão para R$ 1,002 bilhão) e do recuo de 3,16% no custo da energia comprada para revenda, saindo de R$ 4,762 bilhões para R$ 4,611 bilhões, como reflexo, por sua vez, da queda nos preços médios do quilowatt e do fim da crise hídrica que afetou as barragens e exigiu o disparo das termelétricas movidas a combustíveis fósseis, mais caras e pesadamente poluentes.
  • A despeito do avanço muito modesto da receita líquida, a queda nos custos do serviço abriu espaço para um salto de 163,55% no resultado bruto, que passou de R$ 644,953 milhões para quase R$ 1,70 bilhão. 
  • As despesas operacionais, pressionadas pelo aumento das provisões, saltaram 99,76% entre 2022 e 2023, passando de R$ 644,180 milhões para R$ 1,287 bilhão. Ainda assim, o resultado antes da conta financeira e de impostos sobre o lucro disparou de apenas R$ 773,0 mil para R$ 412,939 milhões. Mas o resultado financeiro, que havia sido negativo em aproximadamente R$ 1,105 bilhão, passou a apresentar prejuízo de R$ 1,480 bilhão, em valores aproximados, num aumento de 33,98%.
  • Antes dos impostos, o resultado negativo havia recuado apenas 3,34%, de R$ 1,104 bilhão para R$ 1,067 bilhão. Os impostos diferidos (R$ 295,388 milhões em 2022 e R$ 452,973 milhões no ano passado, ou seja, 53,35% a mais) ajudaram a derrubar o prejuízo na linha final da conta de resultados.
  • Incluindo o Programa Luz Para Todos (PLPT), a concessionária reduziu seu investimento em 1,4% no ano passado, de R$ 2,105 bilhões para R$ 2,075 bilhões. Os projetos de expansão e melhoria da rede receberam R$ 1,502 bilhão (72,39% do total), num aumento de 46,4% em relação a R$ 1,26 bilhão investidos em 2022. Mas a manutenção da rede sofreu corte de 70,0% nos investimentos, que despencaram de R$ 851,0 milhões para R$ 255,0 milhões, o valor mais baixo desde 2019.