Indústria volta a tropeçar e acumula recuo de 1,8% desde o final de 2023

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 04 de abril de 2024

As indústrias extrativas, ancoradas em bens de origem mineral, como petróleo bruto e minério de ferro, em dois exemplos, chegaram a experimentar salto de 7,3% no último bimestre do ano passado, mas devolveram todo o crescimento nos dois meses seguintes, passando a acumular um tombo de 7,8%. O desempenho do setor de transformação não ajudou muito e, para complicar um pouco mais, chegou a observar certa acomodação no período mais recente, saindo de uma elevação já modesta de 0,3% na comparação entre dezembro e outubro de 2023 para uma variação virtualmente nula no bimestre inicial deste ano, com taxas próximas a zero em janeiro e em fevereiro, na comparação ajustada sazonalmente – quer dizer, com exclusão de fatores que ocorrem todos os anos nos mesmos períodos, influenciando na comparação dos indicadores econômicos mês a mês.

O resultado foi um recuo de 1,8% para o conjunto da produção industrial brasileira nos dois meses iniciais deste ano, denotando a dificuldade enfrentada pelo setor já há anos para engrenar um crescimento mais vigoroso. Na comparação com o mês imediatamente anterior, a produção caiu menos em fevereiro, num recuo de 0,3%, depois de sofrer baixa de 1,5% em janeiro (devolvendo o avanço de 1,5% anotado em dezembro). O desempenho magro colhido no período, como visto, deveu-se em boa parte à indústria de extração mineral. Mas cabe anotar que a indústria de transformação não conseguiu avançar e muito menos compensar as perdas do setor extrativo.

Na leitura do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), de toda forma, os dados negativos têm “se restringido ao desempenho do ramo extrativo, que depois de um ano majoritariamente positivo em 2023 vem devolvendo parte do que ganhou, em uma trajetória de acomodação”. Ainda conforme o instituto, “a indústria de transformação (…) não se expandiu, mas também não está encolhendo, como ocorreu na entrada do ano passado”.

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Desempenho por setor

As perdas acumuladas pelo setor de extração mineral, prossegue o Iedi, influíram nos dados também negativos da indústria de bens intermediários, “por este congregar algumas atividades extrativas”. Em janeiro e fevereiro, a produção de bens intermediários, destinados ao restante da indústria, caiu 2,7% e 1,2% respectivamente, na comparação com os meses imediatamente anteriores. A produção de bens duráveis e de semiduráveis e não duráveis anotou comportamento diverso, com altas de 1,5% e de 3,6% no primeiro setor respectivamente em janeiro e fevereiro e um recuo de 0,4% sucedido por um leve avanço de 0,4% naquela segunda área nos mesmos meses. Literalmente, portanto, a produção de semi e não duráveis manteve-se em fevereiro praticamente nos mesmos níveis do final de 2023. Ainda que a uma taxa mais modesta, a produção de bens de capital conseguiu alcançar o segundo mês de crescimento, depois de ter colecionado quatro quedas consecutivas, crescendo 1,8% em fevereiro depois de avançar 9,3% em janeiro.

Balanço

  • Nos primeiros dois meses deste ano, no indicador ajustado sazonalmente, a produção de bens de capital chegou a crescer 11,3%. Deve-se recordar, de toda forma, que a produção no setor havia encolhido 15,3% entre março e dezembro do ano passado. De toda forma, trata-se de um movimento diferente do ocorrido nos primeiros dois meses do ano passado, quando a indústria de bens de capital havia encolhido 7,0% e 1,3% – num recuo acumulado de 8,3%.
  • Na descrição do IBGE, na passagem de janeiro para fevereiro, a atividade industrial sofreu baixa em “uma das quatro grandes categorias econômicas [bens intermediários, num recuo de 1,2% como já registrado] e em dez dos 25 ramos industriais pesquisados [com estabilidade para dois outros] mostraram redução na produção”. 
  • De acordo com o mesmo instituto, ao analisar o desempenho por atividade econômica, os destaques mais negativos vieram das industrias de produtos químicos (com queda de 3,5%), indústrias extrativas (-0,9%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-6,0%), “com a primeira eliminando parte da expansão de 7,4% verificada em janeiro último; a segunda acumulando perda de 7,8% em dois meses consecutivos de queda na produção; e a terceira voltando a recuar após crescer 16,1% no mês anterior”.
  • No lado positivo, a produção de veículos, da indústria de celulose e papel e a fabricação de produtos de minerais não metálicos (cimento, areia, brita e agregados), pela ordem, cresceram 6,5%, 5,8% e 4,5%. Um setor relevante praticamente não registrou variação, já que a produção de bens alimentícios recuou 0,1% em fevereiro em relação a janeiro.
  • Na comparação com igual período do ano passado, a indústria chegou ao sétimo mês de crescimento, o que obviamente é uma notícia positiva, mas deve ser considerada com cautela, já que a base foi muito achatada por meses em sequência de resultados ruins. Seja como for, a produção industrial já havia crescido 3,7% em janeiro e avançou 5,0% em fevereiro, comparada aos mesmos dois meses do ano passado; com altas de 1,7% e de 5,3% para bens de capital (sempre em janeiro e fevereiro); avanços de 4,5% e de 5,1% no segmento de bens intermediários; altas de 1,1% e de 9,3% no setor de duráveis; e de 3,4% e 4,8% para semiduráveis e não duráveis.
  • Numa anotação final, mas não definitiva, quatro áreas concentraram em torno de 71,0% do crescimento observado em fevereiro deste ano, em relação ao mesmo mês de 2023 – pela ordem, alimentos, coque, derivados de petróleo e biocombustíveis, extrativa e veículos.