Fatores passageiros causam alta da inflação no início de fevereiro

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 28 de fevereiro de 2024

A inflação nas duas primeiras semanas deste mês, medida entre 16 de janeiro e 15 de fevereiro pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), veio mais alta do que a taxa aferida nas quatro semanas de janeiro, mas abaixo das projeções do mercado financeiro. A elevação, no entanto, foi determinada principalmente pelo aumento sazonal dos custos de matrículas, mensalidades escolares e do material didático nesta época do ano e ainda pela mudança de sinais no setor de combustíveis, ditada especialmente pelo aumento de impostos sobre a gasolina. Esses fatores, no entanto, não guardam qualquer relação com a situação da demanda, vale dizer, as altas não foram motivadas por um aquecimento de consumo e tendem a ser dispersados mais adiante, esgotados os efeitos altistas agora observados.

Para ser ainda mais claro, a inflação no início do ano não justificaria e nem explicaria qualquer mudança nos rumos da política monetária, trazendo eventual interrupção do ciclo de cortes (modestos) nos juros e até mesmo a retomada das altas da taxa básica. As pressões inflacionárias no começo de todo ano são recorrentes e, neste momento, as variações observadas justamente na área da educação sugerem um ritmo menos intenso do que aquele observado no mesmo período do ano passado.

O IPCA-15 de fevereiro apresentou variação de 0,78% na média de todo o País, diante de uma taxa de 0,42% no fechamento de janeiro, o que mostra uma aceleração de 0,36 pontos percentuais na primeira quinzena do mês em curso. Para Goiânia, o IBGE registrou a maior variação entre as capitais, com alta de 1,07% na medição entre as duas semanas finais do mês passado e as duas primeiras deste mês, o que se compara com 0,87% nos 30 dias de janeiro, numa elevação de 0,20 pontos percentuais – tendência igualmente determinada pelos aumentos de preços nos setores de educação e dos combustíveis (processo agravado por aqui, sob o ponto de vista da inflação, em função do aumento da alíquota modal do Imposto sobre a Comercialização de Mercadorias e Serviços, o ICMS, decidido pelo governo do bolsonarista Ronaldo Caiado).

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Pressão em baixa

No cenário nacional, o IPCA-15 veio inferior à inflação mediana (mais comum) esperada por todo o mercado, que aguardava uma taxa ao redor de 0,83% – a equipe de macroeconomia do Itaú BBA, em outro exemplo, projetava um IPCA-15 mais próximo de 0,88% para este mês, mas foi surpreendida pelo comportamento mais baixista do que o esperado para os preços das passagens aéreas e da gasolina. Em linhas gerais, no entanto, não se antecipam riscos inflacionários relevantes no horizonte visível. Os aumentos agora registrados nas matrículas e mensalidades escolares, como sempre ocorre, vão perder força mais à frente, assim como a correção nos preços dos combustíveis, depois de absorvida a elevação dos impostos. A partir de março, com a entrada da nova safra, embora menor do que seu potencial, da mesma forma tende a amenizar pressões inflacionárias no setor da alimentação.

Balanço

  • Nos dados do IBGE, um conjunto de 20 produtos foi responsável por 85,9% do IPCA-15 de fevereiro, numa contribuição de 0,67 pontos para a taxa geral de 0,78%. Pouco mais de dois terços daquela inflação podem ser explicados por 10 entre aqueles produtos e/ou itens, com impacto de 0,50 pontos (64,10% da inflação geral). Entre aqueles 10 itens, incluem-se ensino fundamental (com alta de 8,23%), ensino médio (elevação de 3,74%), batata-inglesa (aumento de 22,58%), combo de telefonia, banda larga e tevê por assinatura (variação de 3,29%), arroz (5,85%), gasolina (0,84%), ensino médio (8,58%), plano de saúde (0,77%), serviços bancários (1,69%) e cenoura (salto de 36,21%).
  • Em alguns casos, concentrados no setor de alimentação, as pressões começam a ser menores, lembrando que os preços da batata-inglesa, do arroz e da cenoura haviam subido, nas quatro semanas de janeiro, pela ordem, 29,45%, 6,39% e 43,85%. A desaceleração no ritmo de alta sugere uma interrupção na tendência de alta e possivelmente mesmo algum recuo, ainda que discreto, já que o cálculo da inflação considera valores médios dos produtos, numa conta que acaba “capturando” parte de aumentos ocorridos em semanas anteriores e que já não estariam mais em cena no período mais recente.
  • A equipe de macroeconomia do Itaú BBA considera uma melhora, em termos qualitativos, no dado divulgado ontem pelo IBGE, a despeito da taxa comparativamente mais elevada do que em janeiro. Aquela melhoria estaria relacionada a “surpresas baixistas” nos índices que aferem a variação de preços nos grupos “industriais subjacentes (vestuário) e serviços subjacentes” (que exclui os grupos comunicação, cursos regulares e passagens aéreas). Neste último caso, a taxa da variação observada nas quatro semanas encerradas em 15 de fevereiro chegou a 0,65% diante de 0,76% em janeiro.
  • Na média, os chamados núcleos da inflação, indicadores que excluem variações excessivas para baixo ou para cima e segmentos mais voláteis e menos sujeitos a influências da demanda na economia, registrou aceleração, com a taxa acumulada em 12 meses saindo de 3,0% na mediação anterior para 3,9%. O banco projeta uma inflação em torno de 3,60% para este ano, diante de uma previsão de 3,80% do mercado financeiro como um todo, conforme acompanhamento do relatório Focus do Banco Central (BC).
  • O IPCA-15 de fevereiro (1,07%) em Goiânia resultou principalmente do aumento de 7,76% nos preços dos combustíveis, acima da variação de 5,45% registrada em janeiro, e do avanço de 4,56% nos custos dos cursos regulares (que haviam anotado total estabilidade em janeiro). Os dois itens, somados, responderam por 72,5% da inflação acumulada nas quatro semanas finalizadas no dia 15 deste mês.