Indústria entra em “modo gangorra” e recua 5,6% desde janeiro de 2021

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 06 de outubro de 2022

A indústria entrou em “modo gangorra”, numa tendência já observada há alguns meses e que parece se consolidar neste segundo semestre de 2022. Entre altos e baixos em sequência, a produção industrial não tem saído do lugar e, pior, retrocede no médio prazo, reforçando as dificuldades que o setor tem enfrentado, desde antes da pandemia, para engrenar marchas mais fortes e vencer o atoleiro a que foi lançado nos últimos anos. Os números da mais recente edição da pesquisa mensal sobre a produção industrial, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), alteram muito pouco esse cenário.

Na leitura do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a produção industrial oscila excessivamente desde maio passado, “sem apresentar nenhuma tendência definida”. Afinal, prossegue o instituto, todo o ganho registrado pela indústria em um mês é devolvido no seguinte. “É como se o setor não tivesse saído do lugar desde o final do primeiro trimestre de 2022”, apontam os analistas do Iedi.

A série de dados já submetidos a um ajuste sazonal, que expurga fatores cíclicos observados em determinados períodos do ano e que podem distorcer uma comparação mais objetiva dos resultados, mostra que a produção variou 0,4% maio para recuar 0,4% em junho e depois avançar 0,6% em julho para devolver o ganho em agosto, encolhendo precisamente 0,6%. Da mesma forma que em julho, quando a ligeira elevação havia sido por 38% dos 26 ramos da indústria acompanhados pelo IBGE, prossegue o Iedi, a queda em agosto esteve concentrada em 31% dos segmentos, também considerando a série com ajuste sazonal.

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Na saída de julho para agosto, as indústrias dos setores têxtil, coque, derivados de petróleo e biocombustíveis, extrativo mineral e de alimentos sofreram tropeço mais acentuado, com quedas, pela ordem, de 4,6%, de 4,2%, de 3,6% e de 2,6%. Entre os grandes setores, as quedas vieram do segmento de bens intermediários, que abastece todo o restante da indústria e recuou 1,4% frente a julho, e dos fabricantes de bens semi e não duráveis, com baixa de 1,4%. A produção de bens de capital (máquinas e equipamentos, por exemplo) e de bens duráveis (veículos e eletrodomésticos, entre outros) avançou 5,2% e 6,1% respectivamente.

Desafios adiante

As oscilações frequentes na produção industrial podem dificultar a visualização do cenário enfrentado pelo setor. Num horizonte um pouco mais amplo de tempo, o balanço no geral continua ainda negativo em praticamente todas as áreas da indústria. A produção do setor como um todo chegou a agosto deste ano expressando uma retração de 5,6% em relação a janeiro de 2021, mantendo 1,5% abaixo dos níveis de fevereiro de 2020. Comparada a maio de 2011, quando a série com ajuste sazonal do IBGE registrou o melhor momento para o setor, passada mais de uma década, a produção ainda aponta tombo de 17,9%, o que diz muito sobre o tamanho dos desafios colocados diante da indústria brasileira como um todo.

Balanço

  • A indústria extrativa foi atingida mais duramente numa fase mais recente e encolheu nada mais, nada menos do que 10,3% entre agosto de 2020 e o mesmo mês deste ano, considerando-se, nessa comparação, o período em que cada segmento da indústria registrou seu melhor desempenho na sequência da pandemia. Na comparação com fevereiro de 2020, a produção da extrativa recua 3,9%. A produção nesta área havia alcançado seu nível mais elevado em abril de 2015 e, desde lá, desabou 23,9%.
  • No setor de transformação industrial, também entre janeiro do ano passado e agosto deste ano, a produção sofreu baixa de 5,6% e acumula queda de 17,6% em relação a maio de 2011, quando havia registrado seu melhor momento na série histórica. Na comparação com fevereiro de 2020, a indústria de transformação recuava 0,65% até agosto deste ano.
  • Na indústria de bens de capital, o crescimento de 5,2% anotado em agosto, na comparação com julho deste ano, veio na sequência de dois meses negativos, com perdas de 1,8% e de 3,5% em junho e julho. A produção no setor havia apresentado elevação de 6,5% em maio, mas depois de despencar 7,9% em abril. Entre março e agosto, o setor de bens de capital ficou em terreno negativo, com recuo de 2,3%.
  • A indústria de fabricação de bens duráveis tem igualmente oscilado entre altas e quedas, saindo de um tombo de 6,7% em julho para um avanço de 6,1% em agosto, insuficiente, portanto, para repor as perdas do mês imediatamente anterior. Mas havia crescido 3,6% e 6,1% em maio e junho, sempre em relação aos meses imediatamente anteriores. O setor, de toda forma, está longe de recuperar suas perdas históricas e a produção ainda se encontra 37,4% abaixo dos níveis de março de 2011, melhor resultado da indústria de duráveis na série histórica do IBGE.
  • Tomando o mesmo mês de 2021, a indústria como um todo cresceu 2,8% em agosto, saindo de dois meses de resultados negativos, com recuos de 0,4% tanto em junho quanto em julho deste ano. Foram seis retrocessos nos oito meses iniciais deste ano, o que deixou no negativo o resultado acumulado entre janeiro e agosto, numa redução de 1,7% frente aos mesmos oito meses de 2021.
  • Na visão do Iedi, o crescimento registrado em agosto, frente ao mesmo mês do ano passado, resultado de “bases baixas de comparação na segunda metade de 2021” e a um “efeito calendário positivo”, já que agosto deste ano teve um dia útil a mais em relação ao mesmo mês do ano passado. “Esta foi a primeira alta relevante desde o primeiro semestre de 2021. Além disso, vale lembrar que nos últimos 13 meses houve apenas duas variações positivas”, anota ainda o instituto.