Indústria goiana derrapa depois de avançar 8 meses e bater seu recorde

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 14 de março de 2024

A produção da indústria goiana vinha crescendo desde maio do ano passado, na comparação com o mês imediatamente anterior, atingindo seu maior nível na série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em dezembro. Mas derrapou em janeiro depois de oito meses de resultados positivos, numa redução de 3,3% frente ao último mês de 2023, no quarto pior resultado mensal entre os 15 locais pesquisados pelo instituto, considerando o dado dessazonalizado – ou seja, depois de descontados aqueles fatores que ocorrem sempre nos mesmos períodos a cada ano e que poderiam distorcer a comparação.

Numa espécie de “compensação”, o setor experimentou alta de 10,2% em relação a janeiro do ano passado, com alguma desaceleração entre relação aos avanços de 13,6%, 17,0% e 19,3% observados, respectivamente, em outubro, novembro e dezembro do ano passado, igualmente na comparação com idênticos meses de 2022. Nesse tipo de comparação, o setor industrial goiano registrou em janeiro nove meses de crescimento contínuo, o que permitiu elevar o avanço acumulado em 12 meses de 5,9% até dezembro passado para 6,4% até janeiro. Para comparar, na média de todo o País, a indústria pouco se moveu nos 12 meses terminados em janeiro, anotando variação de 0,4%.

A maior contribuição para o crescimento entre janeiro do ano passado e o primeiro mês deste ano veio do principal ramo industrial do Estado, aquele com maior participação no valor agregado do setor – a indústria de fabricação de produtos alimentícios. A produção nesta área experimentou alta de 17,5% no período e contribuiu com 8,28 pontos percentuais no aumento de 10,2% registrado pelo conjunto da indústria goiana. Vale dizer, o setor de alimentos sozinho respondeu por quase 81,2% de toda a variação interanual capturada pela pesquisa mensal da produção industrial do IBGE.

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Alimentação

De acordo com o instituto, o aumento da produção concentrou-se principalmente nos setores de processamento de carnes de bovinos congeladas, frescas ou refrigeradas, maionese, carnes e miudezas de aves congeladas, frescas ou refrigeradas, tortas, bagaços e farelos da extração do óleo de soja, óleo de soja refinado e em bruto e queijos. A segunda maior contribuição veio do setor enquadrado pelo IBGE nas categorias de “coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis”, mas com participação mais relevante das usinas de etanol e biodiesel, incluindo com matérias-primas, neste último segmento, óleo de soja, gordura bovina, óleo de dendê e outras gorduras, com envolvimento, ao menos em tese, da agricultura familiar. A produção no setor saltou nada menos do que 126,6% diante de janeiro do ano passado, o que correspondeu a uma contribuição de 1,92 pontos para o crescimento geral de toda a indústria. Em outra conta, os biocombustíveis e produtos derivados do petróleo participaram com 18,8% do avanço da indústria em seu conjunto. Apenas esses dois segmentos – alimentos e biocombustíveis – foram responsáveis por todo o crescimento da produção industrial.

Balanço

  • Os dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) registram um aumento de 74,07% na produção goiana de etanol entre janeiro do ano passado e igual mês deste ano, passando de 38,516 milhões para 67,044 milhões de litros. Embora o IBGE não divulgue dados dessazonalizados por setor de atividade no caso dos Estados, as estatísticas da ANP sugerem que as usinas de etanol devem ter contribuído para o recuo da produção do setor industrial goiano na saída de dezembro para janeiro. Nessa comparação, a produção de etanol, que havia alcançado 184,335 milhões de litros em dezembro passado, despencou 63,63%.
  • Ainda com base nas séries estatísticas da ANP, a produção de biodiesel cresceu 59,47% entre janeiro de 2023 para o mesmo mês deste ano, subindo de 60,116 milhões para 95,864 milhões de litros. A produção em janeiro foi ainda 6,41% maior do que aquela realizada em dezembro último, quando o setor havia processado 90,089 milhões de litros.
  • O crescimento da produção nas indústrias de veículos, bebidas, produtos químicos, celulose, papel e produtos de papel, minerais não metálicos e a indústria extrativa (esta última em menor proporção) compensou as perdas registradas nos segmentos de produtos de metal, metalurgia, indústria farmacêutica, máquinas e equipamentos e vestuário – sempre em relação ao primeiro mês do ano passado.
  • Naquele grupo, o salto de 49,1% na produção de veículos, reboques e carrocerias, puxada pela fabricação de automóveis, acrescentou 1,06 pontos percentuais no crescimento geral da indústria, numa contribuição equivalente a 10,4%. A produção de bebida aumentou 20,0% no mesmo intervalo, influenciada pelo incremento nos segmentos de refrigerantes, cervejas e chope e água mineral.
  • Seguem-se variações de 6,3% na indústria de produtos químicos (sob influência de fertilizantes, sabões e detergentes), de 6,2% para celulose e papel (com ganhos para papel higiênico, chapas e caixas de papelão, papel miolo e fraudas descartáveis), avanço de 3,2% na área de produtos não metálicos (principalmente pré-fabricados de cimento ou concreto, asfalto e cimento) e ainda de 0,4% no setor extrativo, com ganhos para minério de cobre e brita.
  • A principal contribuição negativa veio da indústria farmacêutica, onde a produção desabou 16,4% sob a influência da menor produção de medicamentos. Mas houve perdas ainda para máquinas e equipamentos (queda de 17,7%, refletindo principalmente o recuo na produção de máquinas e aparelhos de pulverização para a agricultura, embora a produção de colheitadeiras tenha crescido) e um tombo de 24,9% na indústria de confecção, que produziu menos calças compridas masculinas e femininas e camisetas.
  • Os setores de metalurgia e produtos de metal recuaram nos dois casos 6,1%. No primeiro ramo, a contribuição negativa veio principalmente da fabricação de ferroníquel. No segundo, a queda na produção de estruturas de ferro e aço, latas e estruturas de alumínio foi mais decisiva para explicar o desempenho negativo.