Preços perdem força no final de fevereiro e inflação sobe menos

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 13 de março de 2024

O ritmo dos preços acompanhados regularmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo da inflação “oficial” no País, perdeu força na segunda metade de fevereiro, determinando um avanço menos vigoroso do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no fechamento do mês. As hordas da oposição virulenta, certos comentaristas manjados e analistas mais conservadores, diga-se assim, tentam pintar um cenário tenebroso para o custo de vida neste começo de ano, desconsiderando ou, melhor dizendo, escondendo mesmo o que há por trás dos índices inflacionários e a tendência concreta dos preços cobrados em geral dos consumidores.

Desta vez, o Banco Central (BC) não se deixou levar pela conversa mole daqueles setores e, a bem da verdade, nem mesmo o mercado corroborou o catastrofismo inflacionário, que correu as redes sociais e certo “noticiarismo” econômico. Sigamos aos dados, então. A taxa de inflação havia avançado de 0,42% nas quatro semanas de janeiro para 0,78% entre 16 de janeiro e 15 de fevereiro, variando 0,36 pontos percentuais. A elevação respondeu a uma nítida aceleração dos preços motivada basicamente por dois fatores: a alta sazonal dos custos da educação, impulsionados pelo aumento das matrículas e dos preços do material escolar; e pelo encarecimento dos combustíveis motivado diretamente pelo fim da isenção de contribuições federais (PIS/Cofins e Cide), em vigor desde junho do ano passado e revertida em janeiro, e ainda pelo aumento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado sobre combustíveis – neste caso, a partir de fevereiro.

Menor pressão

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Refletindo a entressafra de grãos e os níveis mais reduzidos de precipitação, que tendem a produzir uma safra menor neste ano e ajudaram a pressionar os preços de hortaliças e frutas, os custos médios da alimentação igualmente haviam entrado em elevação nas primeiras semanas do ano, saindo de 0,56% em dezembro para 1,53% nas quatro semanas encerradas em 15 de janeiro. Mas as pressões inflacionárias começaram a ceder. No caso do grupo alimentação e bebidas, a variação em fevereiro chegou a 0,95%, saindo de 0,97% nas quatro semanas finalizadas no dia 15 do mês passado. Nos 30 dias entre 30 de janeiro e 29 de fevereiro, o IPCA atingiu 0,83%, correspondendo a uma elevação de 0,05 pontos (lembrando que, na quadrissemana anterior a taxa havia subido 0,36 pontos).

Balanço

  • O menor fôlego dos preços veio principalmente como resultado da perda de velocidade relativa dos alimentos no domicílio e no setor da educação. No primeiro caso, a alta havia sido de 1,81% em janeiro, passando a 1,16% em 30 dias até 15 de fevereiro e desacelerando para 1,12% nas quatro semanas do mês passado. Para comparação, o custo da alimentação no domicílio havia contribuído com praticamente dois terços na composição do IPCA de janeiro (mais precisamente, quase 65,8%), reduzindo sua influência para 22,8% na quadrissemana encerrado no dia 15 do mês passado. No encerramento de fevereiro, a contribuição do grupo para a inflação geral recuou para 20,9%.
  • Apenas como referência, os preços da cenoura e da batata-inglesa, que haviam saltado respectivamente 36,21% e 22,58% entre 16 de janeiro e 15 de fevereiro, passaram a subir 9,13% e 6,79% no fechamento do mês passado, em forte desaceleração. Em igual período, os preços do feijão carioca e do arroz saíram de altas de 7,21% e de 5,85% para 5,07% e 3,69% na mesma ordem.
  • Na média, os preços da educação saíram de uma variação de apenas 0,33% em janeiro para 5,07% no índice capturado pelo IPCA-15 de fevereiro (medido entre 16 de janeiro e 15 do mês seguinte). O ritmo de alta recuou levemente para 4,98% nas quatro semanas de fevereiro, sugerindo que os preços no setor já teriam atingido seu pico, iniciando uma tendência de acomodação, passada a fase de renovação de matrículas escolares. A tendência daqui em diante, portanto, seria de pressões menores nesta área.
  • Os preços dos combustíveis haviam saltado, na média, 0,77% ao final da quadrissemana terminada em 15 de fevereiro, na sequência da redução de 0,39% que ainda persistiu até o final de janeiro. Nas duas semanas seguintes, os preços ganharam o impulso adicional, por conta dos aumentos dos impostos e fecharam o mês passado com variação de 2,93%. Absorvida a elevação causada pelos impostos, no entanto, os preços nesta área tendem a perder força igualmente.
  • O mercado financeiro esperava uma desaceleração até mais intensa, apostando num IPCA mais próximo de 0,79% no acompanhamento do Itaú BBA, enquanto o relatório Focus do BC registrava apostas em torno de 0,77% para o fechamento de fevereiro em sua edição de 8 de março, diante de previsões ao redor de 0,70% no início do mês passado. A equipe macroeconômica do Itaú, um pouco menos otimista, aguardava um índice de 0,80%, mais próximo do IPCA registrado pelo IBGE.
  • Na abertura dos dados do IPCA, o Itaú BBA observa um “qualitativo melhor do que o esperado, com surpresa baixista” para os preços industriais e de serviços “subjacentes” (que excluem segmentos mais voláteis). Na medição do IPCA-15 de fevereiro, os preços “industriais subjacentes” haviam variado 0,21% (diante de 0,39% em janeiro), recuando para uma taxa de 0,05% no encerramento nos 30 dias entre 30 de janeiro e 29 de fevereiro. Os “serviços subjacentes” haviam subido 0,76% em janeiro e 0,65% no IPCA-15 do mês seguinte, reduzindo a taxa de variação para 0,44% nas quatro semanas de fevereiro.