Indústria goiana volta a derrapar em março e encolhe 5,1% em dois meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 20 de maio de 2023

Definitivamente, não tem sido um começo de ano muito bom para a indústria goiana, que voltou a derrapar em março, recuando 1,4% em relação a fevereiro, quando já havia sofrido queda de 3,8% frente a janeiro. Comparada ao primeiro mês do ano, a produção goiana encolheu algo próximo de 5,1% e segue de certa forma na contramão do restante da indústria brasileira, que apresentou variação modestíssima, inferior a 0,9%, na mesma comparação, mas ainda em terreno positivo.

A produção industrial goiana, dessa forma, registrou em março o segundo mês consecutivo de retrocesso, com duas quedas mensais consecutivas também na comparação com igual período de 2022. Em fevereiro e março, portanto, a indústria sofreu perdas de 2,7% e de 5,3% diante dos mesmos meses do ano passado, tombos parcialmente compensados pela alta de 3,5% em janeiro, levando o setor a encerrar o primeiro trimestre em queda de 1,7%.

A deterioração do desempenho da indústria pode avaliada ainda na comparação com os níveis anteriores à pandemia. Em março do ano passado, o nível da produção havia sido 7,5% maior em relação a fevereiro de 2020. Essa diferença foi reduzida para apenas 0,3% em março deste ano. A comparação com o pico de produção, registrado em outubro de 2019, reforça essa conclusão. Em março de 2022, a produção havia sido 1,5% menor nessa comparação, com o déficit alargando-se para 8,2% no terceiro mês deste ano.

Continua após a publicidade

O dado agregado, quer dizer, que computa os resultados do setor industrial como um todo, não revela integralmente o que vem ocorrendo em setores relevantes da indústria goiana mais recentemente. Tomando março de 2022 como base, a produção despencou nada menos do que 70,5% na indústria de confecções e acessórios do vestiário – e já havia caído 13,1% e 16,1% em janeiro e fevereiro (sempre em relação aos mesmos meses de 2022). O setor fechou o primeiro trimestre com tombo de 35,0%. Quer dizer, mais de um terço da produção das confecções simplesmente evaporou-se no trimestre, o que certamente terá efeitos sobre o emprego em um dos segmentos da indústria mais intensivos em mão de obra.

De acordo com a pesquisa mensal da produção industrial, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a queda naquela área atingiu especialmente a produção de camisetas de malha e camisas masculinas, calças compridas masculinas e femininas, além de bermudas, shorts e jardineiras de uso feminino.

Ladeira abaixo

A maior influência para o resultado negativo de março, de toda forma, veio do setor de fabricação de produtos químicos, que inclui desde fábricas de materiais de limpeza e higiene pessoal até processadoras de adubos e fertilizantes, excluída a indústria farmoquímica (que, ao contrário, tem apresentado números muito mais favoráveis). A indústria do setor registrou perda de 9,7% em janeiro, caiu mais 13,8% em fevereiro e desabou 27,2% em março, fechando o trimestre com baixa de 16,7%. Na verdade, a produção de químicos tem sofrido baixas há 10 meses consecutivamente e terminou o período de 12 meses encerrado em março deste ano com retração de 16,9%.

Balanço

  • Principal “motor” do setor industrial goiano, a produção de bens alimentícios embicou para baixo a partir de fevereiro, caindo 5,7% naquele mês e sofrendo redução de 4,1% em março. Diante desses números, que mais do que anularam o avanço de 5,4% que havia sido anotado em janeiro, a indústria de alimentos passou a recuar 1,8% no acumulado do ano, igualmente em relação aos primeiros três meses do ano passado.
  • As perdas em março foram mais relevantes, na avaliação do IBGE, para os segmentos que processam carnes bovinas frescas e resfriadas, carnes de aves e miúdos também frescos ou resfriados, óleo de soja em bruto e arroz descascado. O resultado acumulado ao longo do primeiro trimestre recebeu ainda a contribuição negativa da fabricação de maionese, que também diminuiu. As perdas no trimestre foram parcialmente contrabalançadas pelos avanços verificados na produção de carnes e miúdos de aves congeladas e de leite condensado.
  • A indústria extrativa tem demonstrado comportamento errático durante dos três primeiros meses deste ano, deixando para trás um salto de 10,0% em janeiro para variar apenas 0,6% em fevereiro e despencar 9,5% em março, com redução para a produção de minério de cobre em suas formas bruta e processada e também para a fabricação de britas. O tombo de março produziu um recuo de 0,4% no resultado acumulado pelo setor no primeiro trimestre.
  • A montagem de veículos, reboques e carrocerias completou em março o nono mês de resultados negativos. Apenas neste ano, a indústria automobilística no Estado sofreu perdas de 19,1% em janeiro, de 14,6% em janeiro e de 23,3% em março, caindo 19,2% no acumulado do trimestre frente ao mesmo intervalo de 2022. O processo de encolhimento do setor tem sido determinado basicamente pela queda na montagem de automóveis.
  • A indústria de produtos farmoquímicos e farmacêuticos, ao contrário, engrenou o terceiro consecutivo de alta, depois de ter sofrido baixa de 13,2% em dezembro (o quinto resultado negativo em sete meses contados a partir de junho do ano passado). E a reversão veio na forma de três saltos em sequência: mais 23,7% em janeiro, alta de 28,0% em fevereiro e, já denotando alguma desaceleração, avanço de 12,4% em março. No trimestre, a produção cresceu 20,8%, sustentada pela maior fabricação de medicamentos.
  • Com perdas principalmente no segmento de biodiesel, a indústria de coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (no caso goiano, especificamente biocombustíveis) havia retrocedido 19,6% e 27%, em janeiro e fevereiro, pela ordem, mas reagiram levemente em março, avançando 1,9% com ajuda da fabricação de etanol. Mas, no trimestre, o setor acumula perda de 12,5%.
  • No lado positivo, além dos medicamentos, a metalurgia e a fabricação de produtos de metais experimentaram elevações de 33,7% e de 7,0% em março, com altas respectivamente de 24,6% e de 15,7% no primeiro trimestre. O setor de máquinas e equipamentos recuperou-se do tombo de 35,1% observado em janeiro, crescendo 27,6% e 21,2% nos dois meses seguintes. Mas chegou ao final do trimestre com variação acumulada de apenas 2,6%. A produção de bebidas avançou 6,5% em março e encerrou o trimestre com ganho de 3,3%.