Informalidade sustenta avanço do emprego em Goiás no 1º trimestre

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 19 de maio de 2023

O total de pessoas ocupadas em Goiás avançou de 3,656 milhões para 3,712 milhões entre o quarto trimestre de 2022 e o primeiro trimestre deste ano, indicando uma variação em torno de 1,5% e a contratação de aproximadamente 55,0 mil trabalhadores a mais. Pelos critérios definidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), a comparação sugeriria uma tendência de estabilidade na ocupação no curtíssimo prazo. Ainda assim, essa tendência foi em grande parcela sustentada pelo crescimento da informalidade e especialmente pelo salto no total de pessoas trabalhando por conta própria sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).

O número de informais voltou a crescer entre o trimestre final do ano passado e o primeiro trimestre deste ano, saindo de 1,341 milhão para 1,379 milhão, segundo dados da pesquisa, demonstrando um incremento de 2,8% com a entrada de mais 38,0 mil trabalhadores – o que representou 69,0% da variação no total de pessoas ocupadas no período. Descontados os informais, os demais ocupados saíram de 2,315 milhões para 2,333 milhões, variando apenas 0,8% (ou seja, somente 18,0 mil a mais). A taxa de informalidade elevou-se de 36,7% para 37,2% entre o final de 2022 e o começo deste ano.

No setor privado, a tendência foi inversa, com elevação de 2,3% no número de empregados com carteira assinada, saindo de 1,928 milhão para 1,972 milhão, ou seja, 44,0 mil a mais. O desempenho refletiu um recuo de 2,5% no número de empregados sem carteira, que baixou de 538,0 mil para 524,0 mil (13,0 mil a menos), e o crescimento de 4,1% no total com carteira assinada. Neste último caso, o contingente avançou de 1,390 milhão para 1,447 milhão (57,0 mil a mais).

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Contravapor

A tendência observada no setor privado sofreu o contravapor de outros setores, que não chegaram a apresentar números muito brilhantes. Houve, num exemplo, queda de 4,5% nos empregos do setor público, de 431,0 mil para 411,0 mil (19,0 mil a menos), e o fechamento de 17,0 mil ocupações envolvendo empregadores com CNPJ. O grupo terminou o primeiro trimestre com 157,0 mil pessoas como donas de negócios formais frente a 174,0 mil no quarto trimestre do ano passado, numa queda de 9,8%. O número de trabalhadores por conta própria com o devido registro no CNPJ praticamente não saiu do lugar, recuando de 239,0 mil para 235,0 mil (em baixa de 1,7%). Mas, como visto, o restante dos trabalhadores por conta própria, lançados à informalidade por conta da dificuldade de conseguir colocações formais, saltou 11,0% na comparação entre os dois trimestres analisados.

Balanço

  • O desemprego anotou modestíssima variação, com a taxa de desocupação saindo de 6,6% para 6,7%. O dado sugere certa estagnação no mercado ao longo do período, como se pode observar nos dados do emprego. O total de desocupados registrou variação de 2,6% ao passar de 260,0 mil para 267,0 mil, num acréscimo de 7,0 mil.
  • Ainda que bastante tímido, indicando virtual estabilidade, a variação foi resultado da entrada ou retorno de 62,0 mil trabalhadores ao mercado, já que o total de pessoas na força de trabalho saiu de 3,917 milhões para 3,979 milhões – refletindo um aumento de 26,0 mil pessoas na população com 14 anos ou mais e, portanto, em idade de trabalhar, assim como a volta de 38,0 mil trabalhadores que estavam fora do mercado e decidiram retomar a busca por emprego.
  • Nitidamente, o mercado não conseguiu criar vagas para todo esse contingente, o que explica o ligeiro incremento no total de desocupados.
  • Como tem sido recorrente, a variação no total de ocupados esteve ligado estreitamente ao comportamento do emprego no setor de serviços, incluindo na conta os segmentos do comércio, reparação de veículos e motos. Em conjunto, o total de ocupados naquelas áreas experimentou variação de 1,8% entre o quarto trimestre de 2020 e o primeiro deste ano, passando de 2,617 milhões para 2,663 milhões – perto de 46,0 mil a mais, correspondendo a 83,6% do total de vagas abertas no período.
  • Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, quando a taxa de desemprego rondava a faixa dos 8,9%, registrou-se um crescimento de 5,2% no número de ocupados, com criação de 184,0 mil vagas frente aos 3,528 milhões ocupados no ano passado. O total de desocupados experimentou redução de 22,2%, saindo de 343,0 mil para 267,0 mil (76,0 mil a menos).
  • Perto de 88,6% do crescimento no total de ocupados veio do setor de serviços, onde o emprego aumentou 6,5%, abrindo 163,0 mil vagas ao avançar de 2,500 milhões para 2,663 milhões.
  • Com o crescimento de 12,7% no rendimento médio real habitualmente recebido pelos trabalhadores entre o primeiro trimestre de 2022 e os mesmos três meses deste ano, saindo de R$ 2.572 para R$ 2.898, a massa total de rendimentos, em termos reais (descontada a inflação), cresceu de R$ 8,994 bilhões para R$ 10,674 bilhões, saltando 18,4% (ou R$ 1,680 bilhão a mais).
  • Num prazo mais longo, considerando o pior momento do emprego, registrado no segundo trimestre de 2020, quando o total de ocupados havia baixado para 3,055 milhões, o emprego aumentou 21,5% até o primeiro trimestre deste ano, com geração de 657,0 mil ocupações. Em torno de 40% desse crescimento deveu-se ao aumento de 23,2% no total de trabalhadores informais, que avançou de 1,119 milhão para 1,379 milhão.
  • Os resultados da PNADC fornecem um retrato fiel das desigualdades e da discriminação de raça e de gênero no País. A taxa de desemprego das mulheres, no primeiro trimestre deste ano, foi 50% mais alta do que a dos homens, atingindo 10,8% diante de 7,2% no segundo grupo. No mesmo trimestre, o desemprego entre os negros atingiu 11,3% frente a 6,8% entre os brancos, numa diferença de 66,2%.
  • Por idade, o desemprego continua castigando muito mais os jovens com 14 a 17 anos, já que um terço deles estava desempregada no primeiro trimestre deste ano (exatamente 33,1%) frente a 29,0% no trimestre anterior. Entre as pessoas com 18 a 24 anos, a taxa de desemprego avançou de 16,4% para 18,0%, elevando-se de 7,1% para 8,2% entre os trabalhadores com 25 a 39 anos. Entre as faixas etárias de 40 a 59 anos e de 60 anos ou mais, as taxas ficaram virtualmente estabilizadas em 5,6% e 3,9% respectivamente.