Inflação surpreende mercados e fecha outubro abaixo do esperado

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 11 de novembro de 2023

O manejo da política monetária, missão exclusiva do Banco Central (BC), tem como propósito, além de assegurar a higidez do sistema financeiro, a manutenção da estabilidade econômica, resumida aqui dentro exclusivamente no controle da variação dos preços em geral ou pelo menos das expectativas de inflação, mantendo-as dentro dos limites estabelecidos pela política de metas inflacionárias. Atingido esse objetivo, seria de se esperar que a autoridade monetária promovesse um afrouxamento da política de juros, trazendo as taxas anuais para níveis civilizados e suportáveis para empresas e famílias, o que favoreceria o barateamento do crédito em geral, injetando maior ânimo no consumo e também no investimento.

Mês a mês, os números da inflação apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) têm surpreendido os mercados, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desmentindo sucessivamente os prognósticos mais negativos do setor financeiro e suas consultorias. Até o início da semana, na mediana das projeções coletadas pelo BC por meio de seu relatório Focus, os mercados acreditavam que o IPCA de outubro tenderia a se aproximar de 0,28% – ou 0,29% na medição de outras instituições do setor.

Ontem, o IBGE divulgou o dado do IPCA de outubro, que registrou variação de 0,24%, levemente abaixo da taxa registrada nos 30 dias de setembro (0,26%), mas ligeiramente acima do IPCA-15 de outubro, que havia atingido 0,21% nas quatro semanas encerradas em 13 de outubro. Com um detalhe relevante: o salto de 23,70% nos preços das passagens aéreas foi responsável por quase dois terços da inflação do mês passado. Para as famílias que não tiveram gastos com passagens aéreas em outubro, a inflação foi mais comedida, atingindo 0,10% – o que se compara com uma variação de 0,05% nos 30 dias finalizados em 13 de outubro, sinalizando uma alteração modesta no índice. Esse comportamento de curtíssimo prazo não altera a tendência de “desinflação” em cena na economia neste momento.

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Parcimônia em excesso

Nitidamente, a redução dos juros básicos em apenas meio ponto percentual a cada reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) tem sido insuficiente para ajustar o custo do dinheiro ao novo cenário determinado pela queda das taxas de inflação. Nas projeções incluídas no Focus, os mercados esperam taxas de 0,30% e de 0,50% para o IPCA de novembro e dezembro, estimando uma inflação acumulada nos 12 meses deste ano próxima de 4,63%. O resultado já estaria abaixo do teto da meta inflacionária, que é de 4,75% para este ano. A estimativa, no entanto, considera um IPCA de 0,28% em outubro. Incluindo a taxa efetivamente registrada (0,24%) e as previsões do setor financeiro para os dois últimos meses deste ano, a inflação de 2023 pode estar mais próxima de 4,58%, considerando que o IPCA havia alcançado 0,41% e 0,62% respectivamente em novembro e dezembro de 2022.

Balanço

  • Ao analisar a abertura dos dados do IPCA de outubro, a equipe de macroeconomia do Itaú BBA destaca surpresas baixistas no custo médio da alimentação no domicílio, especialmente por conta da variação abaixo do esperado dos preços da carne bovina, e dos chamados preços de bens industriais “subjacentes”, que excluem itens mais voláteis e incluem principalmente produtos de higiene pessoal.
  • Considerando a média móvel trimestral, com dados dessazonalizados, o banco observa desaceleração de 3,5% para 3,3% na média dos preços dos serviços subjacentes (que excluem comunicação, cursos regulares e passagens aéreas), a taxas anualizadas (mais simplesmente, na variação acumulada em 12 meses até o mês final do trimestre considerado, no caso, os trimestres encerrados em setembro e outubro, respectivamente).
  • Da mesma forma, o núcleo da inflação de bens industriais “subjacentes”, medida que exclui preços com maiores altas ou com quedas excessivas, saiu de uma elevação de 1,8% para apenas 0,3% seguindo aqueles mesmos critérios. Na mesma linha, prossegue o Itaú BBA, na média dos núcleos inflacionários, os índices saíram de 3,8% para 3,3%, equiparando-se aos níveis observados em 2017 e 2019 (quando o IPCA havia registrado, pela ordem, 2,95% e 4,31%).
  • Com exclusão ainda de preços industriais e de serviços muito voláteis e que não respondem necessariamente ao ritmo da atividade na economia, concentrados no tal IPCA-EX3, a inflação manteve-se muito bem-comportada em 0,15% no mês passado, saindo de 0,12% em setembro e de 0,09% nas quatro semanas terminadas em 13 de outubro passado. Na média trimestral anualizada e dessazonalizada, o IPCA-EX3 “desacelerou para 2,1%, saindo de 3,1% em setembro e de 6,0% em junho desse ano”. Por fim, ao resumir sua visão da inflação de outubro, o banco reforça que o dado “veio abaixo da projeção e com composição mais uma vez benigna”.
  • O IPCA em Goiânia, por sua vez, apresentou variação mais vigorosa do que a média do País, com o índice avançando de -0,11% em setembro para 0,63% na quadrissemana terminada em 13 de outubro, elevando-se na sequência para 0,80%. A alta foi determinada pela retomada dos preços dos alimentos, que chegaram a recuar 0,01% nas duas primeiras semanas de outubro, mas terminaram o mês com elevação de 0,92%; pelo salto de 5,28% nas tarifas da energia elétrica residencial (que havia baixado 0,03% nos 30 dias encerrados em 13 de outubro); e pela escalada nos custos das passagens aéreas, num salto de 30,33%. 
  • Aqueles três itens em conjunto responderam por 58,5% do IPCA de outubro na capital do Estado. Os demais preços apresentaram variação de 0,33% diante de 0,54% no dado do IPCA-15 de outubro, o que sinaliza que o processo inflacionário igualmente manteve-se sob controle, já que as variações mais intensas verificadas naquelas três áreas não contaminaram os demais setores da economia.