Informalidade volta a avançar e puxa alta do emprego em Goiás

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 16 de agosto de 2023

Assim como registrado em todo o País, a informalidade voltou a avançar também em Goiás no segundo trimestre deste ano, na comparação com o trimestre imediatamente anterior, puxando a ocupação em geral. Ao mesmo tempo, quando desconsiderados os trabalhadores sem carteira no setor público, categoria não incluída pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nas estimativas sobre os informais, o restante dos ocupados virtualmente não anotou qualquer variação – um contingente que poderia ser descrito como “ formais”, não sem alguma dose de condescendência estatística, já que o conceito de informalidade adotado pelo IBGE não tem unanimidade entre especialistas.

A conta corresponde reconhecidamente a uma aproximação realizada pelo instituto, somando empregados no setor privado sem carteira, trabalhadores domésticos igualmente sem registro formal, aqueles que trabalham no auxílio a suas famílias, além de empregadores e trabalhadores por conta própria sem registro no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Para alguns analistas, a categoria “por conta própria”, independente de vínculo com o CNPJ, deveria ser considerada integralmente como informais.

Discussões teóricas à parte, o fato é que a população total ocupada em Goiás avançou de 3,712 milhões no primeiro trimestre deste ano para 3,763 milhões no trimestre seguinte, correspondendo à abertura de 52,0 mil vagas e a uma variação de 1,4% no período, na mediação feita pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). Na série histórica, iniciada em 2012, foi a segunda maior marca registrada pela ocupação no Estado, ligeiramente inferior aos 3,770 milhões de trabalhadores ocupados no terceiro trimestre de 2022, que permanece como o número mais elevado desde que a pesquisa começou a ser realizada no formato atual.

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Desemprego

O comportamento do emprego ajudou a reduzir o número de desocupados em 7,5%, saindo de 267,0 mil para 247,0 mil trabalhadores (20,0 mil a menos) entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano. O total de desempregados foi o mais baixo desde o primeiro trimestre de 2015, quando a pesquisa havia registrado 241,0 mil desocupados. A taxa de desemprego recuou de 6,7% para 6,2%, flutuação considerada irrelevante pelo IBGE e classificada pelo instituto como “estável”. De toda forma, o índice havia sido menor no terceiro trimestre do ano passado, quando havia alcançado 6,1%. O indicador mais baixo havia sido registrado no quarto trimestre de 2013, quando a taxa de desocupação ficou limitada a 3,9%, porque 132,0 mil pessoas não haviam conseguido alguma colocação.

Balanço

  • A taxa de desemprego havia alcançado seu recorde no Estado no primeiro trimestre de 2020, aproximando-se de 11,5% e atingindo 434,0 mil trabalhadores. Desde lá, portanto, o número de desempregos foi reduzido em 43,1%, já que 137,0 mil trabalhadores recuperaram seus empregos. Na comparação entre o trimestre final de 2013 e o segundo deste ano, a taxa de desocupação ainda demonstra elevação de quase 59% e o número de desempregados encontra-se 87,1% mais elevado.
  • O número de informais, na contabilidade adotada pelo IBGE, avançou de 1,379 milhão no primeiro trimestre do ano, algo como 37,2% do total de ocupados, para 1,406 milhão, variando praticamente 2,0% e passando a acumular 37,4% do total de pessoas que exerciam algum tipo de ocupação no segundo trimestre. A categoria recebeu mais 27,0 mil pessoas que estavam sem ocupação até ali (ou que migraram do mercado formal para o informal, hipótese que a pesquisa não permite aferir). Esse novo contingente de informais correspondeu a praticamente 52,0% de todas as ocupações criadas entre os dois trimestres. Mas os dados da PNADC abrem espaço para algumas ponderações.
  • Descontados os trabalhadores informais, o total restante de ocupados teria avançado de 2,333 milhões para 2,357 milhões, ou seja, em torno de 24,0 mil a mais, indicando variação de 1,0%. Dessa forma, os empregos “formais” teriam respondido por 46,2% do avanço experimentado pelo total de ocupados. Mas aquele número inclui os empregados no setor público sem carteira, que registraram crescimento expressivo no segundo trimestre.
  • A PNADC registrava, ao final do trimestre passado, em torno de 135,0 mil trabalhadores sem carteira no setor público, frente a 106,0 mil no primeiro trimestre, num salto de 27,3%. Os “sem carteira” passaram a representar 30,8% do total de empregados no setor público, o que se compara com 25,8% no primeiro trimestre. Feitas as contas, o aumento de 29,0 mil pessoas no total de trabalhadores sem carteira no setor púbico superou o crescimento do número de empregos “formais” e respondeu, sozinho, por 55,8% do aumento registrado pelo total de ocupados na mesma comparação.
  • Sem eles, ainda, a categoria que se convencionou qualificar aqui como “ formais” teria perdido 5,0 mil trabalhadores, saindo de 2,227 milhões para 2,222 milhões. Na prática, não teria se movido entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano.
  • Mas há outro dado que pode trazer preocupações adicionais, caso a tendência se mantenha mais à frente. O número de empregados no setor privado sem carteira assinada cresceu 8,6% desde o primeiro trimestre, avançando de 524,0 mil para 569,0 mil, o mais elevado da série histórica, em termos absolutos. Foram 45,0 mil empregados a mais contratados sem registro formal, o que correspondeu a 86,5% do total de vagas abertas em toda a economia estadual na passagem do primeiro para o segundo trimestre.
  • A menor variação da informalidade como um todo está relacionada, assim, a uma redução no total de trabalhadores por conta própria sem CNPJ, que sofreu baixa de 6,2% no período analisado, caindo de 613,0 mil para 575,0 mil, com perda de 38,0 mil ocupações.
  • O rendimento real médio dos trabalhadores goianos variou 0,9% e alcançou R$ 2.969 no dado mais elevado da série histórica. O mesmo ocorreu com a massa de rendimentos reais, que apresentou variação de 2,2% em relação ao primeiro trimestre, somando R$ 11,075 bilhões.