Investimento estrangeiro reage e acumula alta de 28% em três meses

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 09 de março de 2024

Depois de recuar entre fevereiro e outubro do ano passado, em comparação com os mesmos meses de 2022, o investimento estrangeiro direto passou a reagir a partir de novembro e acumulou, no trimestre encerrado em janeiro deste ano, um aumento de 27,94% frente ao mesmo período finalizado em janeiro de 2023. Com destaque para o investimento em participação no capital, envolvendo a injeção de recursos em dólares em filiais, subsidiárias, empresas brasileiras associadas ou na compra de empresas que já operavam aqui dentro. O resultado, bem mais favorável do que no período anterior, considerando a série estatística divulgada mensalmente pelo Banco Central (BC), e sugere uma aparente mudança de tendência nesta área – a ser confirmada (ou refutada) pelo desempenho do investimento estrangeiro nos próximos meses.

No intervalo entre novembro de 2022 e janeiro de 2023, grupos estrangeiros investiram aqui dentro em torno de US$ 12,597 bilhões, avançando para US$ 16,117 bilhões no trimestre encerrado em janeiro deste ano, num acréscimo de US$ 3,520 bilhões. Apenas em janeiro deste ano, quando o investimento estrangeiro direto alcançou US$ 8,741 bilhões, o crescimento chegou a 33,82% frente a US$ 6,532 bilhões no mês inicial de 2023. Mais claramente, dois terços do avanço registrado no trimestre analisado ficaram concentrados em janeiro.

Para comparação, reforçando a hipótese de uma mudança de tendência no período mais recente, o investimento direto no País havia perdido um terço de seu valor no acumulado entre fevereiro e outubro do ano passado em relação aos mesmos nove meses de 2022, despencando de US$ 64,503 bilhões para US$ 43,385 bilhões – uma perda de US$ 21,118 bilhões. Como mostram os números, ainda resta um caminho longo até a retomada do investimento ao mesmo ritmo registrado antes de março do ano passado.

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Em janeiro deste ano, o investimento direto foi puxado pelo investimento em participação no capital, que saltou 66,56% em relação ao mesmo mês de 2023, subindo de US$ 4,004 bilhões para US$ 6,669 bilhões, num ganho de US$ 2,665 bilhões. O investimento entre companhias somou US$ 2,072 bilhões, num tombo de 18,02% em relação a US$ 2,527 bilhões em janeiro de 2023, num recuo equivalente a US$ 455,349 milhões.

Sinais inversos

A tendência de baixa neste último setor persiste ao longo do trimestre analisado aqui. As estatísticas do BC mostram que o investimento entre companhias de um mesmo grupo havia atingido US$ 4,832 bilhões entre novembro de 2022 e janeiro do ano seguinte, despencando para US$ 1,713 bilhão no trimestre encerrado em janeiro deste ano, o que correspondeu a uma retração de 64,55%. A maior contribuição para a queda veio do investimento entre empresas irmãs, que havia se aproximado de US$ 2,559 bilhões no trimestre concluído em janeiro do ano passado. A conta ficou negativa em US$ 77,424 milhões até janeiro deste ano, significando que as empresas aqui dentro remeteram a suas “irmãs” lá fora mais dólares do que receberam a título de investimento. Numa sinalização diametralmente inversa, considerando os mesmos períodos, o investimento em participação saltou 85,52%, avançando de US$ 7,764 bilhões para US$ 14,404 bilhões (ou seja, US$ 6,640 bilhões a mais). 

Balanço

  • As contratações de novos créditos por empresas e pessoas físicas voltou a experimentar crescimento tanto no segmento de livre contratação quanto no ambiente do crédito direcionado, a juros proporcionalmente muito mais baixos. Sempre tomando os trimestres finalizados em janeiro do ano passado e no mesmo mês deste ano, os dados dessazonalizados divulgados pelo BC mostram que as concessões de crédito no total subiram de R$ 1,503 trilhão para pouco menos de R$ 1,667 trilhão, numa variação de 10,86% (R$ 163,30 bilhões a mais).
  • No segmento de juros livremente impostos pelos bancos, as concessões passaram de R$ 1,347 trilhão para R$ 1,496 trilhão, variando 11,04% (ou seja, R$ 148,7 bilhões a mais). As concessões no mercado de juros regulados apresentaram crescimento menos vigoroso, saindo de R$ 169,3 bilhões para 184,5 bilhões, o que correspondeu a uma variação de 8,98% (R$ 15,2 bilhões a mais). As concessões no mercado regulado passaram de 11,26% das concessões totais para 11,07%.
  • As taxas de juros médias no segmento livre do mercado de crédito recuaram três pontos percentuais entre janeiro do ano passado e o mesmo mês deste ano, saindo de 43,3% para 40,3% ao ano. Mas os spreads nesta área, quer dizer, a diferença entre os juros pagos pelos bancos aos rentistas e as taxas cobradas nos empréstimos e financiamentos, recuou bem menos, num corte de 0,6 pontos percentuais. A margem adicionada aos juros da captação pelos bancos recuou de 30,4% para 29,8% também no ambiente de livre contratação.
  • De certa forma, os bancos conseguiram ampliar sua margem bruta de ganho, mesmo em um momento de queda relativa nos juros. A título de mera comparação, o spread médio havia correspondido a 70,2% dos juros médios cobrados pelos bancos dos tomadores de crédito em janeiro do ano passado, elevando-se para quase 74,0% em janeiro deste ano.
  • O saldo total do crédito no sistema financeiro por atividade econômica apresentou variação de apenas 3,62% entre janeiro do ano passado e o mesmo mês deste ano, saindo de R$ 2,090 trilhões para R$ 2,166 trilhões. Os setores de construção, petróleo, gás e álcool e administração pública responderam por 67,5% do avanço observado. Em contrapartida, o estoque de crédito no setor de bens de capital, acompanhando a queda geral no investimento, sofreu baixa de 2,6% no mesmo intervalo, caindo de R$ 43,341 bilhões para R$ 42,217 bilhões, numa perda de R$ 1,124 bilhão. Foi o valor mais baixo desde setembro de 2021 e representou ainda uma queda de 10,8% em relação ao saldo de R$ 47,313 bilhões anotado em setembro de 2022, caindo R$ 5,096 bilhões.