Investimento externo reage, puxado por negócios entre empresas e filiais

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 27 de junho de 2023

O investimento estrangeiro no Brasil registrou salto de 35,55% na comparação entre maio do ano passado e igual mês deste ano ao subir de US$ 3,969 bilhões para US$ 5,380 bilhões, correspondendo a entrada de mais US$ 1,411 bilhão entre um período e outro. O resultado, que deve ser analisado com certa cautela, ainda não foi suficiente para reverter o desempenho ainda negativo quando se tomam os dados do investimento externo nos primeiros cinco meses deste ano, persistindo uma redução de 21,50% em relação aos mesmos meses do ano passado. Ao longo do ano, a conta recuou de US$ 37,826 bilhões para US$ 29,693 bilhões, numa perda de US$ 8,133 bilhões.

Mesmo em baixa, o investimento externo superou o déficit na conta de transações correntes em 2,35 vezes nos primeiros cinco meses do ano, deixando o País em situação bastante confortável no front externo. O avanço do investimento estrangeiro, no entanto, foi motivado unicamente pelas operações entre companhias de um mesmo grupo, envolvendo matrizes e filiais e as chamadas empresas irmãs, ou subsidiárias controladas por um mesmo grupo.

O investimento em participação no capital, que pode resultar em expansão de empresas e sua capacidade de produção (mas também pode significar apenas a troca de controle, com venda de empresas instaladas no País), registrou baixa de 14,21% em maio, caindo de US$ 5,761 bilhões no mesmo mês de 2022 para US$ 4,942 bilhões. Entre janeiro e maio, esse tipo de investimento acumulou queda de 26,60% frente ao mesmo período de 2022, saindo de US$ 35,062 bilhões para US$ 25,737 bilhões.

Continua após a publicidade

Reviravolta

A conta do investimento realizado entre companhias, que envolve operações entre filiais lá fora e suas matrizes aqui dentro, assim como entre matrizes lá fora e suas filiais brasileiras e subsidiárias de um mesmo grupo, havia sido negativa em US$ 1,791 bilhão em maio de 2022, o que significa dizer que as remessas de dólares de filiais e subsidiárias em operação no Brasil para seus controladores lá fora foram maiores do que os valores investidos aqui dentro. O sinal inverteu-se em maio deste ano, com a entrada líquida de investimentos de US$ 437,802 milhões. O valor é baixo, mas correspondeu a uma reviravolta de US$ 2,291 bilhões entre aqueles dois meses.

Balanço

  • No acumulado entre janeiro e maio, o investimento entre companhias experimentou salto de 43,07% entre 2022 e 2023, com a entrada líquida de dólares nessa modalidade avançando de US$ 2,765 bilhões para US$ 3,956 bilhões. Esse incremento deveu-se principalmente aos investimentos realizados entre empresas irmãs, que registrou um salto de 65,35%, disparando de quase US$ 3,923 bilhões para aproximadamente US$ 6,486 bilhões nos cinco meses iniciais deste ano, numa variação equivalente a algo muito próximo a US$ 2,564 bilhões.
  • Com a elevação vigorosa do saldo na balança comercial de bens, que mostra a diferença entre exportações e importações, o déficit na conta de transações correntes tem murchado neste ano. Essa conta resume todas as relações comerciais e financeiras do Brasil com o restante do mundo, incluindo exportações e importações de bens, pagamento de juros e amortizações sobre a dívida externa, remessas de lucros e dividendos, despesas com fretes, viagens, aluguel de equipamentos, serviços financeiros, de engenharia, arquitetura e outros.
  • Na verdade, em maio, o saldo em transações correntes voltou a ser positivo, com entrada líquida de US$ 648,878 milhões, o que se compara com o déficit de US$ 4,632 bilhões no mesmo mês do ano passado. Em maio deste ano, o resultado foi superavitário, com saldo positivo de US$ 96,462 milhões. Num período mais recente, as estatísticas do Banco Central (BC) registram superávits em abril e junho do ano passado (respectivamente, US$ 99,636 milhões e US$ 265,930 milhões) e em março deste ano (US$ 96,462 milhões).
  • Os números positivos da balança comercial, considerando exportações e importações de bens e mercadorias, como já anotado, têm contribuído para compensar os déficits nas contas de serviços e na chamada renda primária (que inclui gastos com juros e remessas de lucros e dividendos). As exportações avançaram modestamente, variando 4,69% na comparação entre o acumulado dos primeiros cinco meses deste ano e idêntico intervalo de 2022, saindo de US$ 132,614 bilhões para US$ 138,840 bilhões.
  • Ao mesmo tempo, as importações baixaram praticamente na mesma proporção (-4,23%), recuando de US$ 114,127 bilhões para US$ 109,304 bilhões. Esse comportamento ajudou a produzir um saldo comercial quase 60,0% mais elevado, próximo a US$ 29,536 bilhões entre janeiro e maio deste ano, diante de US$ 18,847 bilhões em igual período do ano passado.
  • A conta de serviços, ainda nos primeiros cinco meses de cada período, teve seu déficit reduzido de US$ 15,303 bilhões para US$ 13,447 bilhões, numa redução de 12,13%. Em larga medida, a queda foi determinada pela retração de 26,7% nas despesas líquidas com transportes, que foram reduzidas de US$ 7,885 bilhões para US$ 5,562 bilhões. O tombo refletiu, por sua vez, a normalização em curso no mercado internacional, diante do reestabelecimento das cadeias de logística. Os gastos com fretes, por exemplo, baixaram 34,1% no período analisado, caindo de US$ 6,405 bilhões entre janeiro e maio de 2022 para US$ 4,222 bilhões nos mesmos cinco meses deste ano, numa “economia” de US$ 2,183 bilhões.