Coluna

Investimentos em infraestrutura tendem a reduzir velocidade de crescimento em 2019

Publicado por: Sheyla Sousa | Postado em: 10 de setembro de 2019

O
investimento em infraestrutura no País, somando aportes dos setores público e
privado, tende a apresentar desaceleração neste ano, comparado a 2018,
mantendo-se ainda distante dos níveis considerados ideais para prover a
recuperação do setor, compensar a depreciação do capital fixo já investido no
passado e preservar a qualidade dos serviços nesta área,
aponta a mais recente edição da Carta de Infraestrutura, divulgada ontem pelo
Inter.B Consultoria Internacional de Negócios. Os gargalos logísticos
enfrentados por todo o País, com impactos já conhecidos sobre a estrutura de
custos das empresas, e o “envelhecimento” de obras e estruturas construídas ao
longo de décadas contribuem para sufocar as possibilidades de crescimento da
economia, além de tornar os produtos brasileiros mais caros, gerar custos
crescentes para o sistema público de saúde como resultado do baixo investimento
em saneamento e do número elevado de acidentes causados pelas más condições de
estradas e vias públicas.

Na
estimativa da consultoria, o investimento total em infraestrutura, que havia
experimentado crescimento nominal de 12,5% no ano passado, saindo de R$ 110,43
bilhões em 2017 para R$ 124,21 bilhões, deve avançar para R$ 133,40 bilhões até
o final deste ano, correspondendo a uma variação ao redor de 7,4% (igualmente
em valores nominais, quer dizer, não atualizados com base na inflação). Parece
um forte incremento em dois anos, com alta acumulada de 20,8% desde 2017. Mas,
como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e considerando a série histórica
mais recente, o investimento continua muito abaixo do mínimo necessário para
promover a retomada do setor e recuperar a qualidade de estradas, ferrovias,
portos e aeroportos, sistemas elétricos, das telecomunicações, do saneamento
básico e do transporte urbano.

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Só metade

Na
média entre 2001 e 2017, o País destinou 2,12% do PIB para investir em
infraestrutura, chegando a aplicar 2,31% em 2013 e 2014. Essa proporção desabou
para 1,69% em 2017 e avançou para 1,82% no ano passado, devendo alcançar algo
em torno de 1,87% neste ano. De acordo com a consultoria, “estima-se que
haveria necessidade de se investir 4,15% do PIB por aproximadamente duas
décadas para modernizar a infraestrutura do país. Isto significaria atingir um
estoque de capital ‘público’ (isto é, capital investido em infraestrutura pelo
setor público e privado) de 60,4% do PIB, em contraposição a 36,2% ao final de
2018”. Mais claramente, se confirmado o nível esperado para este ano, o País
continuará investindo no setor pouco mais da metade dos recursos necessários.

Balanço

·  
Uma
parcela relevante do retrocesso observado ao longo de décadas veio do setor
público, já que o investimento dos governos tem sido a “vítima” preferencial
das políticas de “(des)ajuste” fiscal.

·  
Segundo
a Instituição Fiscal Independente (IFI), organismo de acompanhamento da
política fiscal do Senado, a tendência de achatamento do investimento público,
na área federal, deverá ser ampliada em 2019.

·  
O
projeto de lei que fixa o orçamento da União para 2020 reservou apenas R$ 19,4
bilhões para os investimentos federais no próximo ano, valor 80% inferior ao
previsto pelo projeto da lei orçamentária de 2013, equiparando-se aos números
de 2004, a valores corrigidos até agosto deste ano

·  
A
participação do setor público no investimento em infraestrutura foi reduzida de
55,5% no início da década para 36,7% em 2017 e tende a recuar para apenas 34,9%
neste ano, o mais baixo pelo menos desde 2010.

·  
Como
porcentagem do PIB, a queda supera 48%, já que a fatia do setor público desabou
de 1,26% para apenas 0,65% também entre 2010 e 2019.

·  
Diante
do desmonte do investimento público nesta área, a participação privada, que
havia sido de 44,5% em 2010, tende a atingir 65,2% neste ano, saindo de 62,6%
em 2018.

·  
A
despeito da melhora relativa, o investimento privado como proporção do PIB tem
experimentado altas e baixas desde o começo da década, saindo de 1,01% em 2010
para 1,29% em 2014, recuando até 1,07% em 2016 e 2017, nos anos mais bravos da
crise, e avançando, na sequência, para 1,14% em 2018. A estimativa para 2019
sugere uma participação de 1,22%.

Esse avanço tem se concentrado, mais
recentemente, nos setores de energia elétrica, telecomunicações e aeroportos
(neste caso, sob influência dos leilões de concessões realizados em 2018). Na
área de energia, a participação privada avançou de 75,16% para 77,41% entre
2017 e o ano passado, saindo de 99,13% para 99,24% na área de telecomunicações
e saltando de 38,06% para 77,08%.