Juros altos ampliam riscos de agravar perdas para as famílias

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 25 de junho de 2022

A inflação medida entre 14 de maio e 13 de junho pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), manteve-se “alta e disseminada” entre os vários itens pesquisados, na leitura da equipe de macroeconomia do Itaú BBA. Uma parcela nada desprezível das pressões altistas, agora na leitura desta coluna, veio de serviços sobre os quais a política de juros altos do Banco Central (BC) tem efeito nulo. Dito de outra forma, por mais que os juros fiquem mais altos, os preços daqueles serviços não seriam afetados e continuariam a subir.

A boa notícia é que essas pressões não são permanentes e tendem a refluir nas próximas semanas, o que sugere excessos na política monetária, ampliando a ameaça de um desaquecimento mais intenso e desnecessário da atividade econômica, significando mais desemprego e perda de renda para as famílias de trabalhadores. Vale dizer, a política de juros altos embute muito mais riscos do que qualquer benefício eventual, ainda mais quando considerado seu impacto sobre as despesas totais do setor público e sua dívida.

O IPCA-15 de junho chegou a 0,69% saindo de uma taxa de 0,47% nos 30 dias de maio, superando mesmo o índice de 0,59% anotado nas quatro semanas encerradas em 15 de maio passado. Desta vez, a taxa veio alinhada com as expectativas do mercado financeiro, que vinha trabalhando com uma previsão de 0,68% para o IPCA-15 deste mês. O aumento médio de 4,29% nas tarifas de água e esgoto, concentradas em Belém (11,41%), São Paulo (10,99%) e Curitiba (4,51%), e a elevação de 2,99% nos planos privados de saúde responderam por quase um quarto da inflação geral, numa contribuição de 0,17 pontos porcentuais (24,6% do IPCA-15).

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Pressões de alta

As pressões naquelas áreas tendem a se alongar por mais algumas semanas, já que as tarifas de água e esgoto foram reajustadas em 20,81% na capital do Pará a partir de 28 de maio e em 12,89% em São Paulo, em vigor desde 10 de maio. Em Curitiba, o aumento autorizado havia sido de 4,99% a partir de 17 de maio, o que significa dizer que o índice já absorveu praticamente 90% do reajuste decretado. Os planos de saúde também continuarão exercendo alguma pressão de alta pelas próximas semanas, considerando-se o aumento de nada menos do que 15,5% autorizado pela Agência Nacional de Saúde Complementar (ANS) em 26 de maio.

Balanço

  • Entre os grandes grupos de despesas que compõem o IPCA-15, as principais fontes de aumento da carestia estiveram concentradas, nas quatro semanas finalizadas em 13 de junho, nos setores de habitação, artigos de residência e saúde e cuidados pessoais. Pela ordem, os preços médios em cada um daqueles setores experimentaram aumentos de 0,66% (diante de queda de 1,70% em maio), de 0,94% (saindo de 0,66% nos 30 dias de maio) e de 1,27% (frente a 1,01% também em maio).
  • Dentro de cada um daqueles grupos, as contribuições mais relevantes vieram de classes de despesas específicas. No caso da habitação, o aumento das tarifas de água e esgoto correspondeu a uma contribuição de 0,07 pontos para o IPCA-15, representando perto de 10,2% do índice geral. Os planos de saúde, enquadrados no grupo saúde e cuidados pessoais, somaram mais 0,10 pontos à inflação geral, contribuindo com quase 14,8% para a formação do índice. O segmento de mobiliário, dentro de artigos residenciais, subiram 1,92% e acrescentaram algo como 0,03 pontos ao IPCA-15 (em torno de 5,0% do índice geral).
  • Na soma daqueles três itens – água e esgoto, planos de saúde e móveis –, a contribuição atingiu 0,17 pontos, qualquer coisa próxima a 29,9% do IPCA-15. Se acrescidos os itens veículo próprio, passagens áreas (extremamente voláteis) e aluguel residencial, a contribuição eleva-se para praticamente 0,46 pontos, representando dois terços do IPCA-15.
  • O chamado índice de difusão, que afere o número de itens e produtos em alta no período avaliado, recuou de 74,9% em maio para 68,9% em junho, sempre considerando períodos quadrissemanais concluídos na segunda semana de cada mês. O dado mostra, mais do que a disseminação dos aumentos de preços entre os itens pesquisados pelo IBGE, mais relevante parece ser o nível desses aumentos, combinado com o peso de cada produto na formação do índice inflacionário.
  • Afinal, a redução no índice de difusão veio acompanhada por nova elevação no nível geral de preços, refletido numa variação maior do IPCA-15 deste mês na comparação com o indicador de maio. Isso parece indicar que produtos e serviços com maior peso passaram a anotar aumentos mais expressivos. De toda forma, o índice de difusão continua elevado, ainda muito próximo dos 70%.
  • As projeções ainda preliminares do Itaú BBA colocam o IPCA “cheio” de junho (ou seja, nos 30 dias do mês) na faixa de 0,76%, acima do índice de 0,47% de maio e ligeiramente mais elevado do que o IPCA-15 de junho. A despeito das incertezas elevadas nas projeções de curto prazo, sublinha o banco, seus economistas antecipam variações de apenas 0,18% em julho e de 0,43% em agosto.
  • A inflação de julho já leva em conta a redução a zero das alíquotas do PIS e das contribuições para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina e o etanol. Mas não incorporam a retirada das tarifas sobre transmissão e distribuição de energia da base de cálculo do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), a ser confirmada nos próximos dias. Neste caso, o Itaú BBA arrisca estimar impacto negativo de 0,35 pontos sobre o IPCA de julho, o que traria a taxa daquele mês para 0,17% negativos. A conferir.