Lado mais moderno do agronegócio acelera investimentos em inovação

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 16 de dezembro de 2023

A parcela mais moderna do agronegócio segue em busca de caminhos para alavancar sua produtividade, recorrendo a startups e investindo em inovações. A Symbiomics, startup de biotecnologia dedicada ao desenvolvimento de produtos biológicos de nova geração, fechou no primeiro semestre deste ano acordo com a Stoller, controlada pela Corteva, para acelerar o desenvolvimento de tecnologias em microbiomas. A multinacional poderá utilizar o pipeline da Symbionics, detalha Rafael de Souza, diretor executivo e um dos cofundadores da empresa, posicionando seus produtos no mercado global. “Nosso foco está nas culturas de milho, soja, cana e algodão e a proposta é licenciar a nossa produção para grandes empresas do setor”, sustenta ele.

O investimento da Vesper Ventures, ainda na fase inicial da startup, fundada em 2021, abriu as portas para que novos investidores, a exemplo da MOV Investimentos, Baraúna Investimentos e Ecoa Capital, também aportassem recursos no negócio, somando no total superior a R$ 10,0 milhões que permitiram à Symbiomics montar seu laboratório e ampliar sua equipe de pesquisadores, atualmente composta por 12 doutores e mestres. A startup trabalha no desenvolvimento de quatro famílias de bioprodutos, incluindo bioestimulantes, que aumentam a tolerância da planta ao estresse climático; tecnologia de biocontrole, que protege a planta contra patógenos; uma nova linhagem de microrganismos que reduzem emissões ou ajudam a sequestrar carbono; e microrganismos desenvolvidos por meio de engenharia genômica para fornecer fósforo e nitrogênio para as plantações. “Criamos ferramentas que tornam nosso pipeline mais barato, combinando sequenciamento genômico, machine learning e edição genômica”, detalha Souza. Os primeiros produtos devem chegar ao mercado na safra de 2025/26.

Modelos

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Desenhado inicialmente para a construção de modelos macroeconômicos, o logaritmo desenvolvido pelo time de inovação da 4Intelligence, formada por 16 PHDs, passou a incluir o agronegócio em seu portfólio desde o final de 2020. A ferramenta automatiza o processo de construção de modelos para a tomada de decisão de empresas e produtores, rodando em nuvem mais de 50 mil especificações para indicar o modelo de maior acurácia, melhor desempenho e maior poder preditivo. “A inovação está em nosso algoritmo, que faz a leitura diária de imagens de satélite, cruzando com dados sobre condições climáticas e uma série de outros indicadores que interferem na lavoura, antevendo a produtividade com grande acurácia”, descreve Juan Jensen, sócio um dos cincos criadores da startup.

Balanço

  • O sistema, que inclui ferramentas de inteligência artificial e aprendizado de máquina, entre outras linguagens e rotinas, permite que o produtor acompanhe todo o processo desde o plantio à colheita, incluindo o monitoramento de riscos, o que permite antecipar a solução de problemas que “dificilmente conseguiria resolver por outros caminhos”, sugere Jensen.
  • O crescimento populacional projetado até 2050 em todo o mundo, avalia Eduardo Noronha, diretor da unidade de negócios de valor agregado da JBS USA, corresponderá a um incremento da ordem de 70% no consumo de proteínas e os formatos tradicionais de produção muito provavelmente não conseguirão atender a toda essa demanda. Essa perspectiva levou a multinacional brasileira a investir no que Noronha classifica como “formas alternativas de produzir proteína”, a exemplo da carne cultivada, para complementar a oferta projetada e “fazer frente a essa demanda que virá”.
  • Um dos responsáveis pela estratégia de proteína cultivada da JBS, Noronha antecipa que, concluídos os estudos e iniciada a produção, “a proteína bovina cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres e empanados”. Num passo seguinte, a tecnologia será aplicada também para a produção de carnes cultivadas de frango, suínos e de pescado. Controlada pela JBS, a espanhola Biotech Foods deverá investir em torno de US$ 40,0 milhões em uma planta piloto instalada na cidade de San Sebastián, na região do País Basco. Iniciada em setembro de 2022, a planta, com capacidade para mil toneladas de proteína cultivada, deverá entrar em operação no meio do próximo ano, conforme o executivo. 
  • No Brasil, mais precisamente no parque de inovação do grupo, o Sapiens Parque, em Florianópolis, serão investidos em torno de US$ 60,0 milhões para colocar de pé o JBS Biotech Innovation Center, primeiro centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação em proteína cultivada no país. Em execução, as duas primeiras fases do projeto, incluindo a implantação de laboratórios e da planta piloto, deverão ser concluídas até o final de 2024. A terceira etapa prevê a construção de um módulo em escala industrial, destinado a demonstrar a viabilidade técnica e econômica da proteína cultivada, ainda em fase de planejamento.