Mais uma safra de desafios para o setor sucroenergético

Publicado por: Lauro Veiga Filho | Postado em: 23 de junho de 2022

Os primeiros números da safra 2022/23 de cana sugerem mais um ciclo de desafios para o setor, embora resultados e margens tendam ainda a favorecer aquelas usinas mais saudáveis e com melhor gestão. Os dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) mostram nova e intensa queda na moagem entre 1º de abril e 1º de junho deste ano em relação a igual período do ano passado, com baixas ainda na produção de etanol e de açúcar. Nesta safra, até o primeiro dia de junho, as usinas do Centro-Sul moeram 107,126 milhões de toneladas, frente a 130,445 milhões em igual período da safra passada, registrando tombo de 17,88%.

Num ano que tende a ser novamente mais “alcooleiro”, com 59,48% da cana destinada à produção de etanol, o volume produzido até então indicava baixa de 12,25%. Em 1º de abril e 1º de junho do ano passado, as usinas da região haviam produzido 5,896 bilhões de litros, reduzindo esse volume para 5,174 bilhões. A produção de açúcar, por sua vez, desabou quase 30% entre aqueles dois períodos, limitando-se a 5,051 milhões de toneladas neste ano, frente a 7,193 milhões no mesmo intervalo do ano passado. O volume de açúcares totais por tonelada de cana moída, da mesma forma, recuou quase 5,0%, saindo de 125,53 para 122,11 quilos.

Nos quatro primeiros meses deste ano, comparados ao mesmo período de 2021, as vendas de etanol hidratado caíram de 6,433 bilhões para 5,027 bilhões de litros, numa queda de 21,86%. Em Goiás, a queda foi menos intensa, mas ainda assim correspondeu a uma perda de 12,59%, com as vendas saindo de 519,614 milhões para 454,171 milhões de litros. Os aumentos mais recentes dos preços da gasolina, de toda forma, tendem a favorecer o combustível renovável, a depender ainda de variáveis diversas, a começar pelo comportamento da renda das famílias e dos níveis de ocupação e de desemprego.

Continua após a publicidade

Lucro (quase) em dobro

Posicionada entre as maiores usinas do País, a Cerradinho Bioenergia quase dobrou seu resultado líquido na safra 2021/22, terminada em março deste ano, elevou vigorosamente receitas e margens e incrementou os investimentos fixos, reduzindo o endividamento e ampliando a liquidez e geração de caixa. O lucro da usina, que tem sua principal operação concentrada em Chapadão do Céu (GO), saltou nada menos do que 93,8% ao sair de R$ 264,963 milhões no ciclo 2020/21 para R$ 513,615 milhões. Turbinada pelas vendas de etanol de cana e de milho, a receita líquida aumentou perto de 57,6% na mesma comparação, evoluindo de praticamente R$ 1,664 bilhão para algo em torno de R$ 2,623 bilhões.

Balanço

  • O lucro antes de impostos, custos financeiros, depreciação e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) avançou de R$ 635,540 milhões para R$ 1,076 bilhão, subindo 69,3%. Proporcionalmente, o Ebitda da operação com milho foi o que mais cresceu, variando 83,3% ao passar de R$ 192,656 milhões para R$ 353,215 milhões, com a margem nesta área mantendo-se ao redor de 34,0% (resultado da relação entre Ebitda e receita líquida). A maior contribuição para o avanço do Ebitda total, no entanto, veio da cana, com geração de R$ 722,533 milhões frente a R$ 442,884 milhões na safra anterior, o que representou variação de 63,1%, correspondendo a uma margem líquida de 45% – ligeiramente acima dos 42% registrados no ciclo 2020/21.
  • Embora a dívida líquida tenha registrado elevação de 13,8% na comparação entre as duas últimas safras, saindo de R$ 535,895 milhões para R$ 609,670 milhões, o nível de endividamento sofreu recuo, em função do aumento muito forte da geração de caixa medida pelo Ebitda. De fato, a relação entre dívida líquida e caixa caiu de 0,84 para 0,57 vezes. Colocado de outra forma, isso significa que o Ebitda gerado ao longo do exercício fiscal concluído em março deste ano foi 76,4% maior do que a dívida líquida da usina.
  • O crescimento da dívida, de toda forma, respondeu parcialmente ao maior nível dos investimentos em ativos fixos, que aumentou em torno de 55,1% entre as duas safras, passando de R$ 344,322 milhões para R$ 533,991 milhões. De acordo com a companhia, as obras de expansão da unidade da Neomille, em Chapadão do Céu, dedicada à produção de etanol de milho, continuam avançando e deverão demandar investimentos de R$ 285,0 milhões no total, dos quais perto de 40% foram desembolsados na safra 2021/22. A ampliação deverá ser concluída até dezembro deste ano e elevará a capacidade de moagem de milho de 570,0 mil para 820,0 mil toneladas, num avanço de quase 44%. A empresa investe ainda em torno de R$ 1,08 bilhão para instalação de outra planta de etanol de milho na região de Maracaju (MS), com capacidade projetada para 600,0 mil toneladas de milho e início de operação previsto para setembro de 2023.
  • Na contramão do restante do setor na região Centro-Sul, que reduziu a moagem em torno de 13,5% em comparação com o ciclo 2020/21, a CerradinhoBio conseguiu aumentar o volume de cana moída em 5,3%, saindo de 5,013 milhões para 5,277 milhões de toneladas. O volume de milho esmagado para a produção de etanol e coprodutos (como farelo e óleo de milho) cresceu 16,8%, saindo de 465,0 mil para 543,0 mil toneladas.
  • A produção de etanol total foi elevada de 647,0 milhões para 675,0 milhões de litros, numa variação de 4,4%, o que se compara com uma redução de 9,2% acumulada por todo o setor na região Centro-Sul.